O jornal americano The New York Times publicou no seu site gravações de telefonemas de soldados russos interceptados pela Ucrânia na região de Kyiv nas primeiras semanas da guerra, em março, que revelam desespero diante da falta de mantimentos e das baixas no campo de batalha e nos quais admitem crimes de guerra.
A publicação americana confirmou a autenticidade dessas ligações ao cruzar os números de telefone russos interceptados com aplicativos de mensagens e perfis de mídia social para identificar soldados e as pessoas para quem esses telefonemas foram feitos (familiares, namoradas e amigos). Por uma questão de segurança, o New York Times publicou apenas os primeiros nomes dos soldados.
No início da guerra, o Kremlin fez uma grande ofensiva na região de Kyiv, mas após tentativas frustradas de tomar a capital, decidiu concentrar seu esforço de guerra no leste e no sul da Ucrânia.
“[O presidente russo, Vladimir] Putin é um idiota. Ele quer tomar Kyiv. Mas não temos como fazer isso”, diz um soldado em uma das gravações. “Nossa ofensiva parou. Estamos perdendo esta guerra”, afirma outro.
O moral baixo em razão das mortes na guerra fica evidente em outros trechos. Um parente pergunta para um soldado chamado Yegor se houve baixas no seu regimento, e ele informa que “um terço” dos homens havia morrido.
Outro aponta que, de um grupo de 400 paraquedistas, apenas 38 sobreviveram. “Porque nossos comandantes estão mandando soldados para serem massacrados”, desabafa.
Depois que as tropas russas deixaram a cidade de Bucha, na região de Kyiv, no final de março, dezenas de corpos de civis foram encontrados. A Rússia acusou a Ucrânia de fazer uma “encenação”. Entretanto, os áudios agora divulgados mostram soldados admitindo crimes de guerra.
Um deles diz à namorada que ele e outros militares detiveram civis perto de um armazém das tropas russas, os despiram e revistaram suas roupas. “Então tivemos que decidir se deveríamos deixá-los ir embora. Se fizéssemos isso, eles poderiam informar nossa posição... então decidimos atirar neles na floresta”, descreve.
A namorada pergunta por que não mantiveram os civis como prisioneiros, e o soldado responde: “Teríamos que alimentá-los, e não temos comida suficiente nem para nós mesmos”.
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