"Timbuktu", o filme mais recente do cineasta Abderrahmane Sissako, da Mauritânia, está longe de ser uma comédia.No entanto, os invasores jihadistas do filme, que submetem a cidade do título à sua própria versão deturpada da sharia (lei islâmica), são não apenas opressores, como também bufões.
Embora adorem futebol, proíbem a prática desse esporte; proíbem o tabagismo, mas contrabandeiam cigarros. Apedrejam adúlteras até a morte e cobiçam as esposas de outros homens.
Suas regras são arbitrárias eintermináveis. Um jovem militante radical islâmico com um megafone, enfastiado com o catálogo de crimes que tem de recitar nas ruas, finalmente anuncia que o que é realmente proibido "é qualquer coisa antiga".
Para Sissako, mostrar como seu inimigo é ridículo o torna impotente. Mas diz que é igualmente importante, sobretudo para um artista humanista, representar o mundo como ele é talvez desafortunado, imbecil e hipócrita, mas também complicado.
"Mostrar um jihadista simplesmente como um homem mau, sem qualquer semelhança comigo e totalmente diferente, não é fidedigno", disse Sissako.
"O jihadista também é outras coisas" talvez até fã de futebol. "Ele também é um ser frágil. E a fragilidade é um elemento que pode fazer qualquer pessoa descambar para o terrorismo."
O filme, que recentemente foi indicado para o Oscar de melhor filme estrangeiro, é poético, tem imagens deslumbrantes e, como grande parte da obra de Sissako, elementos de fábula. As filmagens foram realizadas na Mauritânia, pois na época houve um ataque suicida com bombas em Timbuktu, no Mali.
Uma família que mora em uma tenda no deserto perto da cidade é tragada pela violência, não tanto devido ao contato direto com os fundamentalistas, como pelas tensões criadas pela repressão feroz, que inclui chicotear músicos, destruir obras de arte e realizar casamentos à força.
Embora Timbuktu seja um lugar remoto no imaginário ocidental, o filme tem sua importância política realçada pelos recentes ataques ao jornal satírico "Charlie Hebdo" e a um mercado kosher em Paris e pelos massacres do Boko Haram na Nigéria.
Mahen Bonetti, do Festival de Cinema Africano de Nova York, disse que "Timbuktu", que foi lançado no dia 22 de janeiro no Brasil, não faz julgamentos.
"Ele deixa os espectadores mergulharem naquela realidade e tomarem suas próprias decisões", comentou ela. "Embora tenha muitas nuances, o filme é simples o suficiente para todos poderem entendê-lo."
Essa parece ser também a opinião dos críticos. Stephen Holden, do "New York Times", o chamou de "um estudo incrivelmente belo e comovente sobre como uma cultura tribal enraizada é devastada por extremistas".
Sissako, que é muçulmano, disse ser importante que pessoas civilizadas parem de se sentir oprimidas pelo choque de culturas, unam-se apesar das diferenças e rejeitem a "aberração" da jihad.
Em uma das cenas mais memoráveis de "Timbuktu", meninos jogam futebol sem bola, na esperança de escapar da mão de ferro dos jihadistas. A ideia surgiu de proibições impostas pelos radicais islâmicos em Timbuktu ao esporte e a cantar.
"É impossível proibir esse tipo de coisa. Se você proíbe alguém de cantar, a pessoa vai cantar cantigas de ninar no ouvido do filho. "
Sissako explicou que decidiu filmar o jogo sem uma bola "para demonstrar resistência". "Isso era importante para mim, pois a arte deve ser otimista", concluiu.
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