Vice-presidente dos EUA, Mike Pence, está no Brasil. Na manhã de hoje, ele se reuniu com o presidente Michel Temer. | Foto: SERGIO LIMAAFP

O presidente Michel Temer e o vice-presidente dos EUA, Mike Pence, reuniram-se por cerca de uma hora no Palácio do Planalto nesta terça-feira (26). Ele entrou no Planalto pela porta lateral, ao som de uma música de ninar americana, tocada com um trompete por um dos poucos manifestantes que estavam no local, com placas com a frase "libertem nossas crianças".

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No início da reunião, aberta aos veículos de imprensa, Pence disse que os Estados Unidos também estão preocupados com a crise política na Venezuela. Ele expressou solidariedade pela situação dos refugiados e afirmou que apoia o Brasil no esforço de restaurar a democracia venezuelana.

"Nós somos muito agradecidos pela liderança do Brasil em meio à crise da Venezuela. Os Estados Unidos estão orgulhosos de oferecer ajuda e esforços", disse.

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Segundo ele, Washington e Brasília estão ligadas por fortes laços econômicos e por princípios como liberdade e democracia. "A relação dos Estados Unidos e Brasil atravessa gerações. Nós acreditamos que estamos juntos na promoção da liberdade", disse.

Temer disse a Pence que a Copa do Mundo da Rússia é hoje um evento que ocupa a atenção da sociedade e pediu aos Estados Unidos que torçam pelo Brasil.

"Os Estados Unidos não estão participando, mas há muitos apaixonados e fãs do futebol. Espero que se o Brasil chegar à final, os senhores possam torcer pelo nosso país", disse.

Em resposta, entre risos, ele disse que os Estados Unidos torcem hoje e torcerão amanhã pelo Brasil - em uma aparente alusão à Argentina, que enfrenta a Nigéria nesta terça (26) e precisa vencer para passar de fase.  

Na conversa, os principais temas foram a política de tolerância zero do governo Trump com imigrantes e o destino das crianças brasileiras detidas, a situação na Venezuela e os refugiados venezuelanos no Brasil, o acordo de salvaguardas tecnológicas que permitirá o uso pelos EUA da base de Alcântara (no Maranhão), a entrada do Brasil na OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) e as barreiras americanas ao aço e alumínio.

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A mulher de Pence, Karen Pence, iria visitar a igreja Santuário Dom Bosco e, depois, vai plantar uma árvore.

Pequeno protesto

O vice-presidente americano foi recebido por um grupo pequeno de manifestantes que tocavam música de ninar americana, uma alusão às crianças brasileiras detidas.

A advogada Josefina Serra e a motorista Godiva Félix foram para o gramado na frente do Palácio do Planalto com uma placa " Libertem nossas crianças".

"É um absurdo, essas crianças mantidas no cárcere", disse Josefina. " Eles tiraram crianças do peito das mães, crianças de colo", elas gritaram "Free our children" quando a comitiva de Pence passou.

Nenhuma das duas têm parentes nos EUA, mas disseram que precisavam manifestar sua indignação."Não dá pra gente ser só revolucionárias de Facebook", diziam, ao lado de outras quatro pessoas protestando.

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Uma carta antes do encontro

Há "inconformidade" da sociedade brasileira com a separação de crianças de seus pais na fronteira dos Estados Unidos, como consequência da política de "tolerância zero" do governo de Donald Trump com a imigração ilegal. 

É o que diz carta enviada pela subsecretária geral das Comunidades Brasileiras e de Assuntos Consulares e Jurídicos do Itamaraty, embaixadora Maria Dulce Barros, ao embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Michael McKinley, na última quinta-feira, dia 21. 

Ela diz que, apesar de a decisão norte-americana de separar famílias haver sido revertida, o assunto continua gerando "inconformidade e angústia" na sociedade brasileira. "Teme-se que os menores brasileiros que ainda se encontram nessa situação, muitos dos quais de tenra idade, estejam sofrendo trauma psicológico que poderá deixar sequelas graves ao longo de todas as suas vidas", afirma a embaixadora. 

"É interesse do governo brasileiro conhecer como será feita, a partir de agora, a reunião familiar, visto que os pais privados de liberdade encontram-se em presídios muitas vezes distantes do local de abrigo das crianças, bem como que cuidados lhes serão oferecidos". 

 

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A carta diz que o governo brasileiro tem consciência que as decisões dos EUA quanto à política migratória cabem a seus representantes eleitos. "Convém ressaltar, contudo, a expectativa de que, nas reformulações que venham a ocorrer, predomine a visão de solidariedade e generosidade que historicamente permeou os caminhos traçados pelo povo e pelos governantes norte-americanos em relação à matéria", conclui. 

De acordo com dados do Itamaraty, há 49 crianças brasileiras em abrigos nos Estados Unidos. Dessas, três teriam sido liberadas e entregues a familiares que vivem no país.