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Televisão em restaurante de NY mostra Gordon Sondland, embaixador dos EUA na União Europeia, em depoimento a comitê da Câmara dos EUA para inquérito do impeachment contra Donald Trump, 20 de novembro
Televisão em restaurante de NY mostra Gordon Sondland, embaixador dos EUA na União Europeia, em depoimento a comitê da Câmara dos EUA para inquérito do impeachment contra Donald Trump, 20 de novembro| Foto: Spencer Platt/ Getty Images/ AFP

O embaixador dos Estados Unidos na União Europeia, Gordon Sondland, fez o depoimento mais aguardado até o momento no inquérito de impeachment contra o presidente Donald Trump, em audiência pública nesta quarta-feira (20) na comissão de Inteligência da Câmara dos Deputados dos EUA.

Sondland implicou o presidente e outras altas autoridades no esforço de pressionar o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky. Ele deixou claro que Trump estava retendo ajuda militar e uma cobiçada reunião na Casa Branca até que Zelensky anunciasse investigações sobre o papel da Ucrânia nas eleições de 2016 e sobre o ex-vice-presidente Joe Biden e seu filho Hunter.

O testemunho de Sondland provavelmente acelera os movimentos dos democratas da Câmara para destituir o presidente e enviar a questão ao Senado para julgamento, embora, neste momento, as chances de condenação permaneçam distantes, a não ser que exista uma mudança significativa na opinião pública sobre o presidente.

Defesa prejudicada

Sondland é o mais recente de uma fila de testemunhas que disseram que qualquer esforço para pressionar um governo estrangeiro a investigar um potencial rival político é, no mínimo, impróprio, e talvez algo pior. Isso levanta a questão sobre se os republicanos, que se uniram com o argumento de que nada de impróprio aconteceu, agora modificarão essa posição de alguma maneira para reconhecer que o presidente cometeu irregularidades, enquanto argumentam que isso não constitui uma infração que deve ser punida com o impeachment.

No mínimo, Sondland derrubou algumas das defesas que os republicanos vinham oferecendo durante as audiências e fora da sala de audiências, particularmente com sua afirmação de que os termos que Trump estava exigindo de Zelensky para uma visita à Casa Branca equivaliam a um "quid pro quo", ou toma lá dá cá.

Ele narrou uma ligação telefônica de setembro, na qual o presidente disse que não estava pedindo um toma lá dá cá, uma ligação que os republicanos citaram repetidamente como prova de que Trump não estava buscando algo de Zelensky.

Mas Sondland ofereceu um pouco de contexto ao que havia sido dito antes sobre essa declaração do presidente. Ele explicou que, quaisquer que fossem as palavras do presidente, ele não sabia se Trump estava sendo sincero nessa breve conversa entre eles e, independentemente disso, ele ainda acreditava que havia um toma lá dá cá que estava retendo uma essencial ajuda militar e uma visita do presidente ucraniano a Washington.

O presidente Trump havia baseado sua defesa na transcrição aproximada de uma ligação telefônica a Zelensky, em 25 de julho, argumentando que não havia uma demanda explícita feita durante a conversa, que ele descreveu como "perfeita". Mas Sondland descreveu um esforço sistemático e de longa duração, dirigido por Trump e liderado pelo advogado pessoal do presidente, Rudy Giuliani, para deixar claro ao líder ucraniano o que estava sendo exigido dele para que ele obtivesse o que procurava do presidente.

"Seguimos as ordens do presidente", disse Sondland ao comitê de inteligência da Câmara.

Em vez de chamar isso de um esforço isolado de Giuliani ou uma ação do aparato diplomático e de segurança nacional do governo, Sondland disse que tudo isso era bem conhecido nos níveis mais altos do governo, em parte porque ele pessoalmente se comunicava regularmente com o secretário de Estado, Mike Pompeo, e outros sobre o que estava acontecendo.

"Todo mundo estava por dentro", disse ele.

Aliado de Trump

Ao contrário de muitos outros que deram seus depoimentos na semana passada, Sondland não faz parte da burocracia do ramo executivo. Ele é um próspero empresário que contribuiu com US$ 1 milhão para o comitê inaugural do presidente Trump e acabou como embaixador na UE. Nesse sentido, ele é um aliado do presidente e deve a Trump por colocá-lo onde está hoje.

O depoimento desta quarta-feira foi a terceira vez que ele ofereceu evidências ao inquérito de impeachment - uma vez a portas fechadas, depois em uma declaração escrita na qual ele revisou algumas de suas declarações originais. Na quarta-feira, ele disse, sua memória estava ainda mais refrescada pelo testemunho de outras pessoas e por uma revisão de alguns e-mails e mensagens de texto dele e de outros, embora ele tenha dito que o Departamento de Estado negou acesso a muitos de seus documentos.

Ele chegou à audiência desta quarta-feira diante de um dilema óbvio, que seria o risco de ser acusado de mentir ao Congresso, contestando significativamente os testemunhos que haviam ocorrido após suas declarações anteriores, ou contestando abertamente a versão dos eventos do presidente e, assim, arriscando a ira dos aliados do presidente assim como de muitos com quem ele atua no governo. Ele escolheu contestar o presidente.

A cada nova declaração ao comitê de inteligência, Sondland tem sido mais explícito sobre o papel do presidente. Isso culminou em sua aparição na quarta-feira. Mas o que tornou seu testemunho tão significativo foi que ele expandiu o círculo daqueles que, segundo ele, estavam cientes do que estava acontecendo. Ele disse que Pompeo, o vice-presidente Mike Pence, o chefe de gabinete da Casa Branca em exercício Mick Mulvaney e o ex-assessor de segurança nacional John Bolton estavam cientes do que estava acontecendo.

Se Sondland forneceu alguma salvação aos republicanos, foi seu reconhecimento de que Trump nunca lhe disse pessoalmente que estava exigindo investigações sobre 2016 e os Bidens em troca de uma reunião na Casa Branca ou o envio da ajuda militar. Mas ele disse explicitamente que ele e outros foram instruídos a seguir a liderança de Giuliani no trato com o novo governo da Ucrânia e, disse ele, que o ex-prefeito de Nova York estava pedindo uma contrapartida aos ucranianos - uma reunião na Casa Branca em troca de anunciar as investigações.

"Giuliani estava expressando os desejos do presidente dos Estados Unidos, e sabíamos que essas investigações eram importantes para o presidente", disse ele.

Mais tarde, disse, ele concluiu que a assistência militar aos ucranianos fazia parte desse toma lá dá cá.

Sondland discordou de aspectos dos depoimentos de outros funcionários do governo que criticaram o presidente. E algumas de suas afirmações foram contestadas por aqueles que segundo ele sabiam de tudo, inclusive por um porta-voz de Pence. Mas nenhuma dessas autoridades de níveis mais altos do governo identificadas por Sondland como cientes da campanha de pressão foi ouvida em depoimento sob juramento em uma sala de audiência aberta.

Isso inclui Giuliani, que era a pessoa de contato do presidente na Ucrânia, bem como Pompeo, que não se manifestou enquanto funcionários de carreira de seu departamento ofereceram testemunhos que descreveram a campanha de pressão que Sondland diz ter sido dirigida pelo presidente.

Trump tentou se distanciar do peso das palavras de Sondland, alegando que não conhecia bem o embaixador. No entanto, Sondland descreveu uma relação amigável e jocosa com o presidente, em que os dois usavam linguagem vulgar. "É assim que o presidente Trump e eu nos comunicamos, com muitos palavrões", disse ele.

Sondland também confirmou que conseguiu ligar para a Casa Branca em uma linha aberta de um restaurante em Kiev no dia seguinte a Trump ter conversado com Zelensky e falar diretamente com o presidente. Embora ele tenha dito que não conseguia se lembrar do conteúdo completo da conversa, ele não contestou outro testemunho de que disse ao presidente que Zelensky faria o que pedisse.

Se a investigação de impeachment da Câmara ouvirá alguém que tenha contato mais direto com o presidente sobre essas questões permanece uma questão sem resposta, dada a resistência deles até o momento. Sondland enfraqueceu significativamente os protestos de Trump e colocou os defensores republicanos do presidente em uma posição muito mais difícil.

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