Enfermeiras liberianas com roupas especiais transportam vítima do Ebola em região próxima de Monróvia, capital da Libéria| Foto: Ahmed Jallanzo/Efe

Opinião

Vírus nunca extrapolou fronteiras africanas e agora não será diferente

Crispim Cerutti Junior, chefe do Departamento de Medicina Social da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes)

O Ebola foi reconhecido pela primeira vez em 1976, na República Democrática do Congo (Zaire naquela época). Desde então, uma epidemia foi registrada em 1979 no Sudão e, após silêncio de quase duas décadas, uma série delas entre 1994 e 1996, no Gabão e na Costa do Marfim. No final desse período, a maior epidemia acometeu novamente a República Democrática do Congo, com 315 casos e 81% de letalidade. Em todas essas ocasiões, os estudos revelaram diferentes subtipos do vírus em circulação.

A doença tem um início abrupto, com febre, dores musculares e dor de cabeça. Logo após, surgem náuseas, vômitos, dor abdominal, diarreia, dor no peito, tosse e dor de garganta. Com o progredir da doença, podem se instalar sonolência, delírio e coma. Por fim, surgem as manifestações hemorrágicas, na forma de petéquias, equimoses, sangramentos de mucosas e dos locais de punção venosa. Por volta do quinto dia, aparece um exantema proeminente no tronco. Na segunda semana de doença, o indivíduo começa a melhorar ou morre.

A transmissão da doença se dá por contato com secreções e excreções do indivíduo acometido, propiciando a invasão do vírus pelas mucosas ou por pequenas feridas na pele.

Em condições precárias de assistência, a transmissão do vírus também pode se dar por partilha de agulhas ou acidentes com materiais perfuro-cortantes.

A atual epidemia é a maior de que se tem notícia, com um total de 1.711 casos registrados até o dia 4 de agosto, incluindo 932 mortes, ou seja, uma letalidade de 55%. Ela tinge quatro países: Libéria, Guiné, Serra Leoa e Nigéria. A novidade é a inclusão da Nigéria, um país populoso que não tinha sido atingido nas epidemias anteriores, embora, até o momento, apenas nove casos tenham sido detectados lá.

Apesar de graves, as epidemias de Ebola sempre permaneceram restritas ao continente africano e não há razão para supor que desta vez seja diferente. A prevenção da transmissão da doença por meio de viajantes está sendo feita a partir das barreiras de vigilância preconizadas pelo Regulamento Sanitário Internacional, do qual o Brasil é signatário. A doença é perfeitamente sensível, em termos de prevenção, à aplicação adequada das regras de biossegurança.

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A Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou ontem uma emergência de saúde pública de alcance mundial e convocou a comunidade internacional a se mobilizar contra a epidemia de Ebola no oeste da África.

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INFOGRÁFICO: Veja como está a situação do vírus na África

O comitê de urgência da OMS, que se reuniu na quarta e na quinta-feira em Genebra, "considera de forma unânime que estão dadas as condições" para declarar "uma emergência de saúde pública de alcance mundial", declarou a diretora-geral da organização, Margaret Chan.

Diante de uma situação que se agrava, "uma resposta internacional coordenada é essencial para conter e fazer retroceder a propagação internacional do Ebola", acrescentou o comitê.

A Nigéria se juntou ontem aos países em estado de emergência. Duas pessoas morreram até o momento no país em decorrência da doença.

"O controle do vírus Ebola na Nigéria é uma emergência nacional", declarou em um comunicado o presidente nigeriano Goodluck Jonathan. O governo nigeriano também aprovou um plano de intervenção especial e o desbloqueio imediato de 1,9 bilhão de nairas (11,67 milhões de dólares) para combater a doença na Nigéria, país mais populoso da África.

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A epidemia de Ebola, que já deixou desde o início do ano quase 1 mil mortos entre os mais de 1,7 mil supostos casos detectados, é a "maior e mais severa" em quatro décadas, ressaltou Chan.

A OMS não decretou quarentena nos países afetados — Guiné, Libéria, Serra Leoa e, em menor medida, Nigéria — para não agravar a situação econômica, mas pediu fortes medidas de controle.

Esse dispositivo de emergência é o terceiro da OMS depois do decretado em 2009 pela epidemia de gripe aviária na Ásia, e em maio pelo desenvolvimento da poliomielite no Oriente Médio.

Keiji Fukuda, vice-diretor-geral da OMS encarregado da epidemia, explicou que os atingidos precisam ficar 30 dias em quarentena. A incubação do vírus é de 21 dias.

As pessoas que estão em contato com os doentes — à exceção das equipes médicas, que têm uma roupa de proteção — não devem viajar, indicou Fukuda, pedindo também que a tripulação dos voos comerciais receba informações e material médico para se protegerem e protegerem os passageiros.

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Recomendação

Viajantes devem fazer check-up ao voltar da área afetada pelo vírus Ebola

O comitê da OMS recomenda que todos os viajantes procedentes dos países afetados façam um check-up nos aeroportos, portos e nos principais postos fronteiriços.

A Grécia está submetendo a exames um cidadão grego que trabalhou recentemente na Nigéria.

Já os resultados da análise feita em um passageiro isolado pelas autoridades de Uganda no aeroporto de Entebbe, com supostos sintomas do Ebola, deram negativo.

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Dois países em estado de emergência, Libéria e Serra Leoa, colocaram em quarentena três cidades na zona contaminada.

A Europa recebeu na quinta-feira um primeiro doente com Ebola repatriado, um missionário espanhol de 75 anos contaminado na Libéria, dias depois da repatriação aos EUA de dois pacientes americanos.