O emir do Catar, o xeque Hamad Bin Khalifa al Zanim, proporcionou, nesta terça-feira (23), um considerável respaldo ao governo do Hamas com a primeira visita oficial de um chefe de Estado à faixa de Gaza, governada pelo movimento islamita desde que tomou o poder, em 2007.
"É um grande dia. Gaza recebe um grande homem, um líder árabe e islâmico. É maravilhoso ter esta visita como a primeira de um líder árabe à Faixa de Gaza sob bloqueio", disse o primeiro-ministro do Hamas, Ismail Haniyeh, para quem a visita do xeque representa um triunfo diplomático.
"Com esta visita, declaramos oficialmente que o assédio político e econômico imposto a Gaza foi quebrado e desafiado", assegurou Haniyeh em um ato público realizado na cidade de Khan Yunes, no sudoeste da faixa.
Segundo ele, a viagem oficial pôde acontecer "apesar dos demônios que só querem ver Gaza se desintegrando, sob bloqueio e isolada de seus irmãos árabes e islâmicos".
Haniyeh agradeceu a presença do xeque no sitiado território ao príncipe e ao governo do presidente egípcio, Mohammed Mursi, por tê-la facilitado.
O xeque chegou à faixa por volta das 6h45 (horário de Brasília), acompanhado por sua esposa, a princesa Moza Bint Nasser, o primeiro-ministro catariano, Hamad Bin Jassim Al-Thani, e uma delegação de altos cargos egípcios e catarianos.
O xeque entrou em Gaza pelo cruzamento de Rafah, fronteiriço com o Egito e a única passagem não controlada por Israel, onde foi recebido por Haniyeh e uma delegação do Hamas, em cerimônia oficial com a participação da guarda de honra.
O emir chegou ao lado egípcio de Rafah em um helicóptero que saiu da cidade de Arish, na Península do Sinai, onde seu avião oficial aterrissou.
O Hamas reforçou a segurança nas principais estradas de Gaza e nos lugares onde o emir deve visitar durante a jornada, decorando os locais com bandeiras catarianas e mensagens de boas-vindas e agradecimento.
O tráfego foi interrompido nas principais vias da faixa para garantir a segurança do comboio real.
As autoridades pediram à população, através das mesquitas, que participasse da festa e saísse às ruas para saudar o príncipe Bin Khalifa al Zanim.
O dirigente catariano passará cerca de seis horas na faixa, onde irá se reunir com os dirigentes, inaugurar obras e visitar projetos de construção financiados pela cooperação do Catar.
O Catar tinha investido US$ 254 milhões em projetos na faixa, quantidade que foi elevada a US$ 400 milhões e que será destinada a reconstrução da estrada de Salahadin (a principal de Gaza), a construção de um hospital para deficientes e um bairro residencial na cidade de Khan Yunes, que levará o nome do emir.
A visita provocou fortes críticas na Cisjordânia, onde o governo do Fatah, liderado pelo presidente Mahmoud Abbas, considera que a visita serve para legitimar o Executivo islamita Hamas na faixa e aguçar a divisão palestina.
Desde que o Hamas tomou o poder no território, após expulsar as forças leais a Abbas em junho de 2007, Gaza e Cisjordânia mantêm dois governos separados que não colaboram entre si, e que, apesar da assinatura de diferentes acordos, não chegaram se reconciliar.
Fatah pediu boicote à visita e assegurou, em comunicado, que "buscar um poder político na região a custo do povo palestino, de seus direitos e de sua unidade, é inaceitável".
O comunicado acrescenta que a ajuda de cooperação aos palestinos não é nenhum presente, mas "um dever nacional e sagrado" e pede que seja administrado através da Organização para a Libertação da Palestina (OLP), que também é liderada por Abbas.
Dirigentes de outras facções, como a Frente de Resistência Popular e a Frente Popular para a Libertação Palestina também criticaram a visita, ao compartilhar a opinião que aguça a divisão política, especialmente quando a OLP trata de obter o reconhecimento à Palestina como Estado por parte da Assembleia Geral da ONU.
O chefe negociador palestino da OLP, Saeb Erekat, mostrou, por sua parte, esperança que "o emir do Catar faça esforços para convencer o Hamas a implementar o acordo de reconciliação assinado em Doha entre Abbas e o chefe do Hamas, Khalid Mashaal, para formar um governo de unidade que realize eleições".
A visita também gerou divisão entre a população, parte da qual acredita que a presença real catariana ajudará a romper o bloqueio a Gaza, enquanto outros consideram que representa um reconhecimento do governo do Hamas, que poderia levar aos islamitas a declarar Gaza um território independente da Cisjordânia.