Os Emirados Árabes Unidos lançaram nesta semana seu primeiro e autêntico super-herói de histórias em quadrinhos. Sua missão é promover a identidade nacional em um Estado dominado por estrangeiros no qual a população nativa pode se tornar minoria nos próximos 20 anos.
Um caldeirão cultural, a federação de sete Estados-membros, muito rica em petróleo, é vista como um oásis de prosperidade no tumultuado Oriente Médio. A capital Dubai é atualmente considerada a jóia da região.
Para a população local, no entanto, tantos avanços tiveram um preço.
Os estrangeiros continuam invadindo o país, transformando a demografia local e levando alguns analistas a um alerta: quem nasceu lá pode acabar se sentindo um estranho em sua própria terra.
E é nesse momento que "Ajaaj" entra em cena. O personagem foi criado pelo Watani, programa de desenvolvimento social dos Emirados Árabes Unidos que tem procurado explorar a cultura pop como uma maneira de atingir tanto nativos como estrangeiros.
Antigo personagem de ficção, "Ajaaj" - que significa "tempestade de areia" em árabe - foi recriado como um forte e jovem natural dos Emirados pronto para roubar a cena dos heróis ocidentais.
As histórias se passam nos Emirados Árabes do futuro, em 2020. "Ajaaj" faz parte dos esforços do programa Watani para "valorizar a identidade nacional e encorajar o sentimento de cidadania", explica o coordenador-geral Ahmad Obaid al-Mansuri.
De acordo com números oficiais, a população dos Emirados Árabes Unidos era de 4,1 milhões de pessoas no fim de 2005, das quais apenas 825 mil (21,9%) são árabes naturais dos Emirados. Os indianos formam o maior grupo, com 1,3 milhão de pessoas, seguidos por outras nacionalidades asiáticas, além de iranianos, árabes e ocidentais.
O inglês, e não o árabe, é o idioma mais comum. Os expatriados ocidentais se sentem tão à vontade que chegam a desrespeitar os costumes locais, incomodando e mesmo ofendendo a parcela muçulmana conservadora que também vive na região.
Por outro lado, os Emirados Árabes Unidos vêm crescendo rapidamente, e esses fluxos migratórios são úteis para suprir a demanda da construção civil com mão-de-obra barata.
O problema é que, se o ritmo atual for mantido, em 2025 o número de árabes nativos dos Emirados ficará reduzido a apenas 2% da população, disse ao jornal local Al-Ittihad o diretor do Centro de Estatísticas de Dubai, Aref al-Muhairi.
As preocupações da população nativa eventualmente chegam à imprensa local, em sua maior parte orientada pelo governo, que montou um comitê para combater o que vem sendo eufemisticamente chamado de "desequilíbrio demográfico". Mas as autoridades alertam: qualquer tentativa de "emiratização" de empregos deve obedecer às regras do mercado.
Apesar de ser uma discussão iniciada há décadas, analistas afirmam que o debate ainda não foi transformado em ações efetivas.
Um deles, o advogado e ativista dos Direitos Humanos Mohammad al-Roken, disse que os primeiros apelos por uma estrutura demográfica mais equilibrada foram feitos na década de 80, mas eram "puramente retóricos, prova de que na realidade as coisas têm se movido na direção oposta".
"Não devemos nos surpreender se daqui a dez anos chegarmos a um ponto no qual passe a ser aceito o fato de que essa sociedade não possui uma identidade específica, mas seja uma sociedade cosmopolita na qual a maioria dita as regras", disse à al-Roken à agência France Presse. "Já existe uma pressão no país para que a língua nativa seja abandonada em prol do inglês", afirmou.
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