A recessão deve causar a mais profunda queda nas emissões de gases do efeito estufa em 40 anos, segundo uma estimativa divulgada nesta segunda feira, enquanto líderes mundiais seguem rumo a Nova York para tentar romper o impasse sobre a formatação de um novo pacto climático global.
As emissões em todo o mundo de dióxido de carbono, principal gás resultante da ação humana causador do efeito estufa, vão cair cerca de 2,6 por cento em 2009, como resultado da queda da atividade industrial em todo o mundo, informou nesta segunda-feira a Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).
O mundo tem de aproveitar essa queda para conduzir uma luta global contra as mudanças climáticas em vez de permitir que as emissões cresçam novamente, como aconteceu em recessões anteriores, disse Fatih Birol, economista-chefe do IEA, em entrevista à Reuters.
"Esta queda nas emissões e em investimentos em combustíveis fósseis somente terá significado com um acordo em Copenhague, que envie um sinal para investidores na direção do baixo teor de carbono," disse ele, referindo-se à cúpula da ONU em dezembro na capita da Dinamarca.
O mundo se encaminha para definir em dezembro, em Copenhague, um novo e mais rígido pacto climático para substituir o Protocolo de Kyoto depois de 2012, mas as conversações ainda não conclusivas envolvendo 190 países e conduzidas pela ONU.
Na terça-feira, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, realizará uma reunião sobre mudanças climáticas com líderes mundiais na sede da ONU, em Nova York, para fazer deslanchar o processo de negociações.
As negociações estão estancadas na questão da divisão entre países ricos e pobres do quanto de emissões cada parte terá de reduzir até 2020 e, também, em como arrecadar talvez 100 bilhões de dólares por ano para ajudar as nações pobres a combaterem o aquecimento e se adaptarem às consequências das mudanças climáticas, como a elevação das marés e a desertificação.
Alguns especialistas expressaram dúvidas de que a recessão e a queda da produção industriam possam levar a um desenvolvimento mais sustentável.
"Quando os políticos falam sobre crise financeira, tudo que dizem se refere ao retorno do crescimento, o que significa emissões mais elevadas", comentou Paal Prestrud, diretor do Centro Internacional para Pesquisa em Meio ambiente e Clima, em Oslo.
"Temos de reduzir emissões de modo planejado para evitar problemas sociais, e não por meio da recessão", disse.
As emissões de carbono dos EUA vão diminuir 6 por cento este ano, informou a IEA duas semanas atrás, e as da Europa vão cair entre 4 e 5 por cento, disse à Reuters o analista Mark Lewis, da Deutsche.
Em contrapartida, as emissões de carbono e a produção industrial estão crescendo nos países em desenvolvimento, especialmente no maior emissor mundial de carbono, a China, mas o total do planeta vai se reduzir de modo geral, de acordo com a IEA.
"A maior queda (em cerca de 40 anos) foi em 1982, de 1,3 por cento, como resultado de problemas econômicos e preços do petróleo", disse Birol, da IEA. "Calculamos que este ano a redução será o dobro desse número", afirmou ele à Reuters.
"Examinamos país por país nos itens de consumo de energia elétrica, carvão, petróleo e gás no acumulado dos últimos oito meses e meio e estimamos o que poderia acontecer nos próximos três meses", explicou ele, referindo-se às análises da IEA de países membros ou não da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
De olho na China e nos EUA
Na cúpula de terça-feira as atenções se voltarão para a China e os EUA, principais emissores, responsáveis por mais de 40 por cento do total mundial, para ajudar no avanço das conversações em Copenhague.
O presidente chinês, Hu Jintao, deve apresentar na cúpula planos para o enfrentamento do aquecimento global. A especulação é de que ele definirá metas para contenção da "intensidade do carbono" -- a quantidade de emissões por unidade de produção econômica --, mas ficará aquém de cortes absolutos em emissões.
E o presidente norte-americano, Barack Obama, terá de convencer o restante do mundo de que os EUA estão sendo sérios na questão do corte de emissões, quando parece improvável que o Senado do país aprove legislação sobre clima até a conferência de Copenhague.
As conversações da ONU estão "perigosamente próximas do impasse", é o que o presidente da Comissão Européia, José Manuel Barroso iria dizer nesta segunda-feira, segundo trechos do discurso que faria em Nova York, no qual iria pedir às nações em desenvolvimento que façam mais para obterem apoio financeiro dos países industrializados.
"A conferência corre o risco de se transformarem em um amargo colapso, adiando as ações contra as mudanças climáticas talvez por anos", segundo o trecho do discurso.
O primeiro-ministro britânico, Gordon Brown, levantou a possibilidade de que a conferência de Copenhague, prevista para os dias 7 a 18 de dezembro, se transforme em uma cúpula de líderes mundiais.
"Se for necessário para fecharmos um acordo, irei pessoalmente a Copenhague e pedirei aos demais líderes que façam o mesmo," escreveu Brown esta semana em um artigo na revista norte-americana Newsweek.
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