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O presidente da França, Emmanuel Macron, reconheceu na terça-feira que as eleições antecipadas que convocou em junho trouxeram mais instabilidade ao país e, por isso, assumiu sua responsabilidade ao tomar essa polêmica decisão. “A lucidez e a humildade nos obrigam a reconhecer que, no momento, essa decisão produziu mais instabilidade do que serenidade, e eu assumo minha responsabilidade”, disse Macron em sua mensagem de ano novo ao povo francês.
A eleição resultou em uma Assembleia Nacional sem maiorias. O governo resultante, chefiado por Michel Barnier, só pôde ser formado em setembro, após muitas dúvidas, e durou apenas três meses, pois foi derrubado por uma moção de censura apoiada por todos os partidos de esquerda e pela direita nacionalista de Marine Le Pen. O primeiro-ministro seguinte, François Bayrou, está no cargo há pouco mais de uma semana e já enfrenta a complicada tarefa de implementar um projeto de orçamento em uma minoria parlamentar com demandas conflitantes da esquerda, da direita conservadora e da direita nacionalista. Por mandato constitucional, ele não pode convocar novas eleições até o próximo verão (entre junho e setembro no Hemisfério Norte) e não está claro se o novo governo estará em vigor até lá.
Essa é a primeira vez que Emmanuel Macron admite que sua decisão de convocar eleições antecipadas, que causou surpresa e incompreensão até mesmo em seu próprio bloco político, teve resultados mais negativos do que positivos. Ele explicou que dissolveu a Assembleia Nacional para “dar voz ao povo francês” e “evitar a imobilidade”. “Devo admitir que essa dissolução trouxe mais divisões para a Assembleia do que soluções para o povo francês”, declarou.
Macron também enfatizou a importância de a França continuar sua política de rearmamento, lançada após a invasão da Ucrânia pela Rússia, já que os problemas globais tornam necessário que o país seja “mais forte”. Ele citou como exemplos desses problemas os conflitos contínuos na Ucrânia e no Oriente Médio, mas também os eventos na Síria e as tentativas de manipular as eleições na Moldávia, Romênia e Geórgia a partir do exterior, embora não tenha apontado a Rússia como possível culpada.
Macron ataca acordo UE-Mercosul e elogia inclusão de aborto na Constituição
O presidente francês insistiu que “os europeus devem abandonar sua ingenuidade e dizer ‘não’ aos acordos comerciais ditados por outros”, em uma aparente alusão ao acordo UE-Mercosul, que Paris rejeita firmemente.
O discurso de quase 11 minutos incluiu imagens de dois grandes momentos que marcaram 2024 na França: os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos em Paris e a reabertura da catedral de Notre Dame após mais de cinco anos de trabalho, depois de um grave incêndio em abril de 2019. Ele disse que o ano que está terminando trouxe “momentos de grande orgulho”, como a inclusão do direito ao aborto na Constituição, ou os Jogos Olímpicos e Paralímpicos, que “fizeram vibrar um país unido”. “Com os Jogos e com a reconstrução de Notre Dame, mostramos que o impossível não é algo francês. Conseguimos porque estivemos juntos”, acrescentou.
Emmanuel Macron adiantou que, em 2025, os franceses poderão se pronunciar sobre “questões importantes”, em uma aparente alusão à possibilidade de convocar um referendo ou uma convenção de cidadãos.