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Alguém que você conhece vai cometer um ato de violência que matará muitos inocentes. A única maneira de impedir isso é matando essa pessoa. Ela está na sua frente e você tem a arma na mão. Você atira? A maioria das pessoas relutaria, porque a idéia de fazer mal a alguém diretamente é repulsiva. Cientistas descobriram, em um estudo divulgado nesta semana, que esse sentimento é extremamente importante na hora de resolver dilemas morais. Por causa dele, os seres humanos são neurologicamente incapazes de tomar decisões que beneficiem muitos, se elas forem sacrificar alguns.

Sempre que tomamos decisões para resolver um dilema moral, uma área do cérebro que controla a chamada "emoção social" é ativada. Os neurocientistas sempre se perguntaram se isso acontece porque os sentimentos afetam diretamente as decisões ou se eles são apenas uma conseqüência delas.

Para responder isso, pesquisadores de diversas universidades americanas, liderados pelo cientista português Antonio Damasio, estudaram um grupo de pessoas que tinham sofrido uma lesão nessa área do cérebro, chamada de "córtex ventromedrial pré-frontal" (VMPC). Se os sentimentos fossem uma simples conseqüência dos julgamentos morais, esses indivíduos deveriam tomar as mesmas decisões das pessoas saudáveis. Simplesmente, não sentiriam nada depois.

No entanto, o grupo surpreendeu por uma aparente "desumanidade" na hora de avaliar dilemas com alto nível de conflito social. Por exemplo, para salvar um grupo de pessoas, eles seriam capazes de sufocar um bebê. O que parece, à primeira vista, falta de compaixão, é, na verdade, a praticidade levada a seus níveis mais altos. Sem os sentimentos para "atrapalhar", as pessoas tomam a decisão lógica, que beneficia o maior número de pessoas, sem remorso –- mesmo que ela pareça fria.

"Por causa do dano cerebral, eles têm emoções sociais anormais na vida real. Falta empatia e compaixão", explicou, em nota, um dos autores do estudo, Ralph Adolphs, professor de psicologia e neurociência da Caltech. Segundo Antonio Damasio, é essa aversão ao ato de ferir outro ser humano que normalmente nos impede de machucar outras pessoas. Temos uma tendência a ter compaixão, porque nos colocamos no lugar do outro.

Não são todas as decisões que são afetadas por essa área do cérebro. Dilemas considerados "de baixo conflito social" (como desviar um carro desgovernado para cima de uma pessoa para evitar atingir outras cinco) são resolvidos da mesma maneira tanto por pessoas saudáveis, quanto por aquelas lesionadas. As diferenças só surgem quando uma ação considerada "repulsiva" é colocada em conflito direto com o melhor resultado.

"Aparentemente, respondemos rápido a questões de baixo impacto social. Mas quando a questão envolve um julgamento moral paramos para refletir antes de responder" explicou ao G1 o biólogo Alysson Muotri, do Instituto Salk, na Califórnia, que não participou do trabalho -- publicado na prestigiada revista científica britânica "Nature" desta semana. "Curiosamente, essa área cerebral parece fazer parte do sistema que o cérebro possui para avaliar o contexto emotivo antes de tomar uma decisão," diz ele

"Seria bem interessante discutir as razões evolutivas pra isso -- estaria relacionado com a organização social dos humanos?", questiona Muotri. "E verificar como essa região varia anatomicamente em diferentes indivíduos, se isso tambem tem relação com características humanísticas."

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