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 | Ko Sasaki/NYT
| Foto: Ko Sasaki/NYT

Localizado em um bairro industrial simples, rodeado por fábricas e armazéns, o escritório de Tóquio da Astroscale parece estar no lugar certo para uma empresa que pretende entrar no negócio de gestão de resíduos.

Só lá dentro os visitantes veem sinais de que seu fundador, Mitsunobu Okada, pretende ser mais do que um lixeiro comum: fotos de planetas decoram a porta da sala de reunião. Maquetes de satélites são vistas em um dos cantos. Okada cumprimenta os convidados usando uma camiseta azul escura estampada com o slogan da empresa: Limpadores do Espaço.

Ele é um empreendedor que teve visão para criar a primeira empresa de coleta de lixo dedicada aos dejetos de acesso mais difícil: pedaços de foguete, satélites inertes e outros detritos que se acumulam sobre a Terra desde que o Sputnik inaugurou a Era Espacial.

Okada começou a Astroscale há três anos acreditando que as agências espaciais nacionais não faziam muita coisa para enfrentar o problema, que poderia ser resolvido mais rapidamente por uma pequena empresa privada motivada pelo lucro.

“Vamos falar a verdade, a gestão de resíduos não é atraente o suficiente para uma agência espacial a ponto de convencer os contribuintes a investir. O grande lance é descobrir como transformar isso em um negócio”, diz Okada, de 43 anos, que instalou a sede da Astroscale em Cingapura, que recebe bem as startups, mas está construindo a nave em seu país, o Japão, onde há mais engenheiros.

Ao longo dos últimos 50 anos, a órbita baixa da Terra acabou tão cheia de detritos que cientistas e agências espaciais avisam sobre o perigo, cada vez maior, de colisões para satélites e naves tripuladas.

A Força Aérea dos EUA monitora hoje cerca de 23 mil pedaços de lixo espacial grandes o suficiente – com cerca de 10 cm ou mais – para serem detectados a partir do solo.

Os cientistas dizem que pode haver dezenas de milhões de partículas menores, tais como parafusos ou pedaços de refrigeradores de motor, que não podem ser reconhecidos da Terra. Mesmo as peças mais ínfimas percorrem uma determinada órbita em altas velocidades, o suficiente para transformá-las em projéteis potencialmente fatais. Em 1983, por exemplo, o ônibus espacial Challenger retornou à Terra com um pedaço minúsculo de lasca de tinta em seu para-brisa.

Empresário tem plano de duas etapas para ganhar dinheiro com a remoção de entulho

Há planos para deixar a órbita baixa mais cheia e mais essencial para as comunicações em nosso planeta. Empresas como a SpaceX e a OneWeb buscam criar novas e vastas redes de centenas ou mesmo milhares de satélites para fornecer conectividade de internet e cobertura de celular globais. O crescimento do tráfego aumenta o risco de colisões, que poderiam dificultar as comunicações, como o ocorrido em 2009, quando um satélite militar russo inativo se chocou com um satélite privado de comunicações dos Estados Unidos, causando breves interrupções para os usuários de telefone via satélite.

Pior, cada colisão cria uma nuvem de estilhaços, com potencial de desencadear uma sucessão de colisões que poderia inutilizar a órbita baixa.

“Se não começarmos a remover essas coisas, o ambiente se tornará instável. O volume de detritos só vai aumentar e isso poderá afetar a capacidade de operação de satélites”, disse William Ailor, pesquisador da Aerospace Corporation, centro de pesquisa e desenvolvimento financiado pelo governo federal na Califórnia.

Eis que surge Okada, ex-funcionário do governo e empresário de internet, que disse que uma crise de meia idade, há quatro anos, o levou de volta à sua paixão de infância pelo espaço. Na adolescência, em 1988, ele visitou o Alabama participar do Acampamento Espacial do Space and Rocket Center em Huntsville, e mais tarde decidiu frequentar a escola de Administração da Universidade de Purdue, local onde seu herói, Neil Armstrong, estudou.

Mais tarde, percebeu que poderia usar sua experiência no mundo das startups – ele havia fundado uma empresa de software em 2009 – para começar na área de detritos espaciais.

“Todos os projetos tinham um dedo do governo, e eram lentos e pouco inovadores”, disse ele sobre as conferências que frequentou para saber mais sobre trabalhos nessa área. “Eu vinha do mundo das startups onde pensamos em dias ou semanas, não anos.”

Ele conta que criou um plano de duas etapas para ganhar dinheiro com a remoção de entulho. Primeiro, a Astroscale planeja lançar um satélite de mais de 20 quilos, chamado IDEIA OSG 1, no ano que vem, utilizando um foguete russo. A nave levará painéis que podem medir o número de colisões de detritos de até menos de um milímetro. A Astroscale usará esses dados para compilar os primeiros mapas detalhados da densidade de detritos em diferentes altitudes e locais, que podem então ser vendidos para operadores de satélite e as agências espaciais, disse Okada.

“Precisamos conseguir dinheiro na fase inicial, mesmo antes de fazer a remoção de entulhos de fato, para provar que temos potencial comercial enquanto negócio”, disse Okada, acrescentando que já havia levantado US$ 43 milhões de investidores.

O passo mais ambicioso virá em 2018, quando a Astroscale vai lançar uma nave chamada ELSA 1. Maior que sua antecessora, ela será carregada com sensores e jatos de manobra que lhe permitirão monitorar e interceptar um pedaço de dejeto.

A companhia se decidiu por uma abordagem leve e simples para capturar os detritos espaciais: cola. A Astroscale trabalhou com uma empresa química japonesa para criar um adesivo que cubra uma superfície plana do tamanho de um prato no ELSA 1. A nave esbarraria então em um pedaço de lixo espacial que ficaria colado a ela e seria arrastado para fora da órbita. Tanto o ELSA 1 quanto os detritos seriam incinerados na reentrada.

Okada disse que a chave para derrubar o preço de dezenas ou mesmo centenas de milhões de dólares é reduzir o peso. Ele contou que o adesivo do Elsa 1 pesaria apenas alguns gramas, muito menos do que, digamos, um braço robótico de 50 kg, e que engenheiros da sua empresa encontraram formas de manter o peso da nave em até 100 kg, tornando-a muito mais leve que outras propostas.

“Nos EUA, os engenheiros aeroespaciais estão mais interessados em trabalhar nas missões de Marte, não em gestão de resíduo. O Japão não tem tantas missões espaciais interessantes, por isso os engenheiros ficaram animados com minha ideia.”

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