A fúria popular chinesa contra o Japão, movida pela disputa em torno das ilhas Senkaku, levou empresas japonesas a anunciarem ontem a suspensão temporária de operações na China para garantir a segurança de seus funcionários. A decisão evidencia a escalada do confronto entre as duas maiores economias asiáticas na briga pela soberania do arquipélago, chamado de Diaoyu pelos chineses. Entre as companhias que anunciaram paralisação estão grandes símbolos do poder econômico japonês, como Honda, Panasonic, Nissan e Canon.
O fim de semana foi marcado por protestos em dezenas de cidades chinesas e a violência poderia voltar a explodir amanhã, aniversário da ocupação militar de parte da China pelas tropas imperiais japonesas em 1931. A guerra ainda hoje alimenta o sentimento antinipônico e a questão das ilhas reabriu feridas antigas.
O porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da China, Hong Lei, afirmou que seu governo garantirá a segurança dos cidadãos japoneses e exigiu que os manifestantes respeitem a lei, mas responsabilizou o Japão pelos choques.
Na semana passada, o governo japonês comprou o pequeno conjunto de ilhas no Mar da China Oriental, reivindicado por Pequim. A manobra, interpretada como uma nacionalização, enfureceu o Partido Comunista. As ilhas inabitadas, controladas pelo Japão desde 1895 e localizadas numa área rica em recursos naturais, pertenciam a uma família japonesa.
Pressão
Cerca de mil barcos pesqueiros chineses se encaminhavam ontem para as águas em torno das ilhas disputadas, elevando a tensão no Pacífico.
Na sexta-feira, o país já havia anunciado o envio de seis embarcações de patrulha à região. Fontes do governo japonês afirmam estar estudando aumentar a presença da guarda costeira na região em resposta ao movimento. O grupo Panasonic afirmou que uma de suas fábricas foi sabotada por trabalhadores chineses e fechou três unidades. A Canon paralisou a produção em três de suas quatro fábricas na China. A Honda e a Nissan suspenderão as operações por dois dias e unidade da Mazda em Nanjing fechará por quatro dias.
A Fast Retailing, que administra a Uniqlo, maior cadeia de lojas de roupa da Ásia, fechou algumas lojas.
Os protestos violentos tiveram como principal foco as representações diplomáticas japonesas, mas o ódio nacionalista também levou à destruição de restaurantes, supermercados, lojas e concessionárias, atingindo marcas como Toyota e Shiseido. A gigante Hitashi aconselhou seus funcionários a não falar japonês nas ruas. Em pânico, cidadãos japoneses estão evitando sair de casa. A All Nippon Airways (ANA), do Japão, está cancelando parte dos voos para a China. Escolas japonesas em Pequim e Xangai estão fechadas e a imprensa do Japão relata ao menos seis episódios de agressão a cidadãos do país.
Mergulhada numa sucessão que mudará a liderança do PC em outubro, a China não quer demonstrar fraqueza. E o premier japonês, Yoshihiko Noda, também enfrentará eleições antes do fim do ano.
"Nenhum lado pode mostrar que cederá", diz o professor da Universidade de Tóquio Akio Takahara, especialista em política chinesa.