O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, vão realizar uma cúpula em 16 de julho na Finlândia, conforme anunciou a Casa Branca nesta quinta-feira (28).
O encontro sinaliza uma crescente aproximação entre os os dois países. Trump e Putin têm buscado promover um encontro face a face na esperança de aliviar as tensões sobre a interferência da Rússia na eleição presidencial dos EUA em 2016 e a anexação da Crimeia, na Ucrânia, apesar das medidas de retaliação tomadas por ambos os governos este ano.
Trump tuitou na manhã de quinta-feira que "a Rússia continua dizendo que não tem nada a ver com a intromissão em nossas eleições!".
Os planos para a cúpula foram finalizados na quarta-feira pelo conselheiro de segurança nacional John Bolton, que realizou uma maratona em Moscou, incluindo conversas com o próprio Putin no Kremlin.
A cúpula, a primeira oficial desde que Trump tomou posse no começo de 2017, ocorrerá um dia depois da partida final da Copa do Mundo da Rússia, que será assistida por Putin. Ambos os líderes se encontraram no ano passado às margens de uma reunião do G20 e, segundo o russo, se falam com regularidade.
A escolha da Finlândia, que havia se oferecido para sediar o evento, obedece a uma lógica. O país nórdico é parte da União Europeia e adota o euro como moeda, mas não é membro da Otan, a aliança militar liderada pelos EUA que é vista como maior adversário estratégico pelos russos. A Áustria, que também havia oferecido Viena para a cúpula, também atende a esse critério.
O que está em jogo
O encontro é visto com apreensão pelos aliados ocidentais de Trump. No último encontro de alto nível que o americano participou, a reunião do G7 no Canadá, o presidente se indispôs com o anfitrião e foi embora sem assinar a declaração conjunta do grupo. Naquela ocasião, também defendera que Moscou fosse readmitida no grupo.
Trump tem seus problemas com a Rússia desde que surgiu a suspeita de que hackers do país de Putin atrapalharam a campanha da adversária do republicano na campanha eleitoral de 2016, Hillary Clinton, vazando e-mails do Partido Democrata. O próprio presidente russo já disse que esse é o principal motivo para a relação entre os dois países estar num dos piores níveis da história do pós-Guerra Fria.
Há outros fatores, na verdade. Os EUA sancionaram aliados e empresas ligadas ao Kremlin desde que Moscou anexou a Crimeia da Ucrânia, em 2014. A crise causada pela acusação de envenenamento de um ex-espião russo na Inglaterra, com expulsões de diplomatas de lado a lado, foi seguida por mais sanções.
Os americanos também foram ultrapassados pelos russos no protagonismo das ações na Síria, país convulsionado por uma guerra civil desde 2011. Além de salvar a ditadura local, Putin reforçou sua aliança com o Irã ao coordenar ações militares no país árabe com Teerã. Isso o antagonizou com Trump, que abandonou o acordo multilateral que suspendeu o programa nuclear dos iranianos.
Leia também: Putin quer aumentar influência russa no Oriente Médio enquanto acirra briga com o Ocidente
A questão ucraniana segue não resolvida, com escaramuças pontuais no leste do país, dominado por duas "repúblicas populares" de russos étnicos. Ela se insere na disputa maior da Rússia com a Otan, entidade que o Kremlin não quer ver adicionando mais um vizinho estratégico, como Kiev já sinalizou desejar.
Degeneração de relações à parte, Putin tem razão quando cita a disputa interna americana como motivo para uma hostilidade maior em relação à Rússia. Qualquer passo em falso de Trump nessa seara será explorado à exaustão pela oposição democrata.