Tony Blair, o primeiro-ministro britânico, provocou indignação nesta terça-feira ao declarar que a substituição das envelhecidas usinas nucleares britânicas está de volta à agenda devido ao aquecimento global e à crescente dependência de energia importada.

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Ambientalistas disseram que o discurso feito a líderes empresariais mostra que Blair decidiu apoiar a energia nuclear, antes mesmo de o seu governo terminar uma revisão da estratégia energética do país.

- Esses fatos colocam a substituição das usinas nucleares, um grande impulso nas (energias) renováveis e um passo de eficiência energética, incluindo tanto empresas quanto consumidores, de volta à agenda com uma vingança - disse Blair à Confederação da Indústria Britânica.

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Esses comentários, em meio a um abrangente discurso sobre globalização, educação, previdência e reforma do setor público, ocorreram depois de uma reunião privada com o ministro da Energia sobre os avanços da revisão energética a ser concluída até julho.

As usinas nucleares fornecem cerca de 20% da energia consumida na Grã-Bretanha.

Mas todas, exceto uma, devem fechar até 2025, assim como várias das antigas usinas a carvão. Juntas, elas representam o fechamento de cerca de um terço da capacidade geradora.

Ambientalistas já vinham se queixando de que a revisão energética seria um pretexto para a decisão, segundo eles já tomada secretamente por Blair, de construir novas usinas nucleares.

- Cada vez mais parece que a consulta de energia foi uma completa farsa. É claro que Tony Blair está obcecado com a energia nuclear e está determinado a supervisionar uma nova geração de reatores nucleares - disse Tony Juniper, diretor da ONG Friends of the Earth.

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Além de esvaziar a revisão energética, o discurso de Blair ocorre antes que surja uma decisão sobre o que fazer com o lixo nuclear existente, e a meses de um importante relatório do Tesouro sobre os custos econômicos das alterações climáticas.

O problema do governo não é só energético. Em março, ele admitiu que não deve cumprir sua meta de redução das emissões de dióxido de carbono, principal responsável pelo aquecimento global, em 20% até 2010. Além disso, o preço da energia vem subindo, pois há cada vez mais dependência da importação.

- Nós nos tornaremos fortemente dependentes do gás e ao mesmo tempo passaremos de 80-90 por cento de auto-suficiência para 80 a 90% de dependência das importações de gás, especialmente do Oriente Médio, da África e da Rússia - disse Blair.

O primeiro-ministro, que enfrenta baixa popularidade e pressão do seu Partido Trabalhista para renunciar, está ciente da arraigada oposição dos trabalhistas à energia nuclear.

Mas foi inflexível: "Se não tomarmos essas decisões de longo prazo agora, acredito que estaremos cometendo uma grave negligência com o futuro do país".

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A maioria dos cientistas atribui o aquecimento global à queima de combustíveis fósseis, como o petróleo, e alertam que o fenômeno provocará inundações, epidemias e ondas de fome.

Defensores da energia nuclear vêem nela o modelo do futuro, por não emitir carbono como o petróleo e o carvão.

Os ambientalistas, porém, afirmam que se trata de uma energia "suja", cara e perigosa, e que a solução está em energias renováveis, como a solar, eólica e das ondas, além da busca por uma maior eficiência energética.

- A energia nuclear representa uma verdadeira ameaça terrorista, custa uma quantia estúpida de dinheiro, não ajuda na luta contra a alteração climática e certamente não vai preencher a lacuna energética - disse Stephen Tindale, do Greenpeace. - Colocar esse risco de volta na agenda é de uma incompetência imprudente.