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Enfermeiro dirige entre chamas para salvar vidas na Califórnia e ganha nova picape

O “Pandra” do enfermeiro americano Allyn Pierce após ser usado para evacuar hospital durante incêndios da Califórnia | Reprodução / Instagram
O “Pandra” do enfermeiro americano Allyn Pierce após ser usado para evacuar hospital durante incêndios da Califórnia (Foto: Reprodução / Instagram)

No momento em que Allyn Pierce chegou ao seu trabalho, na quinta-feira (8) de manhã, o céu em Paradise, na Califórnia, era de um assustador tom de laranja queimado, sufocado pela neblina. Um incêndio havia começado na área horas antes, e as chamas estavam cortando a cidade do Condado de Butte em um ritmo alarmante. Agora, às 8 da manhã, elas estavam ameaçando o hospital Adventist Health Feather River, onde Pierce trabalhava como enfermeiro e gerente da UTI.

Pierce e sua equipe rapidamente se esforçaram para ajudar as dezenas de pacientes do hospital a evacuarem de ambulância. Às 9h30, ele e dois colegas estavam entre os últimos a evacuar. Eles entraram em sua caminhonete Toyota Tundra branca e seguiram para o sul por menos de uma milha, depois para leste. 

Pierce havia comprado a Tundra no ano anterior e passou muitos fins de semana relaxantes modificando o que chamou de sua “caminhonete dos sonhos”. Meses depois, ostentava rodas e pneus maiores, uma suspensão melhorada, uma nova grade e um imponente rack sobre o automóvel. Um recorte de metal de um panda, soldado ao veículo, dava a dica sobre o apelido da caminhonete: “O Pandra”. 

Agora Pierce estava contando com o “Pandra” para levá-lo em segurança para fora de uma cidade em chamas. 

Ele logo se viu parado, preso em uma fila de veículos, enquanto as chamas consumiam a floresta dos dois lados da estrada Pearson. Um veículo abandonado em chamas o bloqueava à esquerda. 

Em um esforço para acalmar seus passageiros, Pierce colocou a trilha sonora de “Deadpool 2”, pulando a música “Ashes” (Cinzas) de Celine Dion – “Eu falei, OK, não vamos ouvir essa” – e escolhendo “In Your Eyes”, de Peter Gabriel, que eles cantaram junto. 

Por dentro, no entanto, Pierce estava em pânico. 

“Eu estava calmo porque sou enfermeiro e é isso que fazemos”, disse Pierce ao The Washington Post em uma entrevista por telefone. “Mas eu estava apavorado... realmente achei que ia morrer”. 

Ao redor deles, a fumaça ficou mais espessa até que mal conseguiam ver os contornos de um caminhão de bombeiros parado à direita. Os dois colegas de Pierce se apressaram em buscar refúgio junto aos bombeiros, que colocaram cobertores de proteção sobre as janelas. (“Foi quando eu soube que a situação era ruim”, disse Pierce). 

De volta ao hospital

Pierce se abrigou em seu amado Pandra, sozinho. Ao longe, ele podia ouvir tanques de propano explodindo; ele assistiu carros pegando fogo ao redor dele, “como se fossem de madeira ou algo assim”. O céu neste momento tinha mudado de um vermelho furioso para quase um cinza neon, enquanto chamas atingiam as laterais de sua caminhonete. 

Pierce tentou usar sua jaqueta como um escudo para o calor opressivo. Ele gravou um pequeno vídeo de despedida para sua esposa e dois filhos, depois embrulhou o celular em qualquer coisa que ele conseguiu encontrar na fraca esperança de que não seria danificado pelo incêndio. Então ele esperou. 

Um som inesperado o sacudiu em seguida. 

“Esse trator apareceu do nada”, disse Pierce, “e tirou do caminho a caminhonete que estava em chamas ao meu lado”. 

Atordoado, Pierce saiu do seu lugar – e fez a volta para retornar ao hospital. Até hoje, ele não sabe exatamente por quê, embora acredite que o fato de sua família já ter saído da cidade naquela manhã tenha melhorado a sua capacidade de pensar com mais clareza. 

Para sua surpresa, o hospital ainda estava de pé, cerca de uma hora depois de sua evacuação inicial. Além disso, algumas dúzias de bombeiros, policiais e outros funcionários de emergência se reuniram lá e estavam cuidando de pacientes recém-chegados da área. 

Pierce e outros entraram no hospital para coletar suprimentos e estabelecer uma área de triagem do lado de fora. Logo, o estacionamento se assemelhava a uma sala de emergência, com alimentos, bolsas de soro, macas, cadeiras de rodas e uma área de espera. 

“Essa parte foi fácil”, disse Pierce. “É para isso que treinamos”. 

Durante várias horas, o grupo atendeu pacientes que sofriam desde inalação de fumaça até problemas mais sérios. Em certo momento, o próprio hospital pegou fogo e eles tiveram que mover as operações para mais longe, no heliponto. Por volta das duas da tarde, os bombeiros disseram que as estradas estavam mais uma vez liberadas e que poderiam tentar evacuar uma segunda vez. 

Trabalho em conjunto

“Minha verdadeira lição disso tudo foi ver como todos trabalharam juntos”, disse Pierce. “Foi uma completa falta de ego. Não houve nenhuma discussão”. 

Pierce voltou para sua caminhonete e, desta vez, viajou para o sul do hospital. A segunda caravana conseguiu sair da cidade sem problemas. 

Quando ele se reuniu com sua família, seus filhos estavam em lágrimas. 

“Eles estavam correndo para o caminhão e chorando”, disse Pierce. “Eles não sabiam como eu estaria”. 

Só mais tarde Pierce pôde examinar em detalhes os danos ao seu veículo: o calor havia soldado uma das portas traseiras até que ela ficou fechada. As tampas dos faróis traseiros ficaram parcialmente derretidas – embora as luzes em si ainda estejam funcionando. Partes do capô ficaram deformadas, e as portas brancas que antes estavam polidas agora estavam carbonizadas em um gradiente, com a aparência de marshmallow tostado. 

Pierce postou uma foto do veículo no Instagram e, fazendo piada, adicionou a hashtag #perfectmarshellow

“Esta caminhonete literalmente salvou minha vida hoje”, escreveu Pierce na legenda. “Minha pequena cidade de Paradise estava literalmente queimando ao meu redor e @the_pandra me levou a um lugar seguro onde eu pude ajudar os outros... duas vezes.” 

Dias depois, a conta oficial da Toyota USA respondeu a Pierce no Instagram e disse que eles ficariam “honrados” em dar a ele uma novíssima picape Tundra. 

“Descobrimos a história nas redes sociais no fim de semana”, disse a porta-voz da Toyota, Nancy Hubbell, ao Washington Post. “Rapidamente chegamos à conclusão de que precisávamos substituir a caminhonete. Ele foi um herói e precisávamos fazer isso”. 

Pierce sabe que dispensar o rótulo de “herói” é quase tão clichê quanto ser chamado de um, mas ele é rápido para dar os créditos à equipe com quem trabalhou. 

“Todo mundo está nos chamando de heróis. Eu não vou recusar, eu só não quero ser o único apontado como um herói”, disse Pierce. “Eu estava com tantas pessoas maravilhosas, simplesmente incríveis. Foi fantástico fazer parte disso”. 

Embora Pierce diga que sua família tem a sorte de ter familiares em áreas vizinhas com quem ficar, seu coração está pesado com a destruição total de sua cidade e por aqueles que ainda precisam de ajuda. 

Até a quarta-feira, 48 pessoas haviam morrido no Camp Fire, que é considerado o mais letal incêndio na história da Califórnia. Autoridades esperam que esse número aumente, enquanto vasculham as ruínas que o fogo deixou para trás em sua passagem por Paradise. 

“Começou como um belo dia ensolarado, e então tudo virou um inferno”, disse Pierce. “Eu acordo de manhã destruído às vezes. Eu vou dormir e vejo fogo. Estou pronto para que isso acabe”.

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