A Tunísia é conhecida como o único país em que as revoluções da chamada Primavera Árabe foram bem-sucedidas em conquistar a democracia. Agora, uma década após os protestos populares, o país norte-africano passa por sua pior crise política e a sua frágil democracia é colocada à prova.
No domingo (25), o presidente da Tunísia, Kais Saied, demitiu o primeiro-ministro Hichem Mechichi e suspendeu o parlamento do país, o que foi denunciado como um golpe por seus oponentes. Saied também retirou a imunidade dos parlamentares.
As decisões foram tomadas após um dia de tumultos e protestos contra o principal partido do país, o movimento Ennahdha, alimentados pelo descontentamento da população com a crise econômica agravada pela pandemia.
Conheça os fatos que antecederam a atual crise:
Outubro de 2019
Eleitores descontentes com a situação da Tunísia e insatisfetios com os partidos tradicionais elegem um parlamento fragmentado. O partido Ennahdha ganha a maioria dos assentos, mas fica distante dos 109 necessários para governar. Em seguida, Kais Saied, um acadêmico sem experiência política que concorreu como independente, é eleito.
Janeiro de 2020
Após meses sem formação de governo, Elyes Fakh-fakh se torna primeiro-ministro em janeiro de 2020, mas é retirado do cargo após um escândalo de corrupção.
Agosto de 2020
Saied nomeia Hichem Mechichi como primeiro-ministro.
Janeiro de 2021
Em janeiro deste ano, quando a Tunísia comemorava dez anos da Revolução da Dignidade - como é chamada a Primavera Árabe no país - cidades tunisianas tiveram uma onda de protestos, motivados pelo impacto da pandemia na economia do país, que já estava em crise, e por denúncias de violência policial. Os cidadãos também estavam frustrados pela falta de reformas econômicas, que foram complicadas pela pandemia, mas também por uma sucessão de governos, alguns de curta duração - foram nove governos em uma década.
24 de julho de 2021
No sábado (24), manifestantes fizeram um novo protesto contra o governo e o maior partido no parlamento, o Ennahdha, após uma alta nos casos de Covid-19 e a continuidade da crise econômica.
25 de julho de 2021
Na noite de domingo, o presidente Kais Saied disse em comunicado que estava invocando a constituição para demitir o primeiro-ministro Hichem Mechichi e decretar a paralisação do parlamento por 30 dias, e que iria governar com um novo premiê. Ele disse ainda que pode prorrogar a suspensão do parlamento "até que a situação se acalme".
O presidente tunisiano também demitiu o ministro da Defesa, Ibrahim Bartagi, e a ministra interina da Justiça, Hasna Ben Slimane.
Após o anúncio de Saied, muitos se reuniram na capital, Túnis, e em outras cidades em apoio à decisão do presidente, enquanto militares bloqueavam o parlamento e a televisão estatal.
26 de julho de 2021
Na manhã desta segunda-feira, o presidente do Parlamento tunisiano, Rached Ghannouchi, chegou ao parlamento afirmando que convocaria uma sessão, desafiando a ordem do presidente, mas militares impediram a entrada dele na Câmara.
Ghannouchi, que é líder do Ennahdha, condenou as ações como um "golpe" e um ataque à democracia. O político convocou a população a sair às ruas, como fizeram em 2011, para condenar as decisões do presidente. "Eu me oponho a qualquer concentração de poderes nas mãos de uma só pessoa", afirmou em frente ao parlamento.
Houve confronto entre apoiadores do partido Ennahda e apoiadores do presidente em frente ao parlamento, que foram controlados pela polícia.
Mechichi disse, na noite desta segunda-feira, que entregará o poder à pessoa nomeada por Saied para o cargo de primeiro-ministro, afirmando que não quer ser um "elemento desestabilizador".
Saied respondeu àqueles que o acusaram de golpe em um vídeo postado nesta noite. Ele os mandou "revisar as lições sobre constituição" e disse que "não temos problemas com homens de negócios". Saied argumenta que suas decisões foram baseadas no artigo 80 da constituição, que trata de medidas de emergência em casos de ameaças à segurança do país.
No entanto, segundo análise de especialistas na imprensa internacional, o artigo não autoriza o presidente a dissolver o parlamento.
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