Desde que venceu o referendo revogatório de seu mandato, em 10 de agosto deste ano, o presidente boliviano, Evo Morales, viu a oposição ampliar as manifestações que já vinha fazendo contra seu governo. Grupos das regiões mais ricas do país, a chamada 'meia-lua' (departamentos de Beni, Pando, Tarija e Santa Cruz), exigem a devolução de uma porcentagem do Imposto dos Hidrocarbonetos, usado pelo governo para um programa de previdência social.
Eles também querem autonomia administrativa, que foi votada e aprovada em referendos no começo deste ano. Os opositores ainda rejeitam a nova Constituição de cunho estatizante e afirmam que seu projeto foi aprovado sem a presença da constituição.
Explosão de gasoduto Nesta quarta-feira (10), o presidente da estatal Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB), Santos Ramírez, disse que a exportação de gás natural da Bolívia para o Brasil será reduzida em 3 milhões de metros cúbicos - ou 10% dos atuais 30 milhões que são exportados por dia - por causa da explosão de um gasoduto no departamento de Tarija, no sul da Bolívia.
Segundo o governo, a explosão foi provocada em um atentado terrorista atribuido 'aos opositores do presidente Evo Morales', que promovem uma série de atos contra o governo ao longo das três últimas semanas.
Santos Ramírez atribuiu o atentado a grupos de "paramilitares, fascistas e terroristas", supostamente organizados pelas forças opositoras.
Os manifestantes também ocuparam, de maneira não violenta, a indústria petrolífera da empresa Chaco e fecharam as válvulas de bombeamento, disse o gerente de Relações Institucionais da empresa, Juan Callaú.
De acordo com fontes do setor de energia, a explosão teria ocorrido em um tubo de 32 polegadas entre os campos de San Alberto e San Antonio, de onde sai a maior parte do gás consumido em São Paulo, que é o maior mercado do gás boliviano.
Grupos civis invadiram e saquearam na terça pelo menos cinco edifícios públicos e atacaram dois meios de comunicação do governo. Em Tarija, os enfrentamentos continuaram nesta quarta-feira (10), e a cidade está praticamente paralisada pelos confrontos. Em vários pontos, há bloqueios de estradas.
O governo da Bolívia acusou os grupos cívicos de direita de Santa Cruz de buscar um confronto com militares e policiais para desencadear uma "espécie de guerra civil", após os distúrbios dos últimos dias em quatro departamentos pró-oposição.
Sindicatos agrários favoráveis a Evo Morales fizeram nesta quarta-feira fecharam acessos à região opositora de Santa Cruz, o que poderia provocar desabastecimento de alimentos e combustíveis. O principal ponto de bloqueio está em Bulo Bulo, que liga Santa Cruz a Cochabamba e La Paz, e é feito por cocaleiros dos sindicados de Chapare.
O referendo revogatório
A proposta para revogar os mandatos foi lançada pelo próprio presidente, em dezembro passado, em meio a uma tensa situação política relacionada com o processo constituinte - quando o governo aprovou uma Constituição sem a presença da oposição.
Morales afirmou que, se perdesse o referendo, retornaria a Chapare - onde nasceu - para cultivar coca, anunciou a imprensa local. O presidente saiu vitorioso com quase 68% dos votos.
Referendos por autonomia
No primeiro semestre deste ano, quatro departamentos ricos (Santa Cruz, Tarija, Beni e Pando) aprovaram, em referendo, autonomia do governo central boliviano.
Em meio à crise política deflagrada pelos sucessivos êxitos dos referendos regionais de autonomia dos departamentos ricos, Morales prometeu aprovar uma Constituição que inclua a nova situação legal dos departamentos.
"Se for ratificado no referendo, vamos garantir a aprovação da nova Constituição Política do Estado boliviano e buscaremos um meio de juntar com paciência as propostas dos estatutos de autonomia, mas ficam garantidas as autonomias departamentais", prometeu.
Nova constituição
No dia 25 de novembro do ano passado, a Assembléia Constituinte boliviana, reunida em um quartel militar da cidade de Sucre, aprovou um texto geral da nova Constituição do país. Do lado de fora do quartel, manifestantes protestavam e os confrontos com a polícia deixaram mortos e feridos.
A forma como o projeto foi sancionado - sem a presença da oposição - e a pauta dos trabalhos - que não incluem, por exemplo, a questão da mudança da capital administrativa - irritaram partidos e grupos opositores.
O texto prevê, entre outros assuntos, a reeleição para toda autoridade eleita, estabelece um Estado plurinacional, que respeite as etnias e culturas, comunitário (mais poder para organizações sociais) e com autonomia das populações indígenas.
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