Uma série de ataques atingiu instalações de petróleo na Arábia Saudita no sábado (14), resultando em explosões que destruíram metade da produção diária de petróleo do reino, ou seja, 5,7 milhões de barris, ou mais de 5% da produção global diária da commodity.
Ainda há pouca informação sobre como o ataque foi realizado, mas a questão principal neste momento é: quem foi o responsável? Os rebeldes houthis do Iêmen, no centro de uma guerra civil contra as forças apoiadas pela Arábia Saudita, assumiram a responsabilidade; na segunda-feira, eles ameaçaram atacar novamente.
Mas autoridades ocidentais e sauditas levantaram dúvidas sobre a alegação, dizendo que o ataque não se originou no Iêmen. Em vez disso, eles apontaram o dedo para um conhecido apoiador dos houthis: o Irã.
A relação entre o Irã e os houthis não é simples e há muito é obscurecida por acusações e negações e ampliada por rumores e propaganda de todos os lados.
Entenda o conflito
Afinal, quem são os houthis?
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Com sua base no noroeste do Iêmen, os houthis ganharam destaque internacional em 2015, quando ajudaram a derrubar o governo do presidente do Iêmen e aliado regional dos EUA, Abed Rabbo Mansour Hadi.
Sua história, no entanto, remonta ao início dos anos 1990, quando um grupo chamado Shabab al-Muminin (Juventude Crente) trabalhou para aumentar a conscientização sobre o ramo zaydi do islã xiita, que dominava o Iêmen há séculos, mas foi afastado após uma guerra civil na década de 1960.
Hussein al-Houthi, um dos líderes da Juventude Crente, começou a organizar protestos antiamericanos após a invasão do Iraque, liderada pelos EUA em 2003. Quando Houthi foi morto por forças do governo em 2003, seus apoiadores renomearam seu grupo em homenagem a ele e passaram dos protestos para a insurgência armada.
Desde 2015 os houthis têm participado ativamente da guerra civil no Iêmen, enfrentando principalmente os apoiadores de Hadi, que também é apoiado por uma coalizão internacional liderada pela Arábia Saudita.
E quais suas ligações com o Irã?
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O apoio iraniano aos houthis parece ter aumentado com o tempo. Mas especialistas dizem que os houthis estão entre os menos dependentes de Teerã para apoio financeiro e militar.
Embora os houthis tenham começado como um movimento principalmente local e o ramo zaydi do islã xiita seja significativamente diferente da teologia da República Islâmica do Irã, o grupo faz parte de uma ampla rede de facções armadas apoiadas por Teerã no Oriente Médio.
Um telegrama diplomático de 2009 enviado pela Embaixada dos EUA no Iêmen dizia que o grupo obtinha suas armas do mercado negro iemenita e das forças armadas do Iêmen.
Em 2017, a Reuters entrevistou uma autoridade iraniana que disse que o Corpo da Guarda Revolucionária Islâmica havia se reunido para encontrar maneiras de "capacitar" os houthis. "Nesta reunião, eles concordaram em aumentar a quantidade de ajuda, por meio de treinamento, armas e apoio financeiro", disse a autoridade.
O Irã emitiu negações oficiais de acusações de que eles estão armando os houthis, mas os embarques de armas interceptados no mar da Arábia encontraram rifles, lançadores de foguetes, mísseis guiados anti-tanque e munições que estavam na rota do Irã para os rebeldes do Iêmen.
Os houthis já atacaram a Arábia Saudita antes?
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Sim. Desde o início do conflito no Iêmen, os houthis tentam punir a Arábia Saudita por seu papel proeminente, lançando ataques em solo saudita. No ano passado, autoridades sauditas disseram ter interceptado mais de 100 mísseis balísticos disparados do território houthi.
Drones armados atacaram estações de bombeamento de petróleo a oeste de Riad em maio causando sérios danos, enquanto um ataque no aeroporto de Abha, no sul, feriu 26 pessoas em junho.
Mas o ataque de sábado ocorreu bem no centro das instalações de produção de petróleo da Arábia Saudita, tornando-a uma operação significativamente mais sofisticada do que pelas quais os houthis são conhecidos. As explosões ocorreram nos distritos de Khurais e Abqaiq, a mais de 800 quilômetros das zonas controladas por houthis no Iêmen, usando ataques de precisão para causar o máximo dano.
O ataque pode ter usado drones e mísseis. Fabian Hinz, pesquisador associado do James Martin Center for Nonproliferation Studies em Monterey, argumentou que as fotos dos restos de um míssil na Arábia Saudita mostram que uma arma muito sofisticada foi usada, o que indica que não foi produzida internamente pelos houthis.
Então se não foram os houthis, quem foi?
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A natureza avançada do ataque levou a afirmações de que o ataque não se originou no Iêmen, mas foi realizado por proxies iranianos no Iraque ou mesmo no Irã.
De acordo com informações do governo dos EUA, houve 19 pontos de ataque nas instalações de processamento de petróleo da Saudi Aramco, de propriedade estatal, em Abqaiq e no campo petrolífero de Khurais, todos do lado norte ou noroeste - sugerindo que o armamento usado veio dessa direção. O Iraque fica ao norte, e os EUA no passado acusaram o Irã de esconder explosivos com milícias afiliadas no país. O Iêmen, por outro lado, fica a centenas de quilômetros ao sul.
Não está claro por que os houthis reivindicariam o ataque mesmo sem ter sido eles os responsáveis. Pode ser parte de uma estratégia regional do Irã e de seus aliados para tentar semear confusão, embora muitos analistas tenham argumentado no passado que os houthis, motivados por preocupações locais, agem independentemente do Irã quando desejarem.
Nesta segunda-feira, o porta-voz militar da Arábia Saudita, o coronel Turki al-Malki, afirmou que as evidências iniciais investigadas mostram que armas do Irã foram usadas para o ataque no fim de semana contra instalações militares sauditas. Al-Malki também disse a repórteres que os ataques não foram lançados a partir do Iêmen.
O porta-voz militar não quis dar detalhes e disse que os resultados da investigação serão tornados públicos quando os trabalhos estiverem concluídos.
"O governo Trump parece ter evidências da responsabilidade iraniana, mas enfrentará ceticismo de outros, tanto por causa de divergências políticas entre os EUA e seus aliados, quanto porque recusar atribuir um ataque te dá uma desculpa para não responder", considerou Michael Singh, diretor do Instituto de Washington para a Política do Oriente Próximo.
Qual seria o interesse do Irã em bombardear a Arábia Saudita?
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Um dos motivos seria aumentar o preço do petróleo, segundo Ram Yavne, brigadeiro-general aposentado e ex-chefe de planejamento estratégico nas Forças de Defesa de Israel, que agora trabalha no Instituto Judaico de Segurança Nacional da América, um grupo de pesquisas de Washington. "Eles querem mostrar ao mundo que o preço de os EUA bloquearem sua capacidade de produzir petróleo é muito alto". Os Estados Unidos, sob a administração Trump, deixaram o acordo nuclear do Irã e reimpuseram sanções ao país persa, prejudicando ainda mais a já instável economia iraniana. França, Reino Unido, Alemanha ainda são signatários do acordo nuclear, mas só no papel. Na prática, se comprarem petróleo ou qualquer outro produto iraniano sancionado, poderiam sofrer punições dos EUA. A escalada também pode ser uma maneira de forçar Trump a ir para a mesa de negociações com o presidente do Irã, Hassan Rouhani, sem pré-condições estabelecidas para tentar um novo acordo nuclear.
Vai haver uma guerra?
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O governo Trump e os líderes sauditas agora enfrentam uma difícil escolha de como responder ao mais recente ataque sem desencadear um conflito mais amplo, que pode ter consequências potencialmente devastadoras para os mercados globais de petróleo e a economia mundial.
Trump "relutará bastante em iniciar uma guerra com o Irã por causa da Arábia Saudita", disse Ali Vaez, diretor de projetos do Irã no International Crisis Group. "Mas o Irã tem cada vez menos a perder e, portanto, está se tornando menos avesso ao risco, o que significa que a política de pressão máxima de Trump saiu pela culatra. Nesse estágio, se houvesse uma retaliação direta contra o Irã, os iranianos achariam irresistível o atrativo da retaliação e poderíamos entrar em uma situação de toma-lá-dá-cá que poderia facilmente sair do controle”.
Ainda assim, uma grande resposta militar dos EUA pode ser improvável, de acordo com especialistas que duvidam que Trump esteja disposto a usar a força contra Teerã ou arriscar a escalada da violência no Oriente Médio antes das eleições presidenciais de 2020. Em junho, Trump disse que considerou um ataque militar ao Irã, quando o país persa abateu um drone dos EUA, mas cancelou a ação no último minuto.
Por que a Arábia Saudita não impediu o ataque?
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A eficácia da máquina militar saudita tem sido questionada há muito tempo, apesar de o país ter investido US$ 83 bilhões em defesa no ano passado, em comparação com US$ 45 bilhões da Rússia e US$ 20 bilhões do Irã. A formidável força aérea do reino bombardeia rebeldes houthis apoiados pelo Irã no Iêmen desde 2015, mas até agora não conseguiu acabar com a guerra civil em favor dos aliados sauditas.
No entanto, qualquer resposta firme à questão da vulnerabilidade saudita terá que esperar por mais clareza sobre exatamente o que aconteceu no sábado, segundo especialistas em defesa aérea. Há relatos conflitantes sobre quais tecnologias foram usadas - um enxame de 10 veículos aéreos não tripulados (UAV) armados, mísseis de cruzeiro ou uma mistura dos dois.
"Se foi um ataque misto, com pequenos UAV e mísseis de cruzeiro coordenados, chegando em um nível baixo - esse é um problema terrível, mesmo para um exército ocidental capaz", de acordo com Douglas Barrie, membro sênior da aeroespacial militar no Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, um think tank do Reino Unido. "O melhor lugar para parar essas coisas é antes que elas cheguem ao ar".
Até que as tensões EUA-Irã diminuam, é provável que o risco de novos ataques permaneça.
Com informações do Washington Post e da Bloomberg.
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