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O presidente da Itália, Sergio Mattarella
O presidente da Itália, Sergio Mattarella, faz um pronunciamento a jornalistas ao final do segundo dia de consultas a partidos políticos, em Roma, 22 de agosto de 2019| Foto: Vincenzo PINTO / AFP

A crise política na Itália se agravou e chegou a um impasse nesta quinta-feira (22), depois que os partidos não conseguiram um acordo para formar o novo governo. As negociações, contudo, vão continuar e, por enquanto, as eleições antecipadas estão congeladas. O anúncio foi feito pelo presidente da República, Sergio Mattarella, na tarde de hoje, após se reunir com os líderes de todos os partidos.

Mattarella deu tempo até a próxima terça-feira (27) para que os partidos cheguem a um acordo. Caso contrário, ele dissolverá o Parlamento e convocará eleições antecipadas, como pede a nacionalista Liga, de Matteo Salvini.

Nos últimos dias, declarações de líderes do Partido Democrata, da oposição de centro-esquerda, sinalizaram uma disponibilidade da legenda para formar uma aliança com o Movimento 5 Estrelas para evitar novas eleições. Mas o acordo está longe de ser fechado.

Entenda a crise política italiana

Quando começou a crise
O primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte (à esquerda) e o ministro do Interior Matteo Salvini em coletiva de imprensa em Roma, em 14 de janeiro de 2019. Salvini defendeu nesta quinta-feira (8) a antecipação das eleições nacionais na Itália
O primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte (à esquerda) e o ministro do Interior e líder da Liga, Matteo Salvini.| Vincenzo PINTO / AFP

No dia 8 de agosto, Matteo Salvini retirou seu partido, a Liga, da maioria parlamentar que apoia o primeiro-ministro Giuseppe Conte. Em junho de 2018, depois de longas negociações, o partido nacionalista de Salvini e o antissistema Movimento 5 Estrelas, que tinham sido adversários nas urnas, chegaram a um acordo para formar uma maioria parlamentar.

Para unir duas forças tão distintas, Salvini e o líder do 5 Estrelas, Luigi Di Maio, assinaram um contrato de governo e indicaram o advogado Giuseppe Conte como primeiro-ministro. Conte, que nunca havia assumido um cargo político, foi escolhido como figura de garantia entre as duas legendas. Ele foi indicado pelo 5 Estrelas, mas aceito pela Liga.

Por que começou a crise

No final de julho e começo de agosto, após fazer festas e comícios lotados nas praias durante o verão italiano, Salvini abriu uma repentina crise de governo enquanto o Parlamento se encontrava em recesso. A esperança do líder da Liga era levar a Itália a eleições antecipadas até o fim do ano.

O que motivou o líder da Liga a apresentar uma moção de desconfiança contra o governo é a esperança de capitalizar o consenso que ele tem no país e se tornar primeiro-ministro de um governo inteiramente da direita. A Liga teve um “boom” nas eleições europeias em maio desse ano quando alcançou 34% dos votos. Somente um ano atrás, nas eleições italianas, teve 17%.  O sucesso se deve principalmente à implementação de duras políticas anti-imigração e a um hábil uso da propaganda.

Como reagiu o primeiro-ministro

A súbita ruptura de Salvini com o aliado Movimento 5 Estrelas surpreendeu a política e a opinião pública. No dia 20 de agosto, o primeiro-ministro Conte discursou no Senado e fez duras críticas ao líder da Liga, que foi tachado de “irresponsável” por derrubar o governo.

No mesmo dia, Conte entregou seu cargo ao presidente da República, Sergio Mattarella, oficializando o fim do governo verde-amarelo, como foi batizado pelas cores de Liga e 5 Estrelas.

O papel do presidente da República

Como a Itália é uma república parlamentarista, o presidente da República, que é eleito pelo Parlamento a cada sete anos, tem papel de garante da Constituição. Ele atua para que os trâmites democráticos e constitucionais sejam formalmente respeitados. Entre seus poderes estão encarregar o primeiro-ministro, dissolver o Parlamento e convocar eleições.

As eleições antecipadas, porém, são sempre o último recurso usado pelo chefe de estado. O objetivo primário é tentar formar um novo governo e levar ao término a legislatura, que começou em junho de 2018 e dura cinco anos.

Consultas com os partidos
O presidente da Itália, Sergio Mattarella
O presidente da Itália, Sergio Mattarella, faz um pronunciamento a jornalistas ao final do segundo dia de consultas com partidos políticos, em Roma, 22 de agosto de 2019. Foto: Vincenzo Pinto / AFP| Vincenzo PINTO / AFP

Após a renúncia de Conte, Mattarella realizou na quarta (21) e quinta-feira (22) rodadas de consultas com os líderes partidários no Parlamento para verificar se existe a possibilidade de um governo alternativo.

Os encontros terminaram sem que houvesse acordos e Mattarella deu um prazo maior aos partidos. Novas rodadas de consultas serão realizadas na próxima terça-feira (27). Se novamente não houver entendimento entre os partidos, a Itália irá a novas eleições.

A reação do 5 Estrelas
O primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte (à esquerda) fala com o vice-primeiro-ministro e ministro do Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Políticas Sociais, Luigi Di Maio, após fazer um discurso no Senado Italiano, em Roma, 20 de agosto de 2019, em meio a uma crise política no país
O primeiro-ministro da Itália, Giuseppe Conte (à esquerda) fala com o vice-primeiro-ministro e ministro do Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Políticas Sociais, Luigi Di Maio, após fazer um discurso no Senado Italiano, em Roma, 20 de agosto de 2019, em meio a uma crise política no país| Andreas SOLARO / AFP

Após a ruptura de Salvini, o Movimento 5 Estrelas, o partido que tem o maior número de parlamentares, disse ter se sentido traído pelo aliado, mas não fechou completamente a porta para um possível novo acordo de governo com a Liga. Ao mesmo tempo, porém, o 5 Estrelas mandou sinais de abertura para formar uma nova maioria com o partido da oposição de centro-esquerda, o Partido Democrata.

As eleições antecipadas são consideradas a pior opção para o 5 Estrelas, já que o partido perdeu muitos votos no último ano. Nas eleições italianas de 2018 teve 32% dos votos, mas nas europeias de maio caiu para 17%. E as pesquisas eleitorais não são positivas.

A oposição
O líder do Partido Democrático (PD), Nicola Zingaretti, responde a perguntas de jornalistas em frente à sede do partido, em Roma, 20 de agosto de 2019
O líder do Partido Democrático (PD), Nicola Zingaretti, responde a perguntas de jornalistas em frente à sede do partido, em Roma, 20 de agosto de 2019| Alberto PIZZOLI / AFP

Nesta quarta (21) e quinta-feira (22), o principal partido de oposição, o Partido Democrata (centro-esquerda), por meio de seu líder Nicola Zingaretti e pelo ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, estendeu a mão ao Movimento 5 Estrelas para formar um novo governo, mas fixou cinco condições não negociáveis. Na tarde de quinta (22), o 5 Estrelas respondeu apresentando um programa de governo em dez pontos. As tratativas estão em andamento.

Os outros principais grupos de oposição, Força Itália, do magnata Silvio Berlusconi, e Irmãos da Itália, ambos da direita, anunciaram que preferem eleições antecipadas. O objetivo dos dois partidos é criar uma coalizão de direita junto com a Liga. As pesquisas apontam que a coligação entre os três partidos ganharia as eleições e teria uma maioria ampla no Parlamento.

Não querem eleições antecipadas

Movimento 5 Estrelas e Partido Democrata dizem que é perigoso levar o país a eleições antecipadas nesse momento e apelam para o senso de responsabilidade, já que, até o fim do ano, o Parlamento precisa aprovar a lei orçamentária de 2020 e o governo tem que evitar a entrada em vigor de algumas cláusulas negociadas com a União Europeia que preveem aumento de impostos. Segundo os dois partidos, enfrentar eleições nessa fase jogaria o país no caos econômico. Desde 1946, ano das primeiras eleições após a Segunda Guerra Mundial, os italianos nunca votaram no segundo semestre.

Opção novo governo

Como as tratativas entre os partidos estão em andamento, todas as opções continuam na mesa. Apesar da traição, o 5 Estrelas mantém canais de comunicação com a Liga, que ao mesmo tempo em que pede novas eleições, disse que está disposta a formar um novo governo.

A opção mais provável, porém, parece ser a de uma aliança entre 5 Estrelas e Partido Democrata. Os dois partidos, que as pesquisas apontam em crise, impediriam que a direita tome o poder nos próximos meses e ganhariam tempo para se fortalecer até as próximas eleições. Mas, caso o governo fracasse, o preço pago nas urnas será salgado.

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