O governo dos Estados Unidos anunciou que a partir desta sexta-feira (2) deixará de cumprir com o Tratado de Forças Nucleares de Alcance Intermediário (INF), firmado com a Rússia em 1987 para evitar a produção de mísseis nucleares.
Entenda por que os Estados Unidos decidiram deixar o acordo e saiba quais as possíveis consequências da decisão:
O INF foi assinado pelos então presidente dos EUA, Ronald Reagan, e o líder soviético Mikhail Gorbachev em 1987 - um esforço para controlar as armas nucleares desenvolvidas pelas duas potências durante a guerra fria.
Sob o INF, eles não poderiam possuir, produzir e testar mísseis balísticos e de cruzeiro lançados do solo com um alcance entre 500 e 5.500 quilômetros, fossem eles nucleares ou convencionais.
Os países então se comprometeram a destruir todos os seus mísseis deste tipo até 1991. No total foram destruídos 2.692 mísseis.
Outros países na Europa, apesar de não fazerem parte do acordo, também destruíram seus mísseis de alcance intermediário, seguindo as disposições do INF. O mais recente foi a Bulgária, que destruiu essas armas em 2002 após um acordo com os EUA.
Para verificar o cumprimento do tratado, eles poderiam inspecionar e fazer inventários dos mísseis de alcance intermediário do outro país.
Porém, desde metade dos anos 2000, a Rússia vinha levantando a possibilidade de se retirar do INF, alegando que o tratado a impedia, injustamente, de possuir armas que seus vizinhos, como a China, estão desenvolvendo e implementando.
A Rússia também sugeriu que a proposta de implantação de sistemas estratégicos de mísseis balísticos dos EUA na Europa poderia terminar com sua retirada do acordo, porque colocaria o território russo no alcance dos mísseis americanos.
A insatisfação com o tratado fez com que a Rússia desenvolvesse um sistema de mísseis chamado 9M729. Segundo os russos, seu alcance é de 480 quilômetros e, portanto, não violaria o INF. Os EUA e seus aliados da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte), porém, afirmam que este sistema é a prova de que a Rússia está há tempos desobedecendo as regras do INF.
Há seis anos os EUA e a Otan vinham pedindo para que a Rússia destruísse o novo míssil, mas o país do presidente Vladimir Putin continuou apegado à sua versão de que a arma nova não violava o INF.
Sem avanço nas negociações, a administração do presidente Donald Trump anunciou, em fevereiro, que em seis meses se retiraria do acordo caso a Rússia não abrisse mão do 9M729.
Claramente os dois lados não chegaram a um acordo e o INF chegou ao fim antes de completar 32 anos.
Mas além do desentendimento com a Rússia, os EUA têm o interesse de assinar um tratado de controles de armas multilateral que inclua a China no pacote, que atualmente investe muito mais em defesa do que a Rússia e que nos últimos anos expandiu agressivamente seus mísseis de alcance intermediário para consolidar sua influência no Pacífico.
Analistas de defesa especulam que uma nova corrida armamentista possivelmente esteja prestes a acontecer. Acredita-se que os Estados Unidos estejam desenvolvendo pelo menos três novos tipos de mísseis de médio alcance - todos eles destinados a transportar ogivas convencionais (não nucleares).
Quem perde mais com isso tudo é a Europa. Os países aliados da Otan já estão discutindo maneiras de aumentar sua segurança contra possíveis agressões russas, analisando se será necessário aumentar suas defesas antimísseis. Também há risco de uma escalada das tensões nucleares na Ásia, entre EUA e China.
Com a suspensão do INF, questões também pairam sobre o futuro do Novo Start, outro pacto entre EUA e Rússia, assinado em 2011, que limita o número de ogivas nucleares estratégicas implantadas pelos dois países.
O Novo Start, que expira em 2021, pode ser prorrogado por mais cinco anos, mas as atuais tensões sugerem que seu colapso pode estar chegando. Sem ele, EUA e Rússia não teriam restrições bilaterais acordadas para o controle de armas.
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