Desde 28 de abril, a Colômbia está vivendo dias de violência em protestos que, segundo fontes oficiais, já mataram 26 civis. Saiba o que está acontecendo, os motivos dos protestos, a posição do governo e as cifras do conflito.
O que está acontecendo?
Os protestos que começaram contra uma proposta de reforma tributária evoluíram para um conflito violento entre forças de segurança da Colômbia e manifestantes, cujas causas são diversas, inclusive com raízes em problemas sociais do país que vêm de décadas, como a profunda desconfiança entre a polícia e a população.
De acordo com a Promotoria e a Defensoria Pública da Colômbia, 26 civis foram mortos desde 28 de abril, quando os protestos começaram no país. Deste total, sete casos estão sendo averiguados e 8 não têm relação com as manifestações. Dos 11 civis que foram mortos durante os protestos, membros da Polícia Nacional serão acusados em três casos.
Nesta quinta-feira, um major da polícia colombiana foi preso, acusado pela morte de um jovem de 24 anos durante um protesto no sábado passado, no município de Madri.
O mesmo relatório da Defensoria Pública indica o suposto desaparecimento de 145 colombianos que participaram das manifestações. Até ontem, os órgãos conseguiram localizar 55 dessas pessoas, algumas delas haviam sido presas por “alteração de ordem pública”.
A ONG Temblores, que está monitorando os conflitos, afirma que o número de mortes é maior do que o que apresentam as autoridades. A organização defensora dos direitos humanos reportou, nesta quinta-feira, 37 homicídios supostamente cometidos pela polícia, 11 vítimas de violência sexual, 234 vítimas de violência física e 934 detenções arbitrárias contra manifestantes.
Os conflitos estão ocorrendo em várias cidades colombianas. Na capital Bogotá, nesta semana, ao menos 15 pequenas unidades policiais foram incendiadas, sendo que em uma delas havia 10 policiais, os quais foram atacados ao saírem do local – 5 policiais ficaram feridos. O governo nacional está relacionando estes ataques à atuação de gangues e grupos terroristas como o ELN (Exército de Libertação Nacional) e dissidentes das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia).
Em Bogotá, também chamou atenção um vídeo compartilhado nas redes sociais, o qual mostra diversos projéteis sendo disparados de um carro blindado da polícia antimotim e pessoas assustadas que pensavam se tratar de munição real. De acordo com o jornal colombianao El Espectador, trata-se de uma arma não letal chamada Venom, que lança múltiplos projéteis para aturdir, fazendo barulho e lançando gás e fumaça em grande quantidade, a fim de dispersar multidões.
Mas o epicentro dos tumultos está em Cali, no Valle del Cauca, onde foram registradas 17 das 26 mortes anunciadas pelas autoridades até agora. Na noite de quinta-feira, o prefeito da cidade, Jorge Ospina, declarou estado de emergência por três meses. Houve bloqueios de estradas que provocaram o desabastecimento de gasolina e de medicamentos em Cali e em várias cidades da região.
A cidade é uma das mais pobres e violentas do país, onde continuamente ocorrem conflitos entre grupos paramilitares e traficantes. O índice de homicídios é alto: 43,2 mortes por 100 mil habitantes, enquanto a taxa nacional é de 23,79. Na periferia da cidade, gangues armadas atacaram a polícia, deixando 176 soldados feridos, 10 por arma de fogo, segundo autoridades. Prédios públicos também foram incendiados.
Qual a origem dos protestos?
Os protestos começaram em 28 de abril, motivados por uma reforma tributária proposta pelo presidente Iván Duque. O projeto, apresentado ao Congresso colombiano em 15 de abril, previa aumentar o imposto sobre serviços básicos e o IVA (Imposto sobre Valor Agregado) – o IVA da gasolina, por exemplo, passaria de 5% para 19% – e ainda reduzir a renda mínima para pagamento do imposto de renda.
A proposta foi considerada por várias organizações e entidades civis como muito onerosa para a classe média, além de inadequada devido à crise econômica causada pela pandemia de Covid-19.
Devido à magnitude e à rápida escalada de violência nas manifestações, o governo retirou o projeto de pauta no começo desta semana e um dia depois o ministro da Fazenda, Alberto Carrasquilla, pediu demissão.
Por que os protestos continuam?
A rejeição à reforma tributária está sendo considerada um estopim para uma retomada dos protestos de novembro de 2019, que traziam consigo várias demandas sociais, na educação, no sistema de previdência, exigindo também o cumprimento do acordo de paz de 2016 e a proteção de indígenas e líderes sociais de pequenas comunidades que frequentemente são alvo de assassinatos no país. Essas pautas voltaram a ser levantadas agora.
Outro motivador é o uso excessivo da violência pelas forças de segurança. Os manifestantes estão pedindo uma reforma policial que, entre outras coisas, inclua a desintegração do Esquadrão Móvel Antidistúrbios (Esmad) e uma mudança na capacitação e objetivos da polícia, que atualmente estão voltados para o contexto de conflito armado contra guerrilhas marxistas.
Qual é o posicionamento do governo?
O governo de Iván Duque arquivou a proposta de reforma tributária e está relacionando os tumultos a ações de gangues e organizações terroristas como o ELN e dissidentes das Farc que não aceitaram o acordo de paz de 2016.
"A Colômbia enfrenta uma ameaça terrorista, as organizações criminosas estão por trás dos atos violentos que maculam o protesto pacífico. São atos premeditados, organizados e financiados por grupos dissidentes das Farc e do ELN”, disse Diego Molano, ministro da Defesa, no fim de semana. As autoridades policiais afirmam que há muitos casos em que policiais são atacados enquanto tentam evitar saques e vandalismo.
Após receber várias críticas internacionais sobre a escalada da violência nos protestos, Duque anunciou a criação de uma comissão para "ouvir os cidadãos", composta por membros da esfera pública, de partidos, do setor privado e sociedade civil, a fim de "construir soluções para o país".
Com informações do Estadão Conteúdo.
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