O esforço internacional para enviar alimentos e medicamentos para a Venezuela se transformou rapidamente em um grande impasse entre o ditador Nicolás Maduro e a oposição apoiada pelos Estados Unidos, o que impediu a entrega da extremamente necessária ajuda humanitária na fronteira com a Colômbia.
Maduro prometeu bloquear mais de US$ 60 milhões em assistência organizada pela oposição e fornecida pelos Estados Unidos, Colômbia, Canadá e outros países. Mesmo com sete caminhões de ajuda dos Estados Unidos chegando à fronteira de Cúcuta, na Colômbia, os partidários de Maduro se comprometeram a usar a força se necessário para mantê-la fora.
Elliott Abrams, enviado especial Departamento de Estado dos EUA para a Venezuela, disse em uma coletiva de imprensa na quinta-feira (7) que, apesar de determinados a entregar a ajuda ao povo venezuelano, os Estados Unidos e outros apoiadores da oposição não iriam fazê-lo por "força".
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"Vamos levar a ajuda para a fronteira da Venezuela na esperança de que consigamos entrar", disse Abrams. "Não acho que nós, os colombianos, os brasileiros ou alguém está planejando tentar forçar esta entrada."
Maduro, o sucessor ungido de Hugo Chávez, trava uma luta de poder com Juan Guaidó – o líder da oposição de 35 anos reconhecido como presidente interino da Venezuela por 47 nações, incluindo os Estados Unidos. O plano da oposição: testar a resolução do eixo de poder de Maduro - os militares - para impedir que os suprimentos entrem no país.
Os soldados venezuelanos "terão uma decisão importante a tomar", disse Guaidó nesta quinta-feira em um vídeo, no qual também aparecem imagens de contêineres derrubados sendo usados pelo governo para bloquear os comboios de ajuda. "Estar ao lado de alguém que está isolado e não protege ninguém, ou não apenas do lado da constituição, mas da humanidade."
Observadores, no entanto, temem que o impasse transforme a ajuda humanitária em um peão no jogo político entre Maduro e seus inimigos.
"Entre 250.000 a 300.000 venezuelanos correm o risco de morrer se a ajuda não vier urgentemente", disse Guaidó em uma breve entrevista ao Washington Post. Ele insistiu que "alguma ajuda chegaria muito em breve"a partir de áreas na Colômbia, no Brasil e no Caribe, mas ele não explicou como.
"Será", disse ele, "uma luta difícil".
Estratégias
Para a oposição, algum nível de provocação parece ser precisamente o foco – uma maneira de potencialmente forçar os militares a escolher lados. Se Maduro não ceder, suas tropas de fronteira – incluindo soldados famintos cujos colegas abandonaram em massa os seus postos – teriam que decidir se seguiriam as ordens e parariam a ajuda.
"Isso se tornou pressão política", disse Luis Vicente Leon, diretor da Datanalisis, uma consultoria política e de pesquisas em Caracas. "É buscar um ponto de ruptura que obrigue o governo a aceitar ajuda e testa a vontade dos militares de pará-lo."
Para combater os comboios, o governo tentou desencadear uma guerra de propaganda em larga escala. Em vídeos e postagens em mídias sociais, o grupo de Maduro está retratando a oposição como fantoches dos Estados Unidos, que tentam uma invasão usando a ajuda como um cavalo de Tróia. Um vídeo divulgado por um site pró-governo sugeriu que os "soldados da paz" estrangeiros estavam a caminho de invadir a Venezuela.
"A ajuda humanitária dos Estados Unidos não ajudará", conclui o vídeo.
Em uma manifestação pró-chavismo em Caracas, nesta quinta-feira, Maduro, segurando uma placa onde se lia #HandsOffVenezuela (Tire as mãos da Venezuela), disse: "Digo ao povo dos Estados Unidos, seus representantes em Washington querem trazer para nossas fronteiras o mesmo ódio criado no Vietnã. Eles querem invadir e intervir na Venezuela".
Tragédia humanitária
Quebrado pela corrupção, pela má administração e pelas políticas socialistas fracassadas, a Venezuela está enfrentando uma grande crise humanitária. Na nação rica em petróleo que uma vez foi a mais rica da região, considerando o PIB per capita, quase 87% das pessoas vivem na pobreza, milhões deixaram o país, e aqueles que ficaram perderam peso e estão sem tratamento para doenças enquanto a hiperinflação destruiu as cadeias de fornecimento de alimentos e medicina.
O governo de Maduro argumenta há muito tempo que a crise humanitária tem sido fabricada por seus inimigos e pela imprensa estrangeira, e há muito recusou a assistência internacional. E a ajuda coordenada pela oposição dificilmente causará um grande impacto no sofrimento da nação.
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No entanto, muitos venezuelanos na quinta-feira pareciam irritados com a recusa do governo em permitir a entrada dos alimentos e medicamentos. Viviana Colmenares, uma vendedora de café de 26 anos e mãe de seis filhos, estava sentada em um casebre de dois quartos em uma das piores favelas da capital. Dois de seus filhos – de 6 e 7 anos, ambos com hepatite – estavam definhando em colchões no chão.
Colmenares disse que buscou tratamento para as crianças em vários hospitais, mas eles foram recusados porque não havia camas disponíveis. Ela também não podia pagar os antibióticos para tratá-los. A diminuição das cestas de alimentos distribuídas pelo governo, enquanto isso, fez com que sua família sobrevivesse com duas refeições por dia, de arroz e banana-da-terra.
"O importante é ajudar as crianças, para que elas tomem o remédio", disse ela. Uma vez defensora dos ideais socialistas de Chávez e Maduro, ela agora os rejeita. "A ajuda está lá há dias; eles não estão deixando entrar!"
Outros venezuelanos se queixavam de que a ajuda, mesmo que fosse permitida, faria pouco para aliviar sua situação. A oposição disse que, uma vez no país, ela seria distribuída para organizações sem fins lucrativos, visando principalmente crianças menores de 3 anos, idosos com doenças crônicas e mulheres grávidas.
"Parece que a ajuda humanitária será destinada a crianças e idosos, e eu não acho que isso vai ajudar a chegar até mim", disse Luis Reina, de 44 anos, contador de Caracas com HIV. Ele está sem seus medicamentos anti-retrovirais há cinco meses devido a uma escassez nacional.
Colômbia
Maduro apoiou nesta quinta-feira o recém-criado "grupo de contato", liderado pela União Europeia, que se reuniu em Montevidéu, no Uruguai, pedindo um diálogo que poderia levar a novas eleições. Mas Guaidó e muitas nações latino-americanas, com as notáveis exceções do México e do Uruguai, rejeitaram as negociações, alegando que são infrutíferas.
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A Colômbia estava emergindo como a principal área de espera para a ajuda.
No sopé de uma cadeia montanhosa, o posto de fronteira de Tienditas – embora nunca aberto ao tráfego de veículos ou pedestres – tem rodovias de três pistas em cada direção que oferecem um caminho rápido e direto para a ajuda.
Um ativista do lado venezuelano da fronteira que não quis ser identificado por razões de segurança disse que as cidades vizinhas de San Antonio e Urena são controladas por prefeitos leais a Maduro. Autoridades disseram que o ativista pedia a criação de milícias civis armadas de partidários do governo- chamadas de "coletivos de segurança na fronteira" – para ajudar os militares a bloquear a ajuda humanitária.
Em uma entrevista, o ministro das Relações Exteriores da Colômbia, Carlos Holmes Trujillo, disse que seu governo não estava pensando em enviar tropas para acompanhar a ajuda.
Mas se a ajuda não for permitida, ele disse: "Eles estarão se comprometendo com o crime. Um crime sério".
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