O enviado da ONU para Direitos Humanos, o brasileiro Paulo Sergio Pinheiro, disse nesta sexta-feira que a junta militar que governa Mianmar informou-o de que 14 pessoas morreram em Yangon durante os protestos pró-democracia violentamente reprimidos em setembro.
Paulo Sergio Pinheiro, que encerrou uma missão de cinco dias a Mianmar na quinta-feira, relatou que o governo reconheceu a morte de 14 pessoas em Yangon, que teriam sido cremadas em um cemitério, visitado por Pinheiro durante sua estada no país.
Ele afirmou, no entanto, que ainda analisaria as evidências reunidas durante sua missão em Mianmar, e que portanto ainda não poderia dar sua própria estimativa a respeito das mortes e prisões durante a crise no país.
"Não estou em posição de falar que este número é exato", disse Pinheiro a repórteres em Bagcoc, capital da vizinha Tailândia.
O governo de Mianmar afirma que nenhum monge budista foi morto durante a repressão, segundo o enviado da ONU.
As manifestações começaram em agosto deste ano, e os monges protestavam contra um súbito aumento nos preços da gasolina, mas o movimento cresceu e se transformou em uma manifestação contra o governo e pela democracia - a maior em 20 anos.
Até agora, o governo havia admitido a morte de apenas dez pessoas, embora diplomatas já afirmassem que este número era bem maior.
Pinheiro ainda não divulgou oficialmente sua própria estimativa de mortos durante os conflitos no país, mas fez um apelo urgente por melhores cuidados médicos para os presos.
"Eles precisam de um tratamento médico melhor", disse.
As Nações Unidas também pediram a Mianmar que suspendam a proibição de visitas aos presos pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha, que já dura dois anos.
"Um relatório especial enfatizou um pedido às autoridades para que reestabeleçam suas relações com a Cruz Vermelha", escreveu a ONU em um comunicado.
Pinheiro deve apresentar seu parecer sobre a situação em Mianmar para a organização Human Rights Watch (HRW) em Genebra em 11 de dezembro.
As Nações Unidas também dizem que o governo de Mianmar forneceu a Pinheiro "alguns registros detalhados que correspondem em parte ao que foi pedido" a respeito da crise.
Pinheiro também pediu à comunidade internacional uma melhor coordenação política para pressionar por uma reforma do regime em Mianmar.
"Se desejamos alcançar algum processo em Mianmar não podemos deixar passar uma cacofonia de políticas... Precisamos de coordenação", afirmou.
Após a visita do enviado da ONU à prisão de Insein, em Yangon, o governo de Mianmar libertou 53 prisioneiros - mas apenas seis deles eram presos políticos, e todos haviam sido detidos anos antes dos protestos de agosto.
A Anistia Internacional estima que 700 pessoas presas pelos militares durante as manifestações ainda estejam detidas, mas o governo afirma que apenas 91 dos 3.000 que haviam sido presos ainda permaneciam sob custódia do Estado.
Pinheiro visitou Insein por duas vezes durante sua missão em Mianmar, cujo objetivo principal era investigar o real número de mortos durante os protestos no país.
Na quinta-feira, Pinheiro afirmou ter recebido permissão para se encontrar com alguns prisioneiros políticos, incluindo Su Su Nway, destacado ativista trabalhista.
Mas o enviado das Nações Unidas não recebeu autorização da junta militar do país para ver a líder Aung San Suu Kyi, que vive em prisão domiciliar em Yangon há 12 anos.