Após um fim de semana de sangrentos massacres na Síria, o enviado internacional Kofi Annan chegou ontem ao país pedindo "passos efetivos" ao regime do ditador Bashar Assad para pôr fim ao conflito de modo pacífico.
Mas Annan, que representa a ONU e a Liga Árabe, alertou também que "toda pessoa que tenha uma arma na mão" sejam rebeldes ou forças leais ao regime faça sua parte.
"Vim à Síria em um momento crítico nessa crise", afirmou Annan, logo após sua chegada a Damasco, dizendo-se "chocado e horrorizado" pelos ataques recentes.
"Insto o governo a adotar medidas efetivas para sinalizar que está sério na intenção de resolver essa crise pacificamente e para que todos os envolvidos ajudem a criar o contexto correto para um processo político crível. E essa mensagem de paz é não só para o governo, mas para todos com uma arma", disse.
Num sinal de que a pressão sobre Assad deve aumentar, o chefe das Forças Armadas americanas, general Martin Dempsey, afirmou que os Estados Unidos devem estar preparados para agir militarmente "caso isso lhe seja pedido".
"Há sempre uma opção militar. Sempre haverá líderes militares que serão cautelosos quanto ao uso de força porque nunca se tem total certeza do que vem do outro lado. Mas, isso dito, pode-se chegar a esse ponto com a Síria por causa das atrocidades", disse Dempsey.
O presidente François Hollande (França) e o premiê David Cameron (Reino Unido), por sua vez, tiveram uma conversa por telefone em que concordaram agir juntos para aumentar a pressão contra Assad. Eles marcaram uma nova reunião do grupo de amigos da Síria, em Paris em data a ser anunciada.
Estima-se que ao menos 108 pessoas, dentre elas 32 crianças, tenham sido mortas em massacre na cidade de Houla no fim de semana. Ontem, um bombardeio contra o reduto rebelde de Hama deixou ao menos outros 41 mortos, incluindo oito crianças.
As autoridades sírias responsabilizaram militantes islamitas pelo massacre em Houla. Em carta ao Conselho de Segurança da ONU, o governo disse que o Exército sírio estava em "estado de autodefesa contra grupos terroristas armados", que teriam cometido o massacre.
Patriota defende formação de grupo para investigar mortes
O ministro Antonio Patriota (Relações Exteriores) afirmou ontem que o Brasil está "preocupado" diante do massacre ocorrido em vilarejo da Síria no fim de semana e disse que os observadores das Nações Unidas devem apurar o episódio.
"A ideia é que seja estabelecido um grupo de investigação para apurar exatamente as responsabilidades em relação a essa matança ocorrida há poucos dias em Houla", afirmou o chanceler sobre massacre de 108 pessoas na cidade (distante 30km do centro de Homs), entre elas ao menos 32 crianças.
O chanceler tratou do assunto em conversa por telefone com o encarregado de negócios brasileiro em Damasco, Bruno Carrilho.
"Estamos muito abalados, preocupados com a situação decorrente dessas mortes", completou Patriota.
No domingo, o Conselho de Segurança da ONU condenou o massacre, e pediu ao governo do ditador Bashar Assad que retire tropas e armas pesadas de centros residenciais.
De acordo com ativistas, os ataques começaram como resposta das forças de Assad a um protesto contra a presença do Exército da Síria na região. O governo sírio aponta "grupos terroristas armados" como responsáveis pelas mortes. Em outros ataques ocorridos anteriormente, Damasco também acusou terroristas.