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Conflito

Enviar armas aos rebeldes sírios seria desastroso, diz embaixador

Enviar armas aos rebeldes que combatem o governo do presidente sírio, Bashar al-Assad, seria "desastroso" para os esforços da comunidade internacional na busca de uma solução pacífica para a crise no país, avaliou nesta sexta-feira (24) o embaixador Paulo Sérgio Pinheiro, presidente da Comissão de Investigação da ONU para a Síria. O grupo liderado por Pinheiro elaborou relatório que aponta uma onda de violação de direitos humanos no país, ordenada pelo "alto comando" do regime sírio. Na avaliação do diplomata brasileiro, não há solução possível que não uma negociada pacificamente entre todas as partes envolvidas. "Acho que será um desastre se armas forem enviadas ao Exército Síria Livre", disse Pinheiro em entrevista à Reuters em São Paulo. "As Forças Armadas Sírias são extremamente fortes", lembrou o diplomata, que teme que o envio de armas aos rebeldes, ideia que chegou a ser defendida nesta semana por pré-candidatos republicanos à Presidência dos EUA, provoque uma escalada no conflito, possivelmente para uma guerra civil. "Muitas armas já estão chegando à Síria provenientes de vários outros países, para o governo e para os grupos armados... Minha posição, e a posição da comissão, é de que não há uma solução militar para a crise. A única solução é um acordo negociado com o governo, a oposição, os grupos armados e o Exército Síria Livre", afirmou. O relatório do grupo chefiado por Pinheiro será discutido em um encontro do Conselho de Direitos Humanos da ONU no dia 12 de março. O diplomata espera que uma resolução sobre a crise síria seja adotada no encontro. "Mas eu não tenho como dizer o que estaria nessa resolução." A ONU diz que mais de 5.000 pessoas já morreram na repressão aos protestos na contra Assad na Síria. Somente nesta sexta-feira na cidade de Homs, principal foco de resistência ao regime e que está sitiada por forças leais a Assad, disparos de artilharia mataram cinco pessoas, segundo relator de ativistas que se opõem a Assad. Na província de Hama (oeste), ativistas disseram que as forças de segurança enfileiraram e mataram pelo menos 18 pessoas em uma aldeia.

Apesar da gravidade da crise, Pinheiro avalia que a adoção de sanções econômicas contra a Síria não ajudaria na solução do problema. "Eu pessoalmente sou bastante cético em relação a sanções econômicas, porque elas nunca afetam as elites, só a população pobre. O relatório é contra a adoção de sanções econômicas." Recentemente China e Rússia vetaram no Conselho de Segurança da ONU uma resolução condenando o comportamento de Assad e os dois países recusaram o convite para fazer parte do grupo de "Amigos da Síria", com grande presença de países árabes e que se reuniu nesta sexta em Túnis para discutir a crise no país. "Espero que eles (Rússia e China) sejam sensíveis ao cenário que mostramos no relatório", disse. "Espero que a Rússia e a China contribuam com esses esforços por um cessar-fogo em Homs." O diplomata advertiu ainda que o caso sírio é bastante distinto da recente crise na Líbia que levou à derrubada de Muammar Gaddafi do poder e pediu comprometimento da comunidade internacional no diálogo e na busca de uma solução pacífica. "Acho que é hora de parar de brincar com essas fantasias de zona de exclusão aérea, santuários humanitários ou criação de corredores humanitários na Síria protegidos por tropas estrangeiras", afirmou. "A única possibilidade para esses corredores humanitários é com a concordância do governo da Síria. Não há outra forma".

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