Deslocamentos de viaturas da operação de ajuda humanitária à Venezuela serão planejados à medida que houver disponibilidade de transporte e a situação "diplomática e de segurança" estiver esclarecida, informou na noite deste domingo (24) a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República, em nota. De acordo com o comunicado, os veículos tiveram que voltar para a região de Pacaraima (RR), que faz fronteira com a Venezuela, diante da "impossibilidade de prosseguir em território" do país vizinho, que teve a fronteira fechada por ordens do ditador Nicolás Maduro. Segundo o comunicado, neste momento, a situação é de normalidade na faixa de fronteira.
"Em função da impossibilidade de prosseguir em território venezuelano, como planejado, as viaturas retraíram para a região de Pacaraima (RR), estando neste momento em segurança e estacionadas no Pelotão Especial de Fronteira ali desdobrado. Novos deslocamentos serão planejados à medida que os meios de transportes estejam disponíveis e a situação diplomática e de segurança esclarecidas", informa a nota, que diz ter havido "sucesso da mobilização logística". "A situação no país vizinho está sendo acompanhada com atenção e mobilizando todos os meios do Governo Federal", afirma.
Neste domingo, a comunicação da Presidência alegou que a ajuda humanitária enviada ao país vizinho pelo Brasil através de caminhões tinha conseguido cruzar para a Venezuela. No entanto, os veículos ficaram apenas na linha de fronteira, como relatou a reportagem do Estado que acompanha a situação no local.
Na nota divulgada neste domingo, a assessoria da Presidência lembra que o vice-Presidente da República, Hamilton Mourão, e o Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, viajaram para a Colômbia para participar da reunião do Grupo de Lima que acontecerá nesta segunda-feira.
"O governo brasileiro mantém seu firme propósito de colaborar para atenuar as condições de vulnerabilidade às quais estão submetidos nossos irmãos venezuelanos", conclui o comunicado.
Mais de 150 desertores
O Departamento de Imigração da Colômbia estima que pelo menos 150 membros das Forças Armadas Nacionais Bolivarianas (FANB) fugiram para a Colômbia durante o fim de semana.
Também houve ao menos três deserções na fronteira com o Brasil. Um sargento da Guarda Nacional Bolivariana (GNB) relatou, em uma coletiva de imprensa no domingo (24), que seus companheiros têm medo, mas que ele disse “basta” porque não pode mais aceitar a “ditadura de Nicolás Maduro”.
"Não é fácil tomar essa decisão. Meus companheiros estão com medo. Nós também estamos com medo. Falta de coragem Você tem que ter coragem. Nós deixamos a nossa família. Nossos filhos estão em casa", disse o sargento Jorge Luis González Romero.
O autoproclamado presidente interino da Venezuela e líder da oposição, Juan Guaidó, reconheceu “a coragem e o espírito patriota dos mais de 160 soldados e policiais que ficaram do lado da Constituição”. “Muitos mais seguirão seu exemplo”, tuitou ele.
ONU condena violência na fronteira
A chefe de direitos humanos da Organização das Nações Unidas (ONU), Michelle Bachelet, condenou cenas violentas em vários pontos ao longo das fronteiras da Venezuela com a Colômbia e o Brasil, em particular, o uso excessivo da força usada pelas FANB, bem como o envolvimento de elementos pró-governo, que resultaram em pelo menos quatro mortes confirmadas e mais de 300 feridos na sexta e no sábado.
"Pessoas foram baleadas e mortas, outras alegadamente ficaram com feridas das quais nunca se recuperarão completamente, incluindo a perda da visão", disse Bachelet. “Estas são cenas vergonhosas. O governo venezuelano deve impedir que suas forças usem força excessiva contra manifestantes desarmados e cidadãos comuns ”.
O Escritório de Direitos Humanos da ONU recebeu vários relatórios apontando o envolvimento de elementos armados pró-governo nos ataques contra os manifestantes. Bachelet pediu a Maduro que “contenha esses grupos e prenda aqueles entre eles que usaram força contra os manifestantes. O uso de forças aliadas tem uma história longa e sinistra na região. E é muito alarmante vê-los operando abertamente dessa maneira na Venezuela. O governo pode, e deve, impedi-los de exacerbar uma situação já altamente inflamável”, acrescentou a ex-presidente chilena.