O governo da Síria alertou o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) que a entrega de ajuda humanitária através de suas fronteiras para áreas sob controle dos rebeldes sem seu consentimento equivaleria a um ataque, insinuando que teria o direito de retaliar contra os comboios.
Enquanto os membros com direito a voto no Conselho de Segurança Estados Unidos, Rússia, China, França e Grã-Bretanha negociam o rascunho de uma resolução para reforçar o acesso à ajuda, a Síria circulou entre os 15 membros do Conselho de dezenas de advogados árabes e sírios.
A carta de 18 de junho, obtida pela Reuters nesta sexta-feira (20), argumenta contra a tentativa das potências ocidentais de enquadrar a resolução humanitária no Capítulo 7 da Carta da ONU, o que a tornaria obrigatória e aplicável com ação militar ou outras medidas coercitivas, como sanções.
O texto de resolução humanitária foi elaborado por Austrália, Jordânia e Luxemburgo.
"O único propósito da iniciativa é a entrega de apoio logístico para os terroristas sob os auspícios da ONU", escreveram os advogados na carta, enviada à ONU pelo embaixador sírio na organização, Bashar Ja'afari.
"Importar ajuda em coordenação com organizações terroristas e sem consultar o Estado sírio equivaleria a um ataque ao Estado sírio e sua integridade territorial e independência política", sustentaram os advogados.
Em meio às negociações da resolução, a Rússia declarou na quinta-feira (19) que obteve a aprovação da Síria para abrir quatro passagens fronteiriças. Mas o embaixador da Austrália na ONU, Gary Quinlan, disse na quinta-feira que a proposta ainda "não é boa o suficiente".
O Conselho de Segurança alcançou uma unanimidade rara na aprovação de uma resolução em fevereiro que exigia acesso humanitário rápido, seguro e desimpedido à Síria, onde a guerra civil já matou mais de 150 mil pessoas em três anos.
Mas a resolução, que é legalmente obrigatória mas não executável, não fez diferença, afirmaram autoridades da ONU, que diz que cerca de 9,3 milhões de pessoas na Síria precisam de ajuda, das quais 4,7 milhões estão em áreas de difícil acesso. Outras 2,8 milhões fugiram do conflito.