A Ucrânia tem solicitado aos aliados na União Europeia e aos Estados Unidos o envio de caças para defender o território do exército russo. Mas o envio desses armamentos esbarra em alguns questionamentos com essas nações, como a resposta militar da Rússia e também a proteção dessas tecnologias bélicas e possíveis replicações por nações inimigas.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou na última segunda-feira (30) que não irá enviar caças F-16 para a Ucrânia. Os norte-americanos são um dos principais fornecedores bélicos dos ucranianos no conflito, tendo encaminhado 41 tanques Abrams e veículos blindados M88s que devem chegar ao país europeu nos próximos meses.
Já membros da União Europeia com a França e a Holanda ainda não descartaram enviar caças para a Ucrânia, mas admitem que irão colocar condições específicas para esses envios. O presidente francês, Emmanuel Macron, reforçou na segunda-feira que o ato não poderá desencadear um aumento no conflito, bem como diminuir as capacidades do exército nacional.
A posição foi seguida pelo presidente da Holanda, Mark Rutte, que ponderou o envio como “um passo muito grande” dentro do conflito. Ambos os países também desejam que a Ucrânia se comprometa em caso do recebimento dos caças em utilizar esse armamento apenas para defender o território ucraniano e não para atacar solo russo.
Para o cientista político e diretor de Projetos do Centro de Estratégia, Inteligência e Relações Internacionais (CEIRI), Marcelo Suano, a possível chegada dos caças à Ucrânia teria potencial de decidir o confronto em favor dos ucranianos.
“Porque são armas estratégicas, não apenas armas práticas. Uma arma prática atua em um campo de batalha específico onde tem 500 km de alcance, mas os norte-americanos entregaram para a Ucrânia com autonomia de 90 km, ou seja, não atinge o território da Rússia. A Ucrânia tem caças, mas são todos herdados da União Soviética e por isso defasados e que não modificam o cenário geral”, explica Suano.
Essa visão é compartilhada pelo Coronel da reserva do Exército Brasileiro e mestre em Ciências Militares, Paulo Roberto da Silva Gomes Filho. “No nível tático, poderiam tentar obter a chamada superioridade aérea local, que consiste em garantir que durante determinado intervalo de tempo, em determinado perímetro do campo de batalha, somente aeronaves ucranianas voariam. As aeronaves também poderiam realizar operações contra alvos mais em profundidade, como bases logísticas e postos de comando.
Resposta militar da Rússia pode escalonar a guerra para outras nações
Com a manutenção do apoio dos Estados Unidos e de nações da União Europeia à Ucrânia, a Rússia tem reforçado publicamente que pode responder essas ações com incursões mais ostensivas, como por exemplo, na utilização de armas nucleares táticas em solo ucraniano.
A Rússia tem tentado antecipar o envio de tanques e caças à Ucrânia ao atacar linhas de abastecimento e transmissão do país. Com o rigoroso inverno do Leste Europeu se encerrando apenas em março, o exército russo tem dificultado a sobrevivência dos ucranianos nesse período.
Outro fator complexo para a Ucrânia é a cada vez menor presença de recursos humanos no país. Mais de 7 milhões de pessoas migraram do país para outras nações e com cerca de 100 mil soldados ucranianos mortos desde o início da Guerra, mesmo com a chegada dos arsenais dos aliados, o tempo hábil para o treinamento da população para operar tanques e caças pode não ser o suficiente para que o país suporte as investidas russas.
“A Rússia tem mais recursos humanos e tem bastante armamento, mas que já estão com a reposição mais lenta, em especial pela piora na economia. Por isso está tendo que comprar drones no Irã e apoio da Coreia do Norte, além de ainda não ter contado com armamento direto da China. Há dúvidas que tenham condições para bombardear e encerrar prontamente a Guerra na Ucrânia ou responder aos caças de ponta”, prossegue Suano.
Dentro desse cenário, uma derradeira alternativa ao exército russo é a utilização de armamento nuclear. Mas esse recurso impactaria em respostas de outras nações com arsenais nucleares, desencadeando em um conflito global, mesmo que a Rússia consiga realizar os primeiros ataques.
“O problema é arcar com as consequências desse armamento, que irá atingir territórios vizinhos e fará com que todos os países com essa tecnologia fiquem em estado de alerta e apenas a um ato de uma hecatombe. Por mais que o arsenal russo seja vasto e o país pudesse atacar primeiro, a ação seria respondida com disparos de diversas nações, transformando em uma Batalha de Pirro”, finaliza Suano.
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