Gazeta do Povo – Como o senhor avalia a ajuda de US$ 50 bilhões oferecida pelo G8 à África?

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Oscar Vilhena – É evidente que toda a ajuda oferecida à África é positiva. No entanto, há duas preocupações centrais na transferência de recursos. De tempos em tempos, países africanos têm recebido ajudas grandes de países europeus. A ajuda não faz com que as economias africanas sejam ativadas, porque empresas estrangeiras realizam obras com recursos dos governos doadores. Ou seja, se beneficiam com os recursos doados à África. A ajuda não faz o continente se tornar auto-sustentável. O segundo ponto é que o dinheiro é mal empregado devido à corrupção. Às vezes, as doações favorecem grupos do poder em detrimento dos mais necessitados.

– O anúncio da ajuda revela uma mudança de discurso do G8?

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– Esta foi uma das boas ações neste período após o 11 de setembro, em que os países em desenvolvimento ficaram mais estigmatizados ainda. A União Européia é muito excludente do ponto de vista comercial. O anfitrião da última Cúpula do G8 (no início deste mês), o primeiro-ministro, Tony Blair, quer reverter essa exclusão. Antes o G8 era tido como instância de fortalecimento dos países ricos e agora se vê obrigado a se preocupar com as dificuldades da África. A ajuda financeira precisa ser bem canalizada e voltada para alavancar as economias.

– A administração dos recursos do pacote de ajuda à África é um desafio?

– Haverá preocupação para que os recursos não sejam apropriados indevidamente pelos governos recebedores. O ideal é que os recursos alavancassem os pequenos comércios africanos. Há um ceticismo. Não se sabe se o dinheiro vai chegar a quem precisa ou se ficará nas mãos de grupos influentes. Será o desafio do G8 se planejar para investir este montante para que chegue realmente aos mercados locais e também para que não se repitam os cenários desastrosos das ajudas financeiras anteriores. Em contrapartida, o G8 terá a pressão para que transnacionais sejam beneficiárias desta ajuda. A tendência é que o investimento ocorra antes em países com democracia um pouco mais consolidada, uma vez que os efeitos econômicos são melhores. (KC)