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Saúde

Epidemia de cólera provoca violência no Haiti

Acampamento de vítimas do terremoto de janeiro, em Porto Príncipe: péssimas condições de higiene favorecem proliferação da cólera | Kena Betancur/Reuters
Acampamento de vítimas do terremoto de janeiro, em Porto Príncipe: péssimas condições de higiene favorecem proliferação da cólera (Foto: Kena Betancur/Reuters)

Porto Príncipe - A ONU responsabilizou ontem grupos organizados com motivações políticas pelos protestos violentos ocorridos no norte do Haiti nos últimos dias. O objetivo seria criar um clima de insegurança no país para influenciar o resultado das eleições gerais marcadas para o dia 28 deste mês.

Segundo a ONU, milhares de pessoas ergueram barricadas nas ruas e atacaram forças de segurança nas cidades de Cap-Haitien, Quartier Morin (ambas a cerca de 300 km de Porto Príncipe), Hinche (130 km da capital) e diversas vilas e cidades do norte.

Os manifestantes atacaram os capacetes-azuis com pedradas, bombas caseiras incendiárias, e disparos de armas de fogo. As tropas responderam usando bombas de gás lacrimogêneo, tiros de borracha e até munição letal.

Os manifestantes exigiram a saída das tropas da ONU do Haiti. Eles se baseavam na suspeita de que militares do Nepal, que integram as forças de paz, teriam trazido acidentalmente a bactéria da cólera do sul da Ásia – iniciando uma epidemia.

A ONU negou que suas tropas tenha iniciado a epidemia e disse basear sua defesa em testes de laboratório.

A base do Nepal em Hinche foi apedrejada por cerca de mil pessoas durante os protestos. Os manifestantes acusam a instalação de ter despejado esgoto contaminado em um afluente do Rio Artibo­­nite, onde a doença surgiu.

Oficiais ligados ao comando da missão disseram suspeitar que os protestos foram organizados por políticos de oposição ao governo do presidente René Préval. Eles não disseram, porém, se esses grupos estariam ligados a algum candidato à presidência específico.

Desde o início da epidemia de cólera, o candidato governista Ju­­de Célestin tem caído nas pesquisas de intenção de voto no país.

Em comunicado, a ONU pediu que a população "permaneça vigilante e não seja manipulada por inimigos da estabilidade e da democracia no país’’.

Os seis militares feridos eram de batalhões do Nepal e do Chile (o Brasil não tem tropas fixas na região). Pelo menos 19 manifestan­­tes foram feridos e dois morreram.

Vítimas

Uma das vítimas, segundo a ONU, era um haitiano que estava em um grupo armado que tentou se aproximar de um heliponto em uma base das Nações Unidas em Quartier Morin.

Ele foi morto a tiros pelos capacetes-azuis. A ONU abriu uma in­­vestigação sobre o caso depois que a mídia local afirmou que a vítima foi atingida nas costas.

A segunda vítima era um rapaz que foi encontrado baleado em uma rua onde ocorreram protestos em Cap-Haitian. A população acusou a ONU, mas a organização afirmou que seus militares não estavam naquela região.

Um depósito de medicamentos da ONU para tratamento da cólera também foi saqueado du­­rante os protestos em Cap-Haitien.

Ontem, embora novos confrontos não tenham sido registrados, a situação era tensa no norte do país – com algumas barricadas e disparos esporádicos. Já Por­­to Príncipe permaneceu calma.

A tropa do Nepal, que tem cerca de mil integrantes, divulgou co­­municado informando ter re­­forçado suas posições em Hinche. Uma delegação de policiais foi en­­viada a Cap-Haitien para negociar com lideranças locais.

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