O Equador planeja expulsar Julian Assange de sua embaixada em Londres nas próximas “horas ou dias”, revelou o WikiLeaks na noite desta quinta-feira (4).
O país já teria acertado os detalhes da prisão do ativista australiano com as autoridades do Reino Unido. As informações foram vazadas ao WikiLeaks por um funcionário do alto escalão do governo equatoriano.
Assange vive na embaixada equatoriana em Londres desde 2012 para evitar ser detido e extraditado para a Suécia, onde era investigado por estupro. O processo foi arquivado pela Justiça da Suécia, mas as autoridades britânicas ainda buscam prendê-lo.
O fundador do Wikileaks nega as acusações de estupro e diz ser perseguido por ter vazado milhares de documentos revelando práticas espúrias de diversos governos ao redor do mundo, em especial dos Estados Unidos.
Nesta sexta-feira, o ministro de Relações Exteriores do Equador, José Valencia, afirmou que o governo equatoriano não fará comentários sobre os atuais "rumores infundados" de que o país fez um acordo com o Reino Unido para prender Assange.
"Rumores da 'iminente' saída de Assange vêm de meses atrás. O governo não fará comentários sobre os atuais rumores infundados, que também são insultuosos. O Equador toma suas decisões de maneira soberana e independente de outros países", afirmou Valencia pelo Twitter. O chanceler ainda disse que o asilo diplomático é uma faculdade soberana de um Estado, "que tem o direito de outorgá-lo ou retirá-lo unilateralmente quando considere justificado".
O relator especial da ONU sobre tortura, Nils Melzer, disse que ficou "alarmado" com os relatos de que Assange pode ser expulso em breve da embaixada.
"Na minha opinião, se Assange fosse expulso da embaixada do Equador, ele provavelmente seria preso por autoridades britânicas e extraditado para os Estados Unidos", disse Melzer.
"Tal resposta poderia expô-lo a um risco real de graves violações de seus direitos humanos, incluindo a sua liberdade de expressão, seu direito a um julgamento justo e a proibição de um tratamento ou punição cruel, desumano ou degradante", disse o especialista da ONU, que fez um apelo ao governo do Equador para que não expulse Assange de sua embaixada em Londres.
Escândalo de corrupção no Equador
A suposta decisão de revogar o asilo de Assange ocorre após o surgimento de denúncias de corrupção contra o presidente equatoriano, Lenín Moreno.
O escândalo, apelidado de INA Papers, envolveria o pagamento de pelo menos US$ 18 milhões (R$ 70 milhões) em propina à família de Moreno por uma empreiteira chinesa.
O governo nega as acusações, afirmando que elas foram inventadas pelo ex-presidente Rafael Correa e disseminadas por Assange com o intuito de prejudicar Moreno. Em março, o Equador já havia decidido cortar o acesso de Assange à internet.
Na terça-feira (2), o líder equatoriano acusou Assange de “violar repetidamente” as regras de concessão de asilo.
“Não é que ele [Assange] não possa se expressar livremente, mas ele não pode mentir, muito menos hackear contas ou interceptar ligações telefônicas privadas”, declarou Moreno à imprensa equatoriana.
Em dezembro, o jornal New York Times revelou que o governo equatoriano manteve negociações com autoridades americanas sobre a expulsão de Assange em troca do alívio de dívidas.
Moreno vs. Correa
O debate sobre a revogação do asilo de Assange reflete as disputas de poder travadas no Equador entre Moreno e Correa, seu antecessor.
Moreno foi eleito presidente em abril de 2017, prometendo dar continuidade às políticas de esquerda de Correa. No entanto, após chegar ao poder, Moreno se distanciou de seu padrinho político e forjou alianças com partidos de centro e de direita.
A concessão de asilo a Assange conferiu a Correa credenciais anti-imperialistas em um momento em que a maior parte dos países sul-americanos, inclusive o Brasil, tinha governos identificados com a esquerda.
Sob Moreno, o Equador busca reconfigurar suas alianças com os novos governos de direita na região e com os Estados Unidos.