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A candidata de esquerda Luisa González, do Partido Revolução Cidadã (em tradução livre), liderou a corrida eleitoral do Equador nesse domingo (20), em uma disputa que será definida em segundo turno no dia 15 de outubro contra o empresário Daniel Noboa, do Partido Democrático Nacional.
A presidenciável, considerada a “herdeira” política do ex-presidente socialista condenado a oito anos de prisão por corrupção, Rafael Correa, obteve 33% dos votos a seu favor contra 24% de seu opositor.
Nascida em Quito, capital do país, González teve seu primeiro contato com a política em 2007, quando surgiu como candidata à Assembleia Nacional na província de Pichincha, pelo Partido Social Cristão (PSC).
Segundo o jornal El Universo, entre suas propostas de gestão estavam incluir a prisão perpétua na legislação, propor um modelo de livre mercado, incentivar créditos baratos a comerciantes e fazendeiros, além de defender uma reforma previdenciária no país. No entanto, nesse primeiro momento, ela não foi eleita.
Ela se formou em direito na Universidade Internacional do país, especializando-se em economia internacional e desenvolvimento.
Embora pouco conhecida, a advogada de 45 anos fez sua carreira no meio político durante o governo de Correa (2007-2017). Ela foi vice-ministra de gestão turística, vice-cônsul do Equador em Madri, secretária nacional da administração pública, subsecretária de gabinete presidencial e, por último, em 2021, foi eleita deputada pelo partido Revolución Ciudadana, cargo que exerceu até a dissolução do Parlamento pelo presidente Guillermo Lasso, em 17 de maio.
Segundo reportagem do El País, foi nesse período que ela começou a ganhar visibilidade ao criticar as condenações judiciais de Rafael Correa e do vice-presidente Jorge Glas, ambos sentenciados por corrupção.
O ex-presidente socialista atualmente reside na Bélgica, cidade natal de sua esposa, onde conseguiu asilo e continua atuando externamente na política equatoriana. A hipótese de vitória do correísmo pode abrir caminho para um retorno do político ao país, uma vez que o cargo permite o perdão presidencial.
Durante a gestão de Correa, ela acabou sendo incluída em um relatório investigativo da Controladoria-Geral, que apura o uso indevido de aviões presidenciais e verbas que ultrapassam US$ 880 mil dólares.
“Recuperar a pátria”
A candidata utiliza como slogan “recuperar la patria”, em tom de mudança frente às ações do governo de Guillermo Lasso e a onda de violência que tomou conta do país, nos últimos meses, com destaque para a morte do candidato à presidência Fernando Villavicencio, no mês passado, e outros dois representantes políticos.
De acordo com o jornal La Nación, a ex-deputada percorre os principais redutos correístas em busca de votos com a mensagem de “tempos melhores” em relação à segurança, emprego e saúde, sempre fundamentada na imagem do ex-presidente socialista, prometido por ela como seu “principal assessor”, mesmo que a distância.
“Procuro pessoas que saibam trabalhar e que já mostraram resultados, uma delas é Rafael Correa. Mas quem vai tomar as decisões finais sou eu, Luisa González”, afirmou durante uma entrevista.
A candidata promete ainda manter suas propostas como ex-deputada de “comprometer-se com a justiça social e os direitos humanos”. Ela define seu movimento político como “progressista” e compara seu projeto de governo com as visões do presidente Lula e de Cristina Kirchner, na Argentina.
No âmbito da segurança, ela defende o combate radical contra o crime organizado, por meio do fortalecimento das instituições e trabalho conjunto entre Forças Armadas, polícia e o Ministério Público
Apesar de ser uma opositora do conservadorismo no Equador, González chama a atenção ao posicionar-se politicamente contra o aborto, pauta que, para ela, é inegociável, como declarou durante a campanha.
Caso vença o empresário Daniel Noboa no segundo turno, em 15 de outubro, a correísta assumirá o cargo de presidência até 2025, o restante do mandato do conservador Guillermo Lasso, que convocou eleições extraordinárias após a dissolução do Parlamento em meio a um processo de impeachment contra ele sob acusação de peculato.
González conta com uma possível desvantagem frente ao adversário, que deve atrair votos de eleitores anticorreísmo do partido de Fernando Villavicencio, o Movimento Contrói, representado por Christian Zurita.