Ouça este conteúdo
Neste domingo (20), o primeiro turno da eleição presidencial antecipada no Equador será realizado com o país mergulhado em duas crises.
A primeira é política. Em maio, o presidente conservador Guillermo Lasso anunciou a chamada “morte cruzada”, isto é, a dissolução da Assembleia Nacional e a convocação imediata de eleições antecipadas para o Executivo e Legislativo do país.
Lasso, que respondia a um processo de impeachment no Legislativo e cujo mandato terminaria apenas em 2025, adotou a medida como uma resposta à crise política no país. Antes dele, seis presidentes do Equador não terminaram seus mandatos desde a volta da democracia, em 1979, por motivos como morte, destituição e convocação de eleições antecipadas.
A segunda crise, que influencia a primeira, é de segurança pública. Assolado pelo crime organizado, o Equador viu nessas eleições um candidato à presidência, Fernando Villavicencio, ser assassinado em Quito faltando apenas 11 dias para a população ir às urnas. Outros atentados indicaram o alcance da violência perpetrada pelos grupos criminosos que disputam poder nas ruas e nos presídios do país.
É justamente focando na segurança que um outsider planeja surpreender na reta final da eleição equatoriana. O empresário Jan Topic, de 40 anos, vem aparecendo na maioria das últimas pesquisas em segundo lugar, após apresentar números ruins até o final de julho.
Seu nome ganhou ainda mais evidência após o assassinato de Villavicencio, já que a facção criminosa Los Lobos, em um vídeo no qual reivindicou o atentado, prometeu que Topic seria o próximo. As buscas pelo nome do empresário dispararam no Google nos dias seguintes ao crime.
A família de Topic é proprietária da Telconet, empresa gigante das áreas de tecnologia e segurança, e o jovem empresário já foi soldado da Legião Estrangeira Francesa, na qual serviu como franco-atirador e paraquedista na Ucrânia, Síria e África.
Ele se diz admirador de Nayib Bukele, presidente de El Salvador, pela sua política de segurança pública – que fez a taxa de homicídios no país centro-americano despencar e rendeu ao mandatário altos índices de aprovação, mas é criticada por organizações de direitos humanos.
“Ele tem um plano coerente, com clareza de conceitos”, elogiou Topic, em entrevista ao El País. “Ele não desistiu, enfrentou as máfias, enfrentou todos os partidos políticos, o Congresso, foi lá e fez, sem desistir.”
Sem ter chegado à presidência, Topic já protagonizou polêmicas. Ele e seu pai, Tomislav Topic, foram investigados por denúncias de participação da Telconet no esquema de corrupção da Odebrecht no Equador. O governo equatoriano fechou um acordo com a empresa de Topic para devolução de US$ 13,5 milhões aos cofres públicos.
Além disso, em 2019, Topic foi notícia na imprensa do Equador devido a uma briga extremante violenta com um irmão, motivada por uma disputa de bens dentro da família.
Líder nas pesquisas quer ex-presidente condenado por corrupção como “assessor”
O empresário terá como principal adversária a líder nas pesquisas, Luisa González, do movimento Revolução Cidadã, do ex-presidente de esquerda Rafael Correa (2007-2017).
Numa entrevista ao El País, ela comentou o papel que o ex-mandatário, condenado a oito anos de prisão por corrupção e que recebeu asilo na Bélgica, teria no seu governo, caso saia vitoriosa no domingo (ou no segundo turno, previsto para outubro).
González disse que “nunca ofereceria indulto” a Correa porque “ele mesmo não quer”, mas ao mesmo tempo garantiu que ele será “um dos principais assessores” do seu governo.
“Rafael Correa recebeu asilo político porque os juízes que atuaram no seu caso foram parciais. Não existe um sistema de Justiça imparcial e a Bélgica diz isso quando lhe concede asilo político”, alegou González.
A eleição presidencial deste domingo tem outros seis candidatos, dos quais se destacam Christian Zurita, que substituiu Villavicencio; o ex-vice-presidente Otto Sonnenholzner; e o líder indígena Yaku Pérez, que se tornou conhecido pelos protestos durante os governos de Correa e Lenín Moreno (2017-2021).
Quem vencer neste domingo (ou em outubro) sabe que terá pela frente uma das maiores crises políticas e, certamente, o maior desafio de segurança da história do Equador.