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Comunicação

Escândalo força Murdoch a desistir da compra de tevê

Manifestantes usam máscara de Murdoch e bonecos do premiê britânico, David Cameron, em protesto em Londres contra a venda de tevê a cabo ao magnata da comunicação | Ki Price/AFP
Manifestantes usam máscara de Murdoch e bonecos do premiê britânico, David Cameron, em protesto em Londres contra a venda de tevê a cabo ao magnata da comunicação (Foto: Ki Price/AFP)

Londres - O escândalo das escutas telefônicas no Reino Unido impôs ontem um raro golpe ao magnata Rupert Murdoch. Pressionado, ele desistiu de comprar a totalidade das ações da BSkyB (British Sky Broad­­casting), a maior provedora de te­­vê paga do Reino Unido, por meio de sua News Corporation.

O negócio seria o maior e mais lucrativo do australiano, cujas empresas acumulam ativos de US$ 60 bilhões (R$ 93 bilhões) pelo mundo.

Murdoch já tinha 39% das ações da BSkyB e, há mais de um ano, manifestou a intenção de comprar os restantes 61% por estimados US$ 12 bilhões (R$ 18 bi­­lhões).

Mas o repúdio a seu plano atingiu níveis altíssimos há cerca de uma semana, quando a investigação do uso de grampos telefônicos por parte dos repórteres do tabloide News of the World, de Murdoch, extrapolou o universo das celebridades e atingiu vítimas de crimes e seus familiares. Denúncias di­­zem ainda que o esquema dependia de propina a policiais.

Sob bombardeio, e queda nas ações, Murdoch decidiu fechar o News of the World, que foi criado em 1843 e vendia 2,7 milhões de exemplares aos domingos, mas manteve a oferta sobre a BSkyB.

Mas, ontem, os principais partidos do país fecharam acordo para aprovar no Parlamento uma moção contra a venda da BSkyB e obtiveram o apoio do premiê Da­­vid Cameron, sinal de que o governo cogitava vetar a fusão das empresas.

Um dos ex-funcionários do News of the World, interrogado e detido neste ano é Andy Coulson, ex-assessor do premiê.

"Nós achamos que a proposta de aquisição da BSkyB pela News Corporation beneficiaria a am­­bas, mas está claro que é muito difícil avançar nesse clima", afirmou a empresa, em nota.

Também ontem, Cameron se encontrou com a família da adolescente de 13 anos desaparecida em 2002 que teria tido a caixa postal do celular invadida por repórteres.

Cameron se disse "satisfeito" com o anúncio. "A News Corp. e sua filial britânica News Inter­­national devem se concentrar em limpar e ordenar seus assuntos após o escândalo", afirmou um porta-voz do governo.

O líder da oposição trabalhista, Ed Miliband, comemorou a notícia. "Essa é uma vitória das pessoas que, em todo o país, estão horrorizadas com as revelações do escândalo das escutas", disse.

Em Washington, o senador democrata Jay D. Rockefeller afirmou ter solicitado a autoridades que investiguem se empresas ligadas à News Corporation nos EUA empregaram métodos ilegais, em especial contra vítimas do 11 de Setembro.

Murdoch foi convidado a prestar esclarecimentos ao Parla­­men­­to britânico. Por se tratar de um convite, ele não é obrigado a ir. A News Corp, porém, diz que quer cooperar. Se isso não ocorrer, ele pode ser intimado oficialmente a comparecer.

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