O primeiro-ministro britânico, David Cameron, interrompeu na terça-feira uma visita à África para se defender do escândalo que abalou o império midiático de Rupert Murdoch, levou à demissão de chefes da polícia e despertou dúvidas sobre a capacidade de avaliação do próprio chefe de governo.

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Enquanto o diretor da unidade de contraterrorismo da Scotland Yard renunciava na segunda-feira, seguindo o exemplo do chefe da Polícia Metropolitana, Cameron interrompia a já abreviada visita à África para voltar à Grã-Bretanha e participar na quarta-feira de um debate extraordinário no Parlamento, que adiou o início do seu recesso de verão.

Embora não enfrente ainda uma contestação direta à sua liderança, alguns membros do seu Partido Conservador começaram a cogitar a possibilidade, embora remota, de que Cameron seja pressionado a renunciar.

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Ele estará na Nigéria na terça-feira, enquanto uma comissão parlamentar irá perguntar a Murdoch, ao seu filho James e à sua ex-executiva Rebekah Brooks se eles sabiam dos pagamentos feitos por jornalistas de tabloides do grupo a agentes da Polícia Metropolitana, e se tinham conhecimento dos grampos telefônicos nas caixas postais de talvez milhares de pessoas.

O escrutínio às ações do grupo News Corp se estende também aos seus investidores. Na terça-feira, as ações da empresa operavam em baixa de 4,5 por cento em Nova York, 17 por cento abaixo de 4 de julho, quando a polícia britânica anunciou que estava investigando se jornalistas espionaram, em 2002, a caixa de mensagens de uma adolescente que depois foi encontrada morta.

Isso reacendeu um escândalo de cinco anos, que antes parecia limitado a espionagens contra personalidades ricas, famosas e poderosas. Dez jornalistas já foram detidos e libertados sob fiança.

Em outra reviravolta no caso, a polícia informou que o ex-repórter do tabloide News of the World Sean Hoare, que havia sido responsável por denunciar as escutas telefônicas, foi encontrado morto.

Com a detenção no domingo de Brooks, 43 anos, que é amiga pessoal de Cameron e foi editora do News of the World, e com a renúncia do comissário da Polícia Metropolitana, Paul Stephenson, o primeiro-ministro se vê na obrigação de defender sua própria conduta no caso, que despertou indignação na opinião pública por causa das relações promíscuas entre a elite do jornalismo, da política e da polícia.

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Cameron na defensiva

Ao iniciar na segunda-feira sua visita à África do Sul, Cameron novamente teve de defender a nomeação de Andy Coulson como seu porta-voz, ocorrida meses depois de Coulson ter se demitido do cargo de editor do News of the World.

Em 2007, um repórter subordinado a ele havia sido preso por grampear telefones de assessores do príncipe William.

O líder da oposição trabalhista, Ed Miliband, cujo partido sempre disputou com os conservadores a simpatia de Murdoch, não chegou a pedir a renúncia de Cameron, mas disse que esperava saber detalhes, entre outras coisas, das discussões que o primeiro-ministro possa ter tido com a News Corp sobre a proposta de aquisição total da operadora de TV BSkyB, que acabou sendo abandonada na semana passada devido ao ambiente político hostil.

"Ele (Cameron) precisa se explicar", disse Miliband.

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Mais inflamado, Dennis Skinner, membro da ala mais à esquerda do trabalhismo, exigiu: "Quando o 'Dave Danado' vai fazer a coisa decente e renunciar?".