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Um dos pontos fortes do governo de Donald Trump foi a economia. Antes da chegada do novo coronavírus aos Estados Unidos em fevereiro deste ano, o país estava crescendo mais rapidamente do que no governo de Barack Obama, o índice de desemprego era o menor em décadas e a taxa de pobreza entre negros ficou abaixo dos 20% pela primeira vez desde 1959, quando o governo começou a medir esse dado.
Três políticas do governo Trump impulsionaram esses índices econômicos positivamente: redução de regulamentações; o corte de impostos sobre o lucro das empresas – o teto de 35% foi para 21% com Trump – que ajudou a atrair empresas que tinham se instalado no exterior de volta aos Estados Unidos; e aumento dos gastos de governo, especialmente em defesa – que, junto com o corte de impostos, também fez crescer a dívida pública do país a níveis recordes desde a Segunda Guerra.
Mas a pandemia de Covid-19 destruiu todos esses ganhos econômicos. E o futuro presidente dos EUA, ao que tudo indica, terá que lidar com mais um ciclo de restrições de circulação e fechamentos de comércios, que causaram uma queda de 32% do PIB no segundo trimestre de 2020, até que a população esteja vacinada contra o vírus.
O democrata Joe Biden deve assumir essa tarefa em 20 de janeiro. O tempo de Trump para provar que a eleição presidencial de 3 de novembro foi fraudada está se esgotando e ele não obteve avanços na esfera judicial – embora esteja empenhado também em levar a batalha para os legislativos estaduais de Pensilvânia, Michigan e Arizona.
Biden já afirmou que uma de suas principais preocupações ao assumir a Casa Branca será a recuperação econômica do país, junto com seu plano para combater a Covid-19. Ele prometeu criar milhões de empregos com bons salários incentivando a indústria americana e investindo em infraestrutura e energia limpa. Diminuir a desigualdade racial e aumentar o salário mínimo também são prioridades do democrata na economia.
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Para chegar nisso, o ex-vice-presidente apostará em políticas econômicas diferentes das de Donald Trump. Em vez de cortar impostos, promete aumentar a carga tributária para empresas e promover “reformas tributárias de bom senso que finalmente garantam que os americanos mais ricos paguem sua parte justa”. Em vez de reduzir as regulamentações, vai ampliá-las para conseguir alcançar suas ousadas metas ambientais de emissão zero de carbono até 2050.
Biden também tem um plano agressivo de gastos públicos em infraestrutura, energia e meio ambiente. Ele também quer fechar um novo acordo de auxílio emergencial expressivo com o Congresso.
Para colocar esses planos em andamento, Biden escolheu pessoas com inclinações políticas de centro-esquerda e progressistas. Segundo o Wall Street Journal, no geral, a equipe econômica que Biden montou, anunciada nesta semana, é a favor de um papel maior do governo federal no aumento de salários e empregos. Também são nomes que já passaram pelos corredores da Casa Branca e conhecidos no mercado financeiro.
A líder da equipe econômica será Janet Yellen, 74, que estará a frente do Departamento do Tesouro. Ela já foi presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) entre 2014 e 2018, atuou na formulação de políticas para mitigar os impactos da crise financeira de 2008 e no fim dos anos 1990 foi a principal conselheira econômica do então presidente Bill Clinton durante a crise financeira da Ásia. Em discursos, defendeu a necessidade de políticas econômicas que diminuam as desigualdades sociais e aumentem a participação das mulheres no mercado de trabalho.
Biden a escolheu para o cargo por três motivos: o compromisso de Yellen em diminuir o desemprego, a familiaridade com a política monetária e com o papel que o Fed pode desempenhar no estímulo à economia, e seu apoio a um imposto sobre o carbono. Se sua indicação for aprovada pelo Senado – e até o momento não há sinais de que o nome dela será rejeitado pela maioria republicana – ela será a primeira mulher a assumir como secretária do Tesouro dos EUA.
Yellen disse, em uma entrevista publicada em 28 de setembro, que a recuperação econômica dos Estados Unidos pós-pandemia será desigual se o Congresso não gastar mais para combater o desemprego e ajudar as pequenas empresas. “Há muito sofrimento por aí. A economia precisa de gastos”, afirmou.
Ao aceitar a indicação de Biden, Yellen disse nesta terça-feira (1.º) que, diante da crise econômica causada pela pandemia, “é essencial agirmos com urgência. A inação produzirá uma retração que se reforçará, causando ainda mais devastação”. Ela também afirmou que estímulos devem ser feitos para responder a “problemas estruturais profundos”, como a desigualdade, salários ruins e disparidades raciais e de gênero.
Biden também anunciou outros nomes importantes que vão compor sua equipe econômica. Cecilia Rouse vai chefiar o Conselho de Assessores Econômicos da Casa Branca, que avalia os custos e benefícios das propostas da administração – será a primeira mulher negra no cargo. Brian Deese liderará o Conselho Econômico Nacional, responsável por coordenar e formular políticas econômicas entre as agências federais.
Neera Tanden, chefe do instituto de centro-esquerda Center for American Progress e cuja carreira está bastante ligada a Hillary Clinton, foi a escolhida de Biden para chefiar o Escritório de Gestão e Orçamento (OMB, na sigla em inglês).
Esta indicação, que também depende da aprovação do Senado, pode ser travada pelos senadores republicanos, já que ela não poupa crítica públicas a republicanos e chegou a dizer, em 2017, que Clinton tinha perdido para Trump em 2016 porque os russos “causaram danos suficientes para afetar mais de 70 mil votos em 3 estados”. Ela também não é benquista entre a ala progressista dos democratas por suas ligações com Clinton, embora a senadora Elizabeth Warren tenha dito que vai apoiar a nomeação de Tanden.