A escritora judia italiana Edith Bruck, de 90 anos de idade, sobrevivente do campo de extermínio nazista de Auschwitz, rejeitou uma condecoração da cidade de Anzio, no centro da Itália, depois de saber que a mesma mantém a cidadania honorária do ditador fascista Benito Mussolini.
"Agradeço, mas não posso aceitar o Prêmio da Paz, onde ainda está ativa a nostalgia da época de um tempo mais vergonhoso, indelével para quem a viveu", escreveu Bruck em carta aberta ao prefeito de Anzio, Candido De Angelis.
Edith Bruck, nascida na Hungria mas com nacionalidade italiana, tinha recebido o Prêmio da Paz com o qual o município de Anzio comemora o desembarque das tropas aliadas, em janeiro de 1944, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
O prêmio visava reconhecer "sua alta contribuição e compromisso social" como sobrevivente e testemunha do Holocausto e sua disseminação entre as novas gerações, segundo o prefeito em um comunicado.
No entanto, a escritora decidiu rejeitar a premiação ao saber que em 2019 o consistório de Anzio se recusou a homenagear Adele Di Consiglio, uma judia perseguida naqueles anos e residente na cidade, mantendo ao mesmo tempo a distinção a Mussolini.
"Prezado prefeito, eu teria o maior prazer em regressar à vossa cidade para receber o Prêmio da Paz se não soubesse que uma colega minha, Adele Di Consiglio, uma mulher solteira e sobrevivente da barbárie nazifascista que destruiu a família dela e a minha, teve esse reconhecimento negado", escreve Bruck.
E acrescenta: "Por outro lado, foi revalidada a cidadania honorária de Mussolini, que ainda tem muitos seguidores no seu território e na própria Europa, que tem memória curta".
Por sua vez, o prefeito de Anzio lamentou sua decisão, a qual, segundo ele, despreza "toda a cidade", distinguida com a Medalha de Ouro do Mérito Civil pelo "exemplo admirável" da sua reconstrução física e social após os violentos combates que viveu na guerra.
O prefeito, segundo os meios de comunicação, alegou que Mussolini tem cidadania honorária desde 1924 e que nenhum dos seus antecessores a retirou, apesar de três serem comunistas, dois socialistas, um republicano e um democrata-cristão.
Edith Bruck, que dedicou parte de sua vida à divulgação de sua experiência nas escolas, foi condecorada com a Grã-Cruz do Mérito pelo presidente da Itália, Sergio Mattarella, e em fevereiro recebeu a visita do papa Francisco.