O governo espanhol anunciou segunda-feira que não pretende responder à ofensas do presidente Hugo Chávez ao rei Juan Carlos, para não entrar no "jogo" do venezuelano. Segundo o ministro do Interior espanhol, Alfredo Rubalcaba, é do interesse de Chávez manter uma "troca de acusações".
- Ele continua com essa coisa, porque evidentemente quer prosseguir com este jogo - disse ele. - Prefiro ficar com o que disse ele, de que a Venezuela quer ter boas relações com Espanha. O governo da Espanha quer que a Espanha se dê bem com a Venezuela, mas para isso deve pedir razoavelmente ao presidente da Venezuela que respeite nosso rei, nosso presidente e nossos ex-presidentes.
O ministro fez as declarações em resposta às insinuações do venezuelano, domingo, de que o monarca espanhol teria participado do golpe que tirou Chávez do poder por 47 horas em 2002. No dia anterior, Chávez chamara o ex-presidente espanhol José María Aznar de fascista durante a Reunião de Cúpula Ibero-Americana e, ao não permitir que o atual presidente José Luis Zapatero defende-se seu antecessor, provocou a reação de Juan Carlos, que disse ao venezuelano a frase que rodou o mundo: "por que não se cala?"
Mais tarde, Aznar advertiu, em Bogotá, para a "crescente ameaça de populismo na região latino-americana".
Aznar se recusou a falar sobre o incidente. Ele chegou domingo à capital colombiana e segunda-feira discursou no encerramento do Primeiro Encontro de Jovens Líderes da Colômbia.
Durante seu discurso, Aznar falou sobre "a importância de contar com instituições sólidas" e de fortalecer os partidos políticos "para enriquecer as democracias na região ibero-americana".
Falou ainda sobre a necessidade de contar com "bons programas de Governo para gerar ações bem-sucedidas frente a fórmulas que só levam o fracasso".
Em seu discurso, que durou 15 minutos, o ex-dirigente do Partido Popular (PP) acrescentou que "a Espanha não pode ser entendida sem a América".
- Os espanhóis não podem entender nem explicar a Espanha sem a América - disse.
O ex-presidente do Governo espanhol destacou ainda o papel das empresas espanholas "que apostaram na América Latina", assim como a importância das companhias latino-americanas que comercializam com a União Européia (UE) por meio da Espanha.
Chávez acusa os Estados Unidos e o governo Aznar de ter apoiado o golpe que o afastou do cargo brevemente em 2002. Na época, os embaixadores americano e espanhol em Caracas assistiram à cerimônia de posse de uma efêmera junta de governo civil-militar.
No domingo, jornais da Espanha deram grande destaque ao incidente . Em editorial, o jornal de centro-direira "El Mundo" disse que o rei espanhol colocou o venezualano "em seu lugar em nome de todos os espanhóis".
Indignação chega a Caracas
A polêmica em torno da reforma constitucional da Venezuela faz com que o governo do presidente Hugo Chávez apresente a cada dia novas baixas em sua rede de apoio. Durante prostestos em Caracas contra a reforma, manifestantes usaram placas e cartazes com a frase usada pelo rei espanhol - por que não te calas.
Assessores próximos, aliados importantes e pessoas de seu relacionamento íntimo estao na lista dos que passaram a fazer oposicao pública nas últimas semanas. A primeira grande baixa foi a do ex-ministro da Defesa Raúl Baduel. No fim de semana, foi a vez do cientista político Ricardo Combellas, um dos acadêmicos mais próximos do presidente e um dos elaboradores da Constituicao de 1999. Até a ex-mulher de Chávez e ex-primeira dama, Marisabel Rodríguez, se posicionou nos jornais contra a reforma.
- Estão destruindo uma Constituição que foi produto de uma discussao válida e legítima. A reforma só favorece e fortalece o presidente e não o povo - disse ela.
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