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Justiça

Espanha condena juiz ‘herói’ por abuso de poder

O juiz espanhol Baltasar Garzón chega à Suprema Corte, em Madri, onde foi condenado por determinar escutas telefônicas | Sergio Perez/Reuters
O juiz espanhol Baltasar Garzón chega à Suprema Corte, em Madri, onde foi condenado por determinar escutas telefônicas (Foto: Sergio Perez/Reuters)
Espanhóis protestam em Madri contra a condenação de Garzón |

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Espanhóis protestam em Madri contra a condenação de Garzón

O juiz espanhol Baltasar Garzón, 56 anos, foi condenado ontem pe­­la Suprema Corte de seu país e, as­­sim, impedido de exercer a profissão por 11 anos. Como a idade de aposentadoria é 70 anos, restarão a ele três anos após a suspensão.

Espécie de celebridade do Di­­reito Internacional, alçado à fama por perseguir ditadores, Garzón foi acusado de exceder seus poderes. Ironicamente, a corte espanhola afirmou na decisão que as ações dele "são encontradas apenas em regimes totalitários".

A condenação, decidida por sete juízes, foi unânime. Os ma­­gistrados afirmam que ele agiu arbitrariamente ao ordenar a gravação de conversas entre detentos e seus advogados.

Garzón aguarda o veredicto de outro julgamento, também pela acusação de abuso de poder – nesse caso, por iniciar um inquérito sobre as atrocidades cometidas durante a guerra civil espanhola. Os crimes estavam cobertos por uma lei de anistia de 1977.

Em 1998, num de seus casos mais famosos, o juiz acusou o ex-ditador chileno Augusto Pinochet (1915-2006) de crimes contra a humanidade.

A ação justificou-se pelo princípio de jurisdição universal – alguns crimes, por tamanha gravidade, seriam passíveis de ser julgados em qualquer lugar. Im­­buído dessa ferramenta, Garzón propôs ações em locais como Ru­­anda (palco de um genocídio) e Ti­­bete (onde há repressão chinesa).

O status de celebridade trouxe inimigos na Espanha, especialmente entre colegas incomodados com as táticas utilizadas em processos e entre políticos conservadores que afirmam que Garzón se interessa mais por fama do que por justiça.

Totalitarismo

A condenação de ontem refere-se à decisão em 2009 de autorizar as gravações em prisões. O caso en­­volvia a suspeita de propina en­­volvendo políticos do Partido Po­­pular, do atual premiê Mariano Rajoy. Gravar conversas costuma ser aceito apenas em casos ligados a terrorismo.

Daí a nota emitida pelos juízes que o condenaram, de que suas ações foram totalitárias – condição em que "tudo é considerado jogo justo para obter informações que interessam ao Estado".

Reagindo à condenação, a Co­­missão Internacional de Juris­­tas disse que a decisão do Su­­premo espanhol é "deplorável". "Aplicar uma sanção penal contra um juiz que está fazendo seu trabalho é uma clara negação da independência judicial."

Defesa

Magistrado vai recorrer de decisão

O juiz espanhol Baltasar Garzón afirmou ontem que pretende recorrer contra a condenação a 11 anos de impedimento do exercício profissional por ordenar escutas ilegais na investigação de um caso de corrupção.

"Recorrerei às vias legais correspondentes para combater esta sentença e exercerei todas as ações que forem pertinentes para tentar reduzir o prejuízo irreparável que os autores desta sentença cometeram", afirmou em um comunicado.

O juiz denunciou uma condenação "injusta e predeterminada" com o "objetivo de acabar com um juiz correto", comprometendo com isso "a independência dos juízes na Espanha".

"Tomei todas as medidas para garantir o direito de defesa e a investigação de crimes muito graves relacionados à corrupção para evitar a continuidade delitiva da lavagem de dinheiro dos chefes mafiosos que utilizavam os advogados", acrescentou.

O advogado de Garzón, Francisco Baena, disse que a condenação é "a morte de um profissional".

"Dizer a um juiz que não pode ser juiz é igual a morrer. Ele está completamente abatido", afirmou.

Baena recorrerá da decisão ao Tribunal Constitucional espanhol e declarou estar "otimista" em relação a um veredicto favorável a Garzón.

Interatividade

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