Alencar critica bate-boca entre rei e venezuelano
Brasília O vice-presidente José Alencar criticou ontem o bate-boca ocorrido no último sábado entre o rei Juan Carlos 1.º, da Espanha, e o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Citando um escritor espanhol, Alencar disse que é necessário ter humildade, mas não disse se essa mensagem era destinada ao rei ou a Chávez.
"Nós não podemos fazer juízo a uma distância dessas. Eu estava no hospital (onde foi retirar os pontos da cirurgia a que foi submetido para retirada de um tumor). Mas a verdade é que nós assistimos a uma coisa que representou um desentendimento entre um chefe de Estado e outro chefe de governo e de Estado. Isso não é bom", afirmou Alencar, após cerimônia no Palácio do Planalto.
Em seguida, o vice-presidente citou o escritor espanhol Miguel de Cervantes. "É preciso que haja humildade. Cervantes ensinou: a humildade é a mais importante das virtudes, tanto é que sem ela, não há virtude que o seja". Ao ser questionado se a mensagem seria para o presidente da Venezuela, Alencar disse que "isso é para quem quiser ouvir, porque provavelmente Cervantes nem sabia da existência de Chávez".
Ex-esposa é contra reforma constitucional
Caracas A ex-primeira-dama venezuelana Marisabel Rodríguez criticou a reforma constitucional promovida por seu ex-marido, o presidente Hugo Chávez, engrossando assim a lista de ex-aliados que se voltaram contra a proposta.
Primeiro foi o bloco parlamentar Podemos, depois um amigo íntimo de Chávez que havia sido seu ministro da Defesa. Agora foi a ex-esposa dele que atacou o projeto formalmente destinado a implantar o socialismo no país mas que a oposição diz servir para perpetuar o presidente no poder. "Você está colocando numa balança todo o peso para um poder presidencialista", disse Marisabel, de 42 anos.
Madri O governo da Espanha tentou ontem minimizar o bate-boca entre o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e o rei espanhol Juan Carlos. O ministro espanhol das Relações Exteriores, Miguel Angel Moratinos, rejeitou qualquer sanção diplomática contra Caracas e classificou o caso como "incidente diplomático".
Moratinos disse que a discussão não deve afetar as relações bilaterais entre os dois países. Um eventual afastamento, segundo ele, prejudicaria tanto a Venezuela quanto a Espanha. Desde que Chávez assumiu o poder, em 1999, empresas espanholas já investiram cerca de US$ 2,5 bilhões na Venezuela. Entre os principais investidores estão os bancos Santander e BBVA, a companhia de petróleo Repsol, a Telefónica e a seguradora Mapfre.
Oposição
A oposição elogiou a atitude do rei, mas pediu medidas duras por parte do governo socialista do premier José Luis Rodríguez Zapatero contra a Venezuela. Ángel Acebes, secretário-geral do oposicionista Partido Popular (PP), exigiu ontem que o governo chame seu embaixador em Caracas.
A pouco mais de três meses das eleições gerais, marcadas para março, a discussão entre Juan Carlos e Chávez parece ter aberto a campanha eleitoral espanhola. Praticamente empatados em pesquisas de opinião divulgadas ontem, o PP aproveitou o caso para criticar a política externa do premiers socialista, considerada "negligente" e "muito tolerante" com Chávez.
O Partido Socialista (PSOE) contra-atacou imediatamente, dizendo que Aznar reuniu-se 14 vezes com Chávez e, em um desses encontros chegou a dizer ao presidente venezuelano que "a Espanha não pode dar lições de democracia a ninguém".
O ex-primeiro-ministro José María Aznar, que foi chamado de "fascista" por Chávez e acabou sendo o pivô da discussão, está na Colômbia para uma série de conferências e não quis comentar o caso.
A polêmica envolvendo o ex-premier começou quando Chávez, em seu discurso na Cúpula Ibero-americana, em Santiago, no Chile, acusou Aznar de participação no fracassado golpe de estado contra ele, em abril de 2002. "É um fascista", disse Chávez. Zapatero defendeu o ex-premiê, exigiu "respeito", já que Aznar havia sido eleito pelos espanhóis.
Zapatero e Chávez começaram então uma dura discussão que mais parecia um monólogo de Chávez. Irritado, o rei deixou a pose de lado, apontou para Chávez e gritou: "Por que você não se cala?"
Se o governo espanhol tenta colocar panos quentes no assunto, para Chávez a briga parece estar começando. Ao desembarcar em Caracas no domingo à noite, Chávez disse que não ouviu quando o monarca mandou que calasse a boca.
Deixe sua opinião