O mistério poderá ser revelado 70 anos depois. A vala comum onde se crê estar enterrado o corpo de Federico García Lorca será aberta nas próximas semanas, segundo um porta-voz do governo da Andaluzia. Isso deve acontecer mesmo que não esteja claro que os restos do genial poeta espanhol poderão mesmo ser identificados, já que sua família se opõe a fazê-lo.A exumação de García Lorca poderá converter-se no gesto simbólico mais importante da Espanha para redimir-se perante as vítimas da Guerra Civil espanhola (1936-1939), que antecedeu a ditadura de Francisco Franco (1939-1975).
Além disso, se for confirmado que os restos mortais sejam mesmo de García Lorca, o que até hoje segue como incógnita, o evento poderá tornar-se um acontecimento midiático e histórico de primeira grandeza.
García Lorca é reconhecidamente um dos poetas mais importantes da Espanha no século 20, além de ser um ícone da cultura do país pelas trágicas circunstâncias que rodearam e ainda rodeiam sua morte. Figura importante da chamada "Geração de 27", ele foi fuzilado pelas tropas franquistas em 1936, em Granada, na região sul da Andaluzia.
Autor de obras célebres como "Poeta em Nova Iorque" e "Bodas de Sangue", García Lorca é só um dos 114 mil simpatizantes e combatentes republicanos que segundo contabilizou o juiz Baltasar Garzón em uma investigação foram relegados ao esquecimento pelo franquismo em valas comuns. Mas, sem dúvida, o poeta é o símbolo mais representativo de todos eles.
Francisco Espínola, um porta-voz do departamento de justiça do governo regional andaluz, disse que a tumba do poeta será aberta em questão de dias, provavelmente ainda este mês, ainda que pese o oposicionismo dos herdeiros dele. "O processo vai continuar", afirmou Espínola.
A família do poeta declarou, em nota encaminhada ao governo da Andaluzia, que "se reserva ao direito de identificar os restos mortais do escritor no caso de ser aberta a vala comum em Alfacar", nos arredores de Granada. Segundo historiadores, García Lorca foi enterrado com outras três pessoas.
Nas paragens que rodeiam o município espanhol, podem jazer milhares de vítimas do regime franquista. Por isso, os familiares do poeta que gerem seu legado literário manifestaram o desejo de que seus supostos restos mortais, que podem estar há mais de 70 anos no local, não sejam removidos. Também solicitaram que a vala de Alfacar se preserve como está, como uma homenagem às vítimas da Guerra Civil.
"Nunca solicitamos a busca dos restos mortais de García Lorca. Cremos que ele é universal por sua obra única e que, por isso, permanece vivo", assinalou a família na nota.
Mas o arrevesado caso judicial parece mais próximo que nunca de solucionar-se, após várias tentativas em vão. Em setembro passado, o governo andaluz aprovou um protocolo para proceder as exumações.
Francisco Espínola explicou que o objetivo não é identificar García Lorca, mas colaborar com as famílias que solicitaram a busca por corpos de seus entes queridos. "(O escritor) Pode estar ou não enterrado aqui. Não temos garantias", salientou Espínola.
A versão mais propagada pelos historiadores é a de que o poeta foi fuzilado e enterrado nos arredores de Alfacar com três pessoas: Francisco Galadí, Joaquín Arcollas e o toureiro Dióscoro Galindo. As famílias destes três teriam pedido a identificação de seus restos mortais. A remoção dos corpos se faz necessária para a retirada de amostras de DNA para posterior identificação.
Nas últimas semanas, vários geólogos do governo andaluz iniciaram os trabalhos de exploração do local para localizar os corpos.
Desde o fim dos anos 1990, a Associação para a Recuperação da Memória Histórica ajuda cidadãos espanhóis a buscar parentes vítimas da guerra civil e da ditadura. O presidente da entidade, Emilio Silva, disse que, até o momento, foram localizadas e identificadas 1.700 pessoas.
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