"Monarca sabia do golpe de Estado"
Santiago Hugo Chávez disse ontem, no Chile, que o rei da Espanha, Juan Carlos, aprovou o golpe de Estado contra seu governo em 2002. Antes de volta à Venezuela, Chávez qualificou a reação do espanhol como "exagerada" e questionou se o rei "sabia do golpe de Estado contra o governo democrático e legítimo da Venezuela". O presidente do país sul-americano lembrou que, entre os apoiadores do golpe que tirou o presidente do poder por 48 horas em 2002 quatro anos antes de ser reeleito democraticamente à Presidência estava o embaixador da Espanha.
"É muito difícil pensar que o embaixador espanhol estivesse entre os apoiadores do golpe sem a autorização de sua majestade", afirmou.
Vice-presidente
O vice-presidente da Venezuela, Jorge Rodríguez, chamou neste domingo de "vulgar e grosseira" a atitude. "Não pode vir ninguém com a grosseria e a vulgaridade de mandar o chefe do Estado venezuelano calar a boca, que não será calada por nada nem ninguém", disse Rodríguez à imprensa.
"Esqueçam-se de veleidades imperiais. O senhor Juan Carlos pode tratar assim seus súditos, se eles permitirem, mas os venezuelanos são um povo livre e soberano", acrescentou Rodríguez.
Fidel Castro defende aliado
Havana (Cuba) O presidente de Cuba, Fidel Castro, defendeu ontem a "crítica arrasadora" do colega venezuelano, Hugo Chávez, à Europa, mas sem mencionar diretamente a discussão entre ele e o rei Juan Carlos da Espanha.
"A crítica de Chávez à Europa foi arrasadora. À Europa que justamente tentou dar lições de retórica nesta Cúpula Ibero-americana", disse o comandante da Revolução Cubana em um novo artigo da série "reflexões" publicado hoje na imprensa local.
Orgulho
Fidel afirmou ainda que nas palavras dos presidentes da Nicarágua, Daniel Ortega, e da Bolívia, Evo Morales, "se escutaram as vozes de Sandino e das culturas milenares deste hemisfério". "Dedicar a próxima Cúpula à juventude latino-americana é uma mistura indigerível de cinismo e mentira para semear reflexos condicionados na mente dos povos", afirmou o dirigente cubano. Fidel disse que o guerrilheiro cubano-argentino Ernesto Che Guevara, que morreu há 40 anos, "sentiria orgulho com os pronunciamentos de vários líderes, revolucionários e valentes, com independência da pequena ou grande experiência política de qualquer um deles".
Madri A maioria dos espanhóis deu seu apoio ao rei Juan Carlos, que mandou o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, calar a boca, depois que o venezuelano classificou de "fascista" o ex-premiê da Espanha José María Aznar. Alguns espanhóis, no entanto, expressaram preocupação pelo fato de o rei estar se envolvendo demais na política.
A inesperada reação do monarca, no sábado, ocorreu devido às críticas de líderes latino-americanos de esquerda contra Aznar e empresas espanhola durante a Cúpula Ibero-Americana, realizada em Santiago, do Chile. O rei perdeu a paciência quando Chávez interrompeu repetidamente o primeiro-ministro espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, que pedia respeito a Aznar, porque foi eleito democraticamente.
"Por que não se cala?", gritou o rei a Chávez, com o dedo em riste. Depois, o monarca saiu momentaneamente do local. O Partido Socialista espanhol, em comunicado, disse que a reação foi "impecável", afirmando que foi um "gesto acordado" entre Zapatero e o rei Juan Carlos. O porta-voz parlamentar socialista Diego López Garrido defendeu também a resposta de ambos. Para ele, os dois "unidos, sem fissuras, demostraram uma vez mais como se defendem os interesses da Espanha e os espanhóis", afirmou.
Desrespeito
O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, respondeu hoje ao rei Juan Carlos da Espanha, afirmando que o monarca não poderia ter tal comportamento. "Exijo respeito, porque eu também sou um chefe de Estado e eleito democraticamente", ressaltou Chávez durante um ato acadêmico em uma universidade particular chilena.
"Ele (o rei) é tão chefe de Estado quanto eu, com a diferença de que fui eleito três vezes", sustentou. "Nenhum chefe de Estado pode mandar outro se calar. Disseram-me depois que tiveram de segurar o rei, porque ele queria se levantar de seu assento, mas eu não o vi", comentou. "São chefes de Estado do mesmo modo o índio Evo Morales e o rei Juan Carlos de Borbón", acrescentou.
"Estava dizendo a verdade na qual acredito, portanto eu não tenho nada a responder ao rei", concluiu Chávez, que afirmou ainda que reiterava tudo o que tinha dito sobre o ex-presidente do governo espanhol José María Aznar.
Repercussão
Vários meios de comunicação informaram que Aznar ligou para Zapatero e para o rei para agradecer a defesa. Depois, o Partido Popular disse que a reação de Zapatero foi "adequada", mas culpou o incidente pela política externa do governo.
"A desarticulação da política externa espanhola quebrou consensos e prejudicou o prestígio que a Espanha tinha conseguido com os governos anteriores ao do senhor Rodríguez Zapatero", disse o presidente do PP, Mariano Rajoy.
Em bares e fóruns de discussão na Internet, os espanhóis mostraram simpatia em relação às preocupações de Chávez sobre as empresas espanholas e o poder diplomático, mas disseram que foi inadequado fazer da Espanha o novo objetivo de sua retórica antiimperialista e antifascista. "O que o rei fez foi completamente justificado", disse Carlos García, que trabalha em um banco, acrescentando que não se considera partidário da família real nem de Aznar.
O partido Izquierda Unida classificou a reação como "excessiva". O porta-voz Willy Meyer disse que o rei se comportou como se estivesse nos séculos 15 e 16. "Não pode mandar um presidente (na Espanha) calar a boca, nem fora", afirmou. Em vários aspectos, o rei teve o apoio da imprensa espanhola. O jornal El País afirmou que o monarca Juan Carlos "esteve no seu papel", mas acrescentou que "a figura do rei não deveria estar por mais tempo em primeiro plano político", dado seu papel de moderação. O Periódico de Catalunya afirmou que a reação do monarca não foi a mais adequada, mas a atribuiu à incômida situação que provocaram as palavras de Chávez. Por seu lado, o jornal El Mundo definiu como "as cinco palavras que Chávez merecia há tempos que alguém lhe dissesse."
Troca de comando na Câmara arrisca travar propostas que limitam poder do STF
Big Brother religioso: relatório revela como a tecnologia é usada para reprimir cristãos
Cuba e México disparam de posição entre os países que mais perseguem cristãos no mundo
O problema do governo não é a comunicação ruim, mas a realidade que ele criou