Veja as medidas de segurança que passaram a ser adotadas nos aeroportos dos EUA| Foto:

Como objetivo estratégico, a derrota do terrorismo durante a guerra dos 10 anos era inalcançável por ser utópica.

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Isso dito, o Ocidente conseguiu reduzir a ameaça da Al-Qaeda desde o 11 de Setembro. O sucesso ame­­ricano é ainda maior: nenhum grande ataque ocorreu em seu solo desde então.

Há duas questões colocadas. A primeira, sobre o custo dessa vitória até agora. A segunda, sobre sua evidente fragilidade: basta um ataque bem-sucedido, e tentativas não faltaram nessa década, para toda a sensação de segurança se desfazer.

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"Não gosto de Guantánamo, nem de quase ficar pelado quando vou embarcar num avião", resume Patrick Kerisson, operador de mercado financeiro em Nova York.

A violação de direitos humanos na citada prisão americana em Cuba, a tortura, fora o prosaico fato de que não é possível entrar numa aeronave com uma lixa de unha são testemunhas do custo na visão ocidental-liberal (veja infográfico nesta página).

Seja como for, afirma Kerrisson, é inegável que a paranoia em Nova York está dissipada. Não somente lá: após os grandes atentados de Madri (2004, 191 mortos) e Londres (2005, 52 mortos), a Al-Qaeda perdeu eficácia no continente europeu.

Para moradores dos países comumente associado ao "outro lado", a questão é outra: o terror só fez aumentar em seus países no período.

"Não me venham falar em fim da guerra. Ela está aqui, todos os dias", afirma o diretor da Casa Teatro e Cinema de Bagdá, Ibra­­him Haroun.

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Ele não acha sustentável a redução da violência no país – que os americanos atribuem ao aumento temporário de tropas em 2007, mas muitos creditam em um acordo político com os xiitas e grupos pró-Irã. Com efeito, a estratégia não foi tão eficaz quando repetida no Afeganistão.

Faz coro a ele o jornalista Syed Mohammad, de Islamabad, que perdeu um irmão em um atentado, em Karachi. "Infeliz­­mente, foi aberta uma caixa de Pandora com essa guerra que agora os americanos declararam acabada."

Novos grupos

E outros lugares foram afetados, co­­mo os atentados na Rússia, na In­­­­donésia e na Índia deixaram claro.

Mas existe um ponto importante: todos esses ataques, assim como a insurreição no Iraque, contêm componentes regionais importantes que os afastam da Al-Qaeda co­­mo algo mais que uma marca, uma franquia.

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"Como um fenômeno global, a rede atingiu seu pico há alguns anos", diz Nigel Inkster, diretor de Ameaças Transnacionais e Risco Político do Instituto Inter­­nacional de Estudos Estratégicos, de Londres.

"A agenda de Bin Laden fracassou, como a Primavera Árabe deixou claro. Mas a ideologia jihadista segue inspirando jovens muçulmanos porque é capaz de unir-se a causas regionais diferentes, tirando proveito de locais em que o Estado está ausente. Isso é claro no Afeganistão, no Paquistão, no Iêmen e na Somália", diz Inkster.

"Então, acho que o jihadismo seguirá como uma força de desestabilização por algum tempo", completa.

A opinião é compartilhada pelo autor do melhor resumo até aqui dos 10 anos de conflito, o jornalista americano Peter Berger, que escreveu A Mais Longa Guerra. Para ele, a data foi o apogeu da operacionalidade da Al-Qaeda.

Tanto ele quanto Inkster concordam que a questão para o Ocidente não é a de quando haverá um novo atentado terrorista, porque ele sempre estará à espreita.

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Mas sim como ele será tratado: como um risco ocupacional de ser potência ou como uma verdadeira ameaça existencial que justifica toda a sorte de excessos e aventuras militares.