Cena do filme "World Trade Center", com Nicolas Cage| Foto: Divulgação

Os atentados de 11 de setembro foram pouco explorados por Hollywood, que preferiu se afastar do trauma e e se virar como nunca para o entretenimento, em vez de gerar a rica filmografia como a que se seguiu após a Segunda Guerra Mundial ou a Guerra do Vietnã.

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Em dez anos, apenas dois estúdios de Hollywood produziram filmes diretamente inspirados nos atentados mais mortíferos já cometidos em solo americano: o Universal, com "Voo 93" (2006), e o Paramount, com "World Trade Center", de Oliver Stone (2006).

No entanto, Hollywood reagiu - como é habitual - a este tema durante os meses que se seguiram ao ataque. "Havia um enorme interesse pelo 11 de setembro e suas consequências", afirmou à AFP Bonnie Curtis, que produziu para Steven Spielberg "O resgate do Soldado Ryan" e "A.I. - Inteligência Artificial", antes de se dedicar ao cinema independente.

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"Muita gente começou a trabalhar em um material (dramático) que nem sequer teria existido se não fosse pelo acontecimento em si", acrescentou. Assim, durante um tempo, "circularam muitos projetos sobre o 11 de setembro" de 2001.

Mas começaram a surgir muitas dúvidas sobre eles. "Tínhamos muitos questionamentos, como: 'É muito cedo para fazer um filme sobre o ocorrido?'; 'O público terá algum interesse em vê-lo?'", comentou Bonnie Curtis. A resposta chegou na estreia de "Voo 93" e "World Trade Center": ambos fracassaram nas bilheterias.

O primeiro arrecadou 74 milhões de dólares em todo o mundo, o segundo 161 milhões. São números medíocres para Hollywood.

"Para os diretores dos estúdios, isto foi um sinal de que era preciso reconsiderar o tema", observou Jason E. Squire, professor da Escola de Artes Cinematográficas da Califórnia do Sul (USD), em Los Angeles.

De acordo com Bonnie Curtis, ficou claro que o público não tinha vontade de ir ao cinema e ver aquilo. "E Hollywood é uma indústria: então após o entusiasmo inicial e alguns filmes sobre o tema, ninguém teve a aprovação para realizar este tipo de projetos". "O dia 11 de setembro foi traumático. Eu estava traumatizado, como a maioria de nós. Não queríamos voltar a vê-lo", explicou à AFP Don Hahn, produtor dos estúdios Disney. "Preferimos nos divertir com filmes que nos fizessem esquecer de tudo aquilo".

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"Talvez por isso estamos vendo tantos filmes de super-heróis, tantos Capitão América, Homem de Ferro, porque estes personagens podem derrotar os homens maus", sorri Hahn, que produziu "O Rei Leão" e atualmente trabalha em "Frankenweenie", de Tim Burton.

Para Squire, não há nenhuma dúvida disso. "O dia 11 de setembro pôs em evidência a importância do entretenimento na sociedade como meio de evasão".

No entanto, Richard Walter, roteirista e professor da Universidade da Califórnia, em Los Angeles (UCLA), discorda desta visão: "Dizer que os filmes hollywoodianos permitem escapar é como dizer que o presidente Barack Obama é democrata. Não tem nada de novo".

Segundo Walter, o mundo do cinema foi tão afetado pelos atentados quanto o resto do mundo, mas "Hollywood está fazendo o que sempre fez e não mudou em nada a forma como faz filmes".

Bonnie Curtis assinalou, por sua vez, um maior apetite após o 11 de setembro pelos filmes leves. "Houve um grupo de cineastas em Hollywood que pensou que a única coisa que o público queria era fugir na fantasia, nos efeitos especiais e nos super-heróis", disse.

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Isto não impediu - acrescentou - que "alguns cineastas quisessem se aprofundar na tragédia e mostrar os efeitos que ela teve em nosso país e em nosso planeta", como ilustra a quantidade de filmes inspirados nas guerras do Iraque e Afeganistão, assim como "Guerra ao Terror", de Kathryn Bigelow, que ganhou o Oscar de Melhor Filme em 2010.

Don Hahn quer acreditar, por sua vez, que os atentados levaram Hollywood a ser menos caricatural e mais aberto. "Uma das coisas negativas do 11 de setembro é que muitos de nós voltamos mais desconfiados e muito zelosos de nossa cultura. Espero que em dez anos tenhamos nos tornado mais tolerantes".