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Dez anos depois dos ataques com aviões nos Estados Unidos, os iraquianos estão imersos na violência de uma guerra iniciada sobre uma premissa frágil e na incerteza se rumam para a democracia ou para uma ditadura.

Embora a matança sectária que levou o Iraque à iminência de uma guerra civil tenha se passado há anos, a violência gerada pela invasão liderada pelos EUA em 2003 que derrubou Saddam Hussein continua a cobrar um alto preço no país que tenta se reconstruir.

Até hoje alguns iraquianos acreditam que a linha desenhada pelo governo Bush entre o 11 de setembro e o Iraque e a teoria desacreditada de que Saddam tinha armas de destruição em massa ocultavam um desejo mais obscuro dos EUA por poder no Oriente Médio.

"Por favor, não decepcione o povo e diga que o que aconteceu no Iraque foi em razão do 11 de setembro. O plano da América de ocupar o Iraque é antigo", disse Ahmed Raheem, de 40 anos, proprietário de uma loja de produtos elétricos em Bagdá. "O que aconteceu no 11 de setembro foi apenas uma desculpa para implementar esse plano."

Embora a invasão no Afeganistão tenha marcado a primeira investida de Washington em retaliação pelos ataques contra as torres gêmeas em Nova York e no Pentágono, o Iraque tornou-se o campo de batalha principal para a "guerra ao terror" do então presidente George W. Bush. Militantes islâmicos viajaram aos milhares para combater as tropas dos EUA.

Mais de oito anos depois de os soldados norte-americanos terem derrubado a estátua de Saddam Hussein na praça Firdous em Bagdá - o acontecimento considerado o passo número um na passagem da ditadura à democracia -, as mortes da guerra continuam a subir, enquanto a polícia e o Exército iraquianos têm dificuldade para conter uma violenta insurgência islâmica.

Os EUA perderam mais de 4,4 mil soldados no Iraque. Cinquenta e seis dessas mortes ocorreram depois da declaração de fim dos combates feita pelo presidente Barack Obama no dia 31 de agosto de 2010, data considerada por alguns norte-americanos como o fim da guerra.

"Uma grande mentira"

"De que democracia eles falam?" Raheen, que perdeu o emprego numa fabricante de armas do governo da era-Saddam depois da invasão, perguntou enfurecido ao tomar um chá em sua loja. "O que se diz sobre democracia é uma grande mentira."

Cansados da guerra, os iraquianos parecem ansiosos em deixar os oito anos de violência para trás. Os protestos inspirados pelos levantes no mundo árabe não tinham como objetivo depor os políticos, mas para melhorar a eletricidade e outros serviços à população.

A violência aos poucos diminui. Do banho de sangue sectário que matou dezenas de milhares no auge da guerra em 2006-2007, os ataques dos insurgentes sunitas e das milícias xiitas caíram a uma média de cerca de 14 por dia no país.

A vida noturna e o trânsito voltaram às ruas de Bagdá, ainda dominadas por grandes paredes de concreto destinadas a proteger contra ataques suicidas e carros-bomba. Com o som das explosões diárias, no entanto, os iraquianos seguem adiante preocupados.

"Nada mudou no Iraque com a exceção do medo. Agora ele é maior do que antes. Saio de casa e não sei se voltarei ou não", disse Tony Mukhlis, de 45 anos, um operário de Bagdá.

"A democracia dos EUA no Iraque é a democracia da morte nas ruas."

Se os Estados Unidos obtiveram simpatia em 2001 enquanto o vídeo das torres gêmeas caindo aparecia nas telas de TV, foi a imagem da violência no Iraque e das fotos chocantes do abuso na prisão de Abu Ghraib que manchou a imagem dos EUA no mundo.

Para alguns iraquianos, a guerra que matou mais de 100 mil pessoas criou um campo de batalha para extremistas que não existia antes.

"Se há alguém responsável pelo dano no Iraque, ele é Bush. Eu juro por Deus, eu o matarei com as minhas próprias mãos se eu o pegar, mesmo que eles matem minha família e meus filhos," disse Mukhlis. "Ele próprio disse mais de uma vez que iria ao Iraque para proteger os norte-americanos e transformar o Iraque num campo de batalha contra os grupos radicais."

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