Nova York - Pouco depois do 11 de Setembro, os jornalistas Kevin Flynn e Jim Dwyer pensaram em uma reportagem que narrasse os eventos dentro do World Trade Center, partindo de e-mails, telefonemas e mensagens de celular.
O material que levantaram era tão extenso e complexo que mesmo as seis páginas inteiras que o New York Times, o jornal onde trabalham, deu ao assunto não foram suficientes.
Escreveram então o livro 102 Minutos (Zahar), uma obra essencial para entender os atentados contra os Estados Unidos e um trabalho de jornalismo impressionante, na pesquisa que envolveu e da organização que exigiu.
A obra foi lançada em 2005 no Brasil inclusive e acaba de ganhar uma nova edição nos EUA, com pequenas atualizações e um novo posfácio.
Na última terça-feira, os autores conversaram com a reportagem da Gazeta do Povo em uma sala no quarto andar do prédio do New York Times, na Oitava Avenida, em meio ao silêncio notável da redação.
Para os escritores, a perspectiva que ganharam com o tempo dez anos se passaram não alterou o modo como veem os eventos daquele dia. Mas eles conseguem ser bastante objetivos e críticos sobre os significados que o 11 de Setembro ganhou com o tempo.
Jim Dwyer cita um artigo do jornal para comentar que a Al-Qaeda enfrenta hoje vários problemas práticos (financeiros inclusive) e que não existe "uma força" capaz de reerguer a rede terrorista.
Para ele, Ayman al-Zawahiri, que assumiu a liderança da Al-Qaeda no lugar de Osama bin Laden, é um "homem marcado" e ele diz isso com um movimento de cabeça que dispensa o médico árabe da lista de preocupações. E uma delas se refere ao medo de que a História se repita.
"Eu acho que vai acontecer de novo", diz Dwyer, sobre a possibilidade de novos atentados terroristas nos EUA. A afirmação é fria e direta, não há nada de emocional na observação.
"As forças que criaram aquele ódio [do 11 de Setembro] ainda existem. Você pode minimizá-las, mas não pará-las", argumenta Kevin Flynn, o que reforça a tese de Dwyer. Ele diz "haver um motivo" para que o prédio que está sendo construído no Marco Zero (que deve voltar a ser chamado de World Trade Center, a pedido do prefeito Michael Bloomberg) tenha disponibilizado apenas os primeiros 60 andares, de um total de 104, para alugar. Sobre os pisos acima, ainda não foi definido o que fazer.
Flynn diz que as pessoas ainda lembram do 11 de Setembro de maneira "visceral", mas isso deve mudar com o passar do tempo. "Quando eu era criança, falava-se muito sobre a guerra nuclear e hoje ninguém dá a mínima para isso", diz. O mesmo deve acontecer com o 11 de Setembro daqui a 20, ou 30 anos.
Dwyer conta que chegou a pensar em fazer algo especial para marcar a efeméride deste ano. Conversou com a mulher e se perguntou se não deveriam pensar em algo para a filha, hoje adolescente, que estudava em uma escola em frente ao WTC. "Fui falar com minha filha e ela não quer saber do 11 de Setembro", diz.
Flynn não vê motivos para engajar os filhos em nenhum tipo de memorial. Ele estava dirigindo quando os ataques ocorreram e, quando a mulher telefonou, deu orientações que se aplicavam a uma situação de tornado. "Eu não sabia o que fazer. Ninguém sabia, na verdade", diz.
Agora, quando os atentados terroristas completam dez anos, Dwyer e Flynn concordam que é dada uma chance de "fechamento", de "conclusão histórica".
"Essa parte da nossa história chegou ao fim e há um novo episódio a ser vivido", diz Dwyer. "É um dia muito importante para nós, mas existem várias outras calamidades ocorridas depois de 2001 e nem todas estão relacionadas aos EUA. Eu acho que multiplicamos alguns dos horrores que ocorreram no 11 de Setembro."
País reforça segurança
O Departamento de Defesa (Pentágono) dos Estados Unidos elevou ontem o nível de segurança nas bases militares norte-americanas por causa da aproximação do décimo aniversário dos atentados de 11 de Setembro.
Segundo a Casa Branca, não há até agora nenhuma ameaça de ação extremista ligada aos 10 anos dos atentados que seja digna de crédito, mas os organismos de segurança continuarão atentos nos dias que antecedem o aniversário dos ataques e também depois.
Na terça-feira, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, convocou para uma reunião com alto escalão de sua equipe de segurança interna para averiguar se todas as precauções necessárias estão sendo tomadas.