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Lee Ielpi é um bombeiro aposentado que, no 11 de Setembro, perdeu o filho que, assim como pai, trabalhava para o FDNY, o Departamento de Bombeiros de Nova York. Jonathan Ielpi era casado e pai de dois meninos. Morreu em meio aos destroços das Torres Gêmeas junto de outros 342 bombeiros, 60 policiais e 3 socorristas. Lee conta uma parte de sua história no documentário Rising, do Discovery Channel, lembrando como o filho tinha o hábito de ligar para ele diariamente, às vezes mais de uma vez em um mesmo dia. "E aí, pai?", ele dizia, sem nenhum assunto específico para tratar que não fosse dar um alô para o seu velho. "Você não faz ideia de como sinto falta desses telefonemas", diz Lee. A forma que encontrou para lidar com a ausência súbita do filho foi criar uma ONG que orienta os visitantes do Marco Zero, explicando e contextualizando o 11 de Setembro, reunindo documentos como fotos das vítimas e mensagens de familiares. Parte do material compilado pelo Tribute WTC Visitor Center aparece um livro 9/11: The World Speaks (Lyon Press), organizado por Lee. O objetivo dele com a obra é "inspirar gerações futuras para trabalhar em nome da paz". Lee Ielpi conversou com a Gazeta do Povo por telefone, de Nova York.

O senhor tentou lidar com a tragédia de várias formas. Esses trabalhos de fato deram força para aceitar o imponderável?

Com certeza. Perder um filho ou alguém que você ama de uma maneira trágica como o 11 de Setembro poderia gerar uma tristeza paralisante. Mas ódio só gera mais ódio. O Tribute Center dá voz às pessoas que precisam ser ouvidas. Queremos que as pessoas saiam do local [o Marco Zero] com uma atitude positiva. Mais de 2,3 milhões de pessoas visitaram o Marco Zero, vindas de 147 países. Elas deixaram 230 mil cartões com mensagens que inspiraram o livro [9/11: The World Speaks]. A mesma voz se repete várias e várias vezes: precisamos achar um modo de conviver apesar de nossas diferenças, precisamos viver em tolerância, acabar com o terrorismo, educar e esclarecer. 9/11: The World Speaks é um livro positivo que reflete como o 11 de Setembro afetou as pessoas em outros países.

Posso perguntar como o 11 de Setembro o afetou?

Ah, meu Deus... Você tem filhos?

Sim.

Deus o livre disso, mas tente imaginar como você se sentiria se o seu filho fosse tirado de você de uma maneira horrível.

É impossível imaginar...

Você tem de tentar entender o que aconteceu. E então decidir o que fazer com isso. Você tenta usar o ocorrido de um jeito positivo, honrar a memória do seu filho. Não há como explicar como tem sido lidar com isso.

Sobreviventes do 11 de Setembro ou pessoas que perderam entes queridos nele dizem que não é possível superar a tragédia. Ela é algo com que você terá de lidar sempre...

Você nunca supera. O interessante a respeito do 11 de Setembro, sobretudo aqui [em Nova York], é que você não consegue deixá-lo para trás. Aqui, todos os dias, nos últimos dez anos, se você assiste ao noticiário, lê os jornais, ouve o rádio, você vai ouvir algo a respeito do 11 de Setembro, seja uma notícia positiva ou negativa. Qual é o telefone que você disca aqui, na América, quando precisa de ajuda? 911. [É o equivalente ao 190 do Brasil e faz uma referência direta ao modo como os americanos se referem à tragédia: 9/11.].Não podemos esquecer, temos de educar e esclarecer as pessoas sobre por que o 11 de Setembro aconteceu. Odeio dizer que a História tem se repetido. Mas não podemos ter medo.

Ficou mais fácil assimilar a tragédia depois de dez anos?

A única coisa que penso depois de dez anos é que a sociedade e a mídia internacional transformaram os dez anos em um grande evento, mas, na realidade, para mim e para várias famílias – e posso falar por muitas –, significa que não pude abraçar meu filho nesses dez anos. Mandamos muitos homens e mulheres para lutar guerras, mas o que fizemos de positivo? De novo, volto a falar sobre a importância da educação. Não vejo meu filho há dez anos, mas vou continuar acreditando que podemos – e precisamos – tornar o mundo melhor.

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