Tolerância
Estados Unidos incluem estrangeiros, diz cientista
"O mundo quebrou o estigma e está consciente de que existem diferenças, de que nem todos os muçulmanos são radicais", diz o cientista político Heni Ozi Cukier, que trabalho na ONU.
Junto com essa compreensão, segundo Cukier, "o mundo demanda que os muçulmanos avaliem aspectos culturais e procurem apaziguar pontos de tensão com o Ocidente".
Bush filho pode ter alimentado a imagem do americano intolerante e beligerante. No entanto, a realidade do país é diferente. "Nos EUA, a islamofobia é mais retórica do que prática", diz o cientista político. Para ele, a Europa é mais violenta com os muçulmanos. "Se você nasce europeu em uma família islâmica, será sempre muçulmano. Se nascer nos EUA, você é americano, pouco importa de onde veio ou qual a sua crença religiosa. Os EUA têm um processo institucionalizado de receber, assimilar e incluir grupos", compara Cukier.
Nessa lógica, os americanos estão entre as nações que melhor entendem o que se passa no globo. As sociedades que recebem imigrantes, sejam eles muçulmanos ou não, experimenta mudanças constantes.
O professor Paulo Daniel Farah, da Universidade de São Paulo (USP), cita o antropólogo norte-americano Edward Hall, cujo argumento defendia que o respeito a culturas estranhas era uma forma eficiente de autoconhecimento. Se assim for, o medo do Islã é também um medo de conhecer a si mesmo.
"É fundamental conhecer o islamismo e respeitá-lo"
Respondendo a perguntas por e-mail à Gazeta do Povo, Paulo Daniel Farah, professor de Língua, Literatura, História e Cultura Árabe e Islâmica na Universidade de São Paulo (USP), fala sobre o Islã e as reações causadas pelo 11 de Setembro. Autor do livro O Islã, parte da série Folha Explica (Publifolha), Farah argumenta que os países que recebem imigrantes muçulmanos precisam reconhecer o caráter multicultural de suas sociedades.
No 11 de Setembro, a noção de que religiosos radicais eram capazes de se suicidar levando consigo milhares de pessoas inocentes tudo em nome da fé acabou criando uma aversão generalizada aos muçulmanos.
A islamofobia é um sentimento cego e ignorante, uma reação aos absurdos cometidos por um grupo de terroristas que representam um porcentual ridículo do total de seguidores do Islã (são mais de 1,5 bilhão no mundo todo).
"Na realidade, o islamismo é extremamente diverso e nada tem de monocromático. Reúne pessoas de diferentes origens étnicas, culturais e sociais; são árabes, iranianos, afegãos, turcos, chineses, indonésios, africanos, europeus e americanos", diz o professor Paulo Daniel Farah, autor do livro O Islã (Publifolha), em entrevista à Gazeta do Povo (confira a íntegra nesta página).
Embalada pelo governo de George W. Bush, a mídia internacional logo cunhou a expressão "terrorismo islâmico". O professor de Filosofia Jamil Ibrahim Iskandar considera as aspas da frase anterior um dos maiores equívocos do mundo pós-11 de Setembro, uma "tragédia da mídia americana", para usar suas palavras.
"É um erro epistemológico sem precedentes", diz, argumentando que a mídia acabou desconstruindo a palavra Islã, enquanto países islâmicos, na realidade, não pactuam com os terroristas.
O bem contra o mal
De início, os EUA adotaram o discurso da luta do bem contra o mal e o mal era personificado pelos seguidores de Alá. Porém, não demoraram a se corrigir. Eles perceberam que a islamofobia criaria um problema e tentaram, depois, explicar e separar os radicais dos não radicais", explica o cientista político Heni Ozi Cukier, que trabalhou no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU).
O professor de Relações Exteriores Robert Jervis, da Universidade Columbia, diz que a tomada de consciência dos EUA em relação ao Islã foi uma das atitudes corretas do país depois dos atentados de 2001. "Nós acertamos ao melhorar a segurança interna e a inteligência, criando uma cooperação maior entre o FBI e a CIA, ao trabalhar com outros países no contraterrorismo e ao destacar que o Islã não é nosso inimigo", diz Jervis.
Uma pesquisa do Pew Research Center, divulgada semana passada nos EUA, indica que quase metade dos 2,75 milhões de muçulmanos que vivem em território norte-americano sofrem algum tipo de discriminação, mas, apesar disso, dizem estar satisfeitos com a vida que levam.
Embora a islamofobia tenha um lado abominável, Heni Ozi Cukier afirma que ela acabou expondo um problema até então pouco difundido. "Ela trouxe à tona a realidade de alguns segmentos [radicais] da sociedade muçulmana", diz. A cultura muçulmana não pactua com a radicalização, mas, segundo Cukier, não seria correto negar que existem grupos violentos e fanáticos.
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