Palavras
Na missa que rezou ontem, o papa Francisco definiu João XXIII como "o papa da docilidade ao Espírito Santo" e João Paulo II, como "o papa da família".
Comentário
Tudo correu dentro dos conformes
O papa Francisco surpreendeu ontem por fazer algo incomum para ele: seguir o protocolo. O pontífice entrou em recolhimento, quase sério. Talvez o único gesto diferente durante toda a cerimônia foi o de tocar uma imagem da Virgem Maria, colocada perto do altar, antes de começar a missa. Na homilia, seguiu estritamente o texto, sem fazer as costumeiras improvisações.
Esse comportamento não passou desapercebido pelos jornais italianos e, como consequência, surgiram várias especulações. O papa estaria preocupado com as informações dadas pelo primeiro-ministro ucraniano, Arseni Yatseniuk em seu encontro com ele na última sexta-feira? Ou estaria receoso com a segurança por causa da enorme quantidade de peregrinos prevista para a canonização?
Seja como for, no final da cerimônia, Francisco já era o de sempre. Passeio em papamóvel pela Via della Conciliazione, bem perto dos fiéis, com o inusitado encontro com o prefeito de Roma, Ignazio Marino, e seu convite para subir ao veículo. O povo gosta.
Denise Drechsel, enviada especial a Roma
O papa Francisco canonizou ontem, em cerimônia solene na Praça de São Pedro, dois de seus predecessores eleitos no século 20, João XXIII e João Paulo II. Em homilia curta e sem improvisações, o papa aproveitou para dar um recado a todos os cristãos: é preciso coragem para enfrentar os desafios do mundo de hoje.
"João XXIII e João Paulo II conheceram as tragédias do século 20, mas não foram vencidos por elas", disse ao público de cerca de 800 mil pessoas. "Foram corajosos." Para o papa, os dois colaboraram para restaurar a "fisionomia original" da Igreja. No caso de João XXIII, principalmente pelo fato de ter sido fiel a uma inspiração divina e convocado o Concílio Vaticano II; "gosto de pensar nele como o papa da docilidade ao Espírito Santo".
Já, para João Paulo II, a alcunha sugerida por Francisco foi a de ser "o papa da família", pela defesa em vida a essa primeira célula da sociedade. "Ele mesmo me disse que queria ser lembrado como o papa da família e eu gosto de sublinhar isso", afirmou Francisco.
As menções ao Concílio Vaticano II e à família não são por acaso. "É o papa unindo de novo os extremos mostrando que os avanços esperados pelo Concílio não mudam a doutrina de sempre da Igreja em questões fundamentais, como a moral familiar, e é preciso ter coragem para unir pontos aparentemente contraditórios", considerou o vaticanista John Allen.
Inédito
Com a presença do papa emérito Bento XVI, as canonizações de ontem representaram um conjunto de circunstâncias jamais visto na história da Igreja Católica: dois papas celebrando a canonização de dois outros papas. Por isso, o evento ficou conhecido na imprensa italiana como "o dia dos quatro papas". Tal união particular de "papas" dificilmente será repetida.
A aparição de Bento XVI também era esperada e causou emoção entre alguns cardeais e bispos que beijaram suas mãos ao encontrá-lo. Desde a renúncia, em 28 de fevereiro de 2013, o papa emérito vive recluso na residência Mater Ecclesiae, um mosteiro dentro do Vaticano. Ao chegar, o papa Francisco fez questão de abraçá-lo antes e depois da missa.
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