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Inscrição de Chávez pintada sobre o cartaz de Capriles | Rodrigo Arangua/AFP
Inscrição de Chávez pintada sobre o cartaz de Capriles| Foto: Rodrigo Arangua/AFP

Entrevista

"Chávez e Henrique Capriles têm desafios muito diferentes"

Túlio Hernández, sociólogo e colunista do jornal El Nacional

O sociólogo Túlio Hernández é mais conhecido por suas colunas publicadas no diário El Nacional do que pelo trabalho de anos na Universidade Central da Venezuela. Sem esconder sua preferência pelo candidato da oposição, Henrique Capriles, ele não abre mão de analisar o que seria um novo governo do presidente Hugo Chávez. Hernández conversou com a Gazeta do Povo em Caracas.

Depois de mais de uma década de governo Chávez, a Venezuela sofreu mudanças profundas. O que esperar de um governo Capriles?

A principal tarefa de Capriles será a reforma do nível da democracia venezuelana, que se extraviou bem antes de Chávez ganhar pela primeira vez a eleição. Em segundo plano, é necessário imediatamente reduzir a criminalidade, a insegurança, principal problema social do país hoje. Também não menos importante será a reconciliação nacional; não se pode viver num país partido como está hoje, em que não se pode sentar à mesa com adversários políticos. Outro compromisso é a reinstitucionalização da sociedade venezuelana, com a divisão clara dos poderes, autonomia e independência do Poder Judiciário, das Forças Armadas, do Ministério Público. Na economia há um enorme trabalho a ser feito para atrair novos investimentos e tornar a Venezuela menos dependente do petróleo. O país precisa produzir maior variedade de produtos e reduzir as importações.

E com Chávez por mais seis anos, tudo ficará como está ou há outros desafios?

Um novo governo Chávez tende a avançar na implantação do modelo socialista, que na realidade é um capitalismo de Estado, como a China. A Venezuela hoje é uma economia capitalista, tem uma sociedade consumista, mas com forte manipulação do Estado. Esse modelo enfrenta resistência de parte da população. Chávez terá de resolver o problema da insegurança, que vem crescendo nos últimos anos. Outro problema é a inflação, que hoje está muito acima da registrada em países do Mercosul, como o Brasil e mesmo a Argentina. No plano internacional, o desafio é consolidar um bloco contra os EUA e a liderança regional. Um novo governo Chávez buscará a hegemonia estatal nas comunicações.

Quando as urnas de votação forem abertas neste domingo, os venezuelanos decidirão o futuro do país entre dois modelos bem diferentes. De um lado, o projeto de aprofundamento do chamado socialismo bolivariano, com maior presença do Estado em todos os setores da sociedade e incremento das organizações populares. De outro, uma proposta de estímulo à iniciativa privada e à independência dos poderes.

Pontos em comum praticamente não existem nas propostas do candidato à re­­eleição, Hugo Chávez, e do­­ líder opositor Henrique Capriles, embora o governo Chávez não tenha eliminado o capitalismo.

"O que Chávez está tentando consolidar é um sistema de capitalismo de Estado, nos moldes da China", diz o sociólogo Túlio Hernández, professor da Universidade Central da Venezuela (UCV) e colunista do jornal El Nacional.

Independentemente de quem vença, os desafios do próximo presidente não são poucos. Contra Chávez há uma grande insatisfação da classe média, de setores empresariais que não gozam dos agrados do governo, de pessoas que clamam por maior liberdade de expressão.

Com Capriles, candidato que pela primeira vez conseguiu reunir a grande maioria da oposição, há a resistência dos segmentos que se aliaram ao governo, apoiam o projeto socialista, tiveram ganhos com os programas sociais de transferência de renda e temem um governo que privilegie os setores corporativos.

"O próximo presidente de­­ve governar para todos­­ os ve­­nezuelanos, sem sectarismo­­ nem exclusões. Do­­ contrá­­rio­­­­ não terá um piso de go­­verna­­bilidade e não con­­se­­guirá mi­­nimizar os protestos e a vio­­lência social", diz a cientis­­ta politica Ma­­ría Te­­resa Romero, professo­­ra da­­ Es­­cola de Estudos Inter­­na­­cio­­nais da UCV.

Sem previsões

Ao contrário das disputas­­ anteriores, a vantagem de Chávez foi sendo reduzida ao longo da campanha, chegando à reta final em situação imprevisível. O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proibiu a divulgação de­­ pesquisas eleitorais desde o dia 1.º. Os últimos levantamentos do Datanálisis, um instituto que faz pesquisas para empresas e diversas instituições, mostrou queda nas intenções de voto para Chávez, mas ele ainda ganharia as eleições com­­ vantagem entre 8,6 e 11,8 pontos porcentuais.

O crescimento do apoio à oposição, que começou a se inserir nas classes mais pobres, reduto do chavismo,­­ acirrou a campanha. Alimentada por uma mídia provocativa, tanto os veículos públicos quanto os meios de comunicação privados, a disputa entrou num clima de guerra, desper­­tando o temor de golpes e violência.

A cisma de que quem perder não aceitará o resultado foi reforçada nos últimos dias pelas declarações dos dois rivais. Chávez acusa Capriles de querer desestabilizar o pa­ís e ter planos para não admitir a derrota. Na oposição há quem afirme que os chavistas não aceitarão deixar o poder e tentarão levar o país a uma guerra civil.

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